Exame Logo

Acordo entre UE e Mercosul leva pânico a produtores de carne franceses

Acordo de livre comércio entre os blocos é negociado há mais de 20 anos e está próximo de uma finalização

Produtores franceses alegam que frigoríficos brasileiros não atendem normas sanitárias ideais e, por isso, conseguem vender mais barato (Reprodução/Getty Images/Getty Images)
A

AFP

Publicado em 23 de maio de 2019 às 16h08.

Uma onda de pânico se alastra entre produtores de carne franceses após a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmström, afirmar que a União Europeia e o Mercosul se aproximam de um acordo de livre-comércio.

"Estamos nos aproximando", disse Malmström nesta quarta-feira sobre este acordo com o bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O tratado é negociado há mais de 20 anos e sua última rodada de diálogos em março passado foi, para ela, "um sucesso".

Veja também

O principal sindicato agrícola francês, a Federação Nacional dos Sindicatos Exploradores Agrícolas (FNSEA), reagiu imediatamente em um comunicado, no qual alertou sobre "as consequências catastróficas que este acordo teria na agricultura europeia e francesa".

"Brasil e Argentina, onde os modelos de produção estão sujeitos a normas ambientais, sociais e fitossanitárias muito inferiores às vigentes na França, se beneficiam de custos de produção altamente competitivos", afirma a FNSEA.

Para esta federação, os produtores franceses, que já têm dificuldades devido a uma profunda crise no setor "não sobreviverão durante muito tempo diante de importações maciças de açúcar, carne bovina, de frango, ou milho desses países".

Malmström não descartou que as atuais discussões passem do nível dos negociadores ao político em julho. "É possível", afirmou. Contudo, moderou seu "otimismo" ao lembrar que "há quase cinco anos disse que estávamos prestes a alcançá-lo".

"Produto sensível"

Até agora, um dos maiores obstáculos para a assinatura foi a abertura do mercado europeu à carne do bloco sul-americano, sobretudo na França.

A Federação de Produtores Bovinos (FNB), que representa 82 mil pecuaristas franceses, está muito preocupada porque o acordo em discussão prevê que os quatro países do Mercosul exportem 99 mil toneladas de carne bovina à Europa anualmente sem tarifas.

Esse volume se somaria às 270 mil toneladas de carne bovina que os países já podem exportar à Europa, indica a Federação.

Sua preocupação também vem do fato de acreditarem que as normas sanitárias nos países do Mercosul não são tão exigentes quanto na Europa. Eles denunciam que os produtores sul-americanos recorrer à utilização de hormônios de crescimento, antibióticos e pesticidas proibidos na UE.

"Queremos alertar os futuros deputados europeus (...) que sob nenhum pretexto este acordo deve ser aceitado", pediu Bruno Dufayet, presidente da FNB, em uma entrevista coletiva em Paris, poucos dias antes das eleições para o Parlamento Europeu.

Segundo esta federação, a carne, que é um "produto sensível" deve ser "eliminada" por completo de todos os acordos de livre-comércio que estão sendo negociados pela UE.

"Impacto catastrófico"

A preocupação com a iminência deste acordo não atinge apenas a França. A Coordenadoria de Organizações de Agricultores e Pecuaristas espanhóis (Coag) também alerta para os prejuízos que este tratado causaria a todo o bloco europeu.

"Um acordo bilateral com o Mercosul teria um impacto catastrófico no setor agrícola da UE", afirmam fontes da Coag.

"Quase 80% da carne bovina importada pela UE é proveniente do Mercosul (...), de modo que consideramos que não são necessários contingentes adicionais livres de tarifas aduaneiras", acrescentaram.

Os países da UE e do Mercosul tentam desde 1999 criar um espaço de livre-comércio de cerca de 760 milhões de pessoas dos dois lados do Atlântico. Os diálogos ficaram estagnados durante anos após uma troca de ofertas fracassada em 2004, mas foram retomados novamente em 2010.

Acompanhe tudo sobre:Carnes e derivadosMercosulUnião Europeia

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame