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A reforma da Previdência continua?

Letícia Toledo  A liberação da lista de inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin e das delações da Odebrecht têm causado pânico no campo político, mas no econômico, por enquanto, o clima é de tranquilidade. O dólar caiu 0,45% nesta quarta-feira; os juros de longo prazo, que costumam ser os mais afetados em momentos de pânico, […]

O MINISTRO DA FAZENDA, HENRIQUE MEIRELLES: para o Congresso, a única alternativa é manter a agenda de reformas / Ueslei Marcelino/ Reuters
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Letícia Toledo

Publicado em 12 de abril de 2017 às 18h34.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h34.

Letícia Toledo

A liberação da lista de inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin e das delações da Odebrecht têm causado pânico no campo político, mas no econômico, por enquanto, o clima é de tranquilidade. O dólar caiu 0,45% nesta quarta-feira; os juros de longo prazo, que costumam ser os mais afetados em momentos de pânico, mostraram pouco avanço. Na bolsa, o Ibovespa caiu 0,73%, mas impactado principalmente por fortes quedas do minério de ferro. Por fim, o Comitê de Política Monetária, o Copom, seguiu as previsões e cortou a taxa de juros em 1 ponto percentual, para 11,25%. Dia normal, portanto.

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O presidente Michel Temer fez sua parte ao dizer que não se pode jamais paralisar a atividade legislativa. “Nós avançamos muito e temos de avançar mais. O governo não pode parar”, disse. O principal receio agora é que o governo precise atrasar o cronograma da reforma da Previdência e precise fazer novas concessões para aprová-la. A lista de Fachin, vale lembrar, inclui o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, principal articulador da proposta da Previdência junto ao Congresso e o relator da reforma, o deputado federal Arthur Maia (PPS-BA). O vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG) disse que a lista afeta “totalmente” a aprovação das reformas e que o momento é “muito tenso, muito grave”. Ramalho, como se vê pelo discurso, está fora da lista.

Para economistas, a novidade pode atrasar a reforma, mas não a inviabiliza. “Já era um consenso no setor privado que a lista sairia. Se as investigações envolveram novas empresas, aí sim poderíamos ter um impacto maior. A princípio as reformas tendem a ser adiadas em algumas semanas porque em um primeiro momento os políticos vão tentar entender seus desdobramentos”, diz Rafael Gonçalves Cardoso, economista da Daycoval Investimentos.

Ao mesmo tempo, parte dos economistas acredita que a lista mostra como as reformas econômicas são importantes para criar uma agenda positiva diante de investidores e empresários e retomar a economia. “A crise econômica e a incerteza política acabam não gerando outra alternativa que não avançar nas reformas, sob pena de que a crise econômica se agrave ainda mais e se tenha efeitos piores para a crise política”, afirma Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

Ele ressalta ainda que em todos os momentos de crise política que o governo teve até aqui a estratégia foi tentar mostrar o avanço de pautas econômicas, como a PEC do teto de gastos. “Não é que a lista vai acelerar as reformas. Obviamente, gera incertezas, afeta a imagem. Mas ao mesmo tempo a única alternativa parece ser manter a agenda”, diz Kawall.

O problema neste caso pode ser o fato de a reforma da Previdência ser vista como uma pauta impopular. Neste sentido, economistas e cientistas políticos reconhecem que muitos deputados e senadores podem ir contra a reforma pensando nas eleições de 2018. “Quem é da base aliada e está envolvido na Lava-Jato depende do governo para ter uma agenda positiva. Votar contra o governo nesse momento só atrapalha sua imagem dentro do partido e o impede, por exemplo, discutir medidas que poderiam beneficiar sua região e angariar votos para 2018”, diz Richard Back, analista político da XP Investimentos.

Neste cenário, a lógica é que o governo gaste mais energia nas reformas trabalhista e previdenciária a partir de agora. O mercado financeiro já passou a incorporar em suas previsões que a reforma da Previdência não será a reforma dos sonhos dos economistas, que acabaria com o problema fiscal do país no longo prazo. Se anteriormente o fato de que o governo estava disposto a ser impopular dava a percepção de que reformas rígidas poderiam passar, agora, na visão de economistas, é justamente a sua impopularidade que torna inviável uma reforma robusta. “A dinâmica do processo político mostrou que os mercados foram muito otimistas. O mercado se deu por satisfeito com uma reforma razoável, que terá que ser revista daqui a alguns anos”, diz o economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências.

Por enquanto, economistas seguem projetando que a economia deve ser estável ou mostrar um leve crescimento de 0,5% neste ano. Para isso, é claro, as reformas trabalhista e principalmente a da Previdência precisam ser aprovadas. Os mais otimistas veem que algumas reformas microeconômicas que viabilizem privatizações, concessões e a lei das falências podem sair durante o segundo semestre. Isso se as eleições de 2018 não derem as caras muito antes do que o previsto.

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