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Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2008 às 09h36.
O setor industrial brasileiro já começa a apresentar os primeiros sinais de que não vai atravessar incólume a crise financeira nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa PMI, divulgada pelo Banco Real e que considera os principais parâmetros do desenvolvimento da atividade industrial, em setembro o setor produtivo seguiu em tendência de desaceleração. O índice de produção chegou a seu nível mais baixo dos últimos 25 meses: 49,3 - números abaixo de 50 significam retração. Em agosto, esse índice havia sido de 51 e, em julho, de 54,2.
Segundo Cristiano Souza, economista do Banco Real, o indicador mais claro da influência da crise americana no desempenho industrial brasileiro são os pedidos de exportação, que vêm caindo há vários meses e estão num dos patamares mais baixos em um ano e meio. "A retração apresentada de um mês a outro não é o melhor parâmetro de análise", pondera Souza. "O melhor é observar uma trajetória mais ampla para identificar a tendência de baixa."
Ele afirma que já em fevereiro as exportações começaram a entrar em uma tendência de declínio devido à desaceleração da economia global. "Eu vejo esse como o maior canal de contágio da crise americana na economia brasileira", diz. As dificuldades das economias americana e européia prejudicaram muito mais os exportadores que a alta do dólar nos primeiros meses deste ano, segundo ele.
O economista do Real destaca também que é preciso relativizar o impacto das exportações sobre a economia brasileira. "O país não vai entrar em recessão por estar exportando menos", diz. Ele explica que o mercado interno responde hoje por 67% do PIB, o que ajudará a amortecer a tendência de queda das exportações. Já setores ligados ao comércio exterior, como a agricultura, tendem a sentir mais os efeitos.
IBGE
Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada nesta quinta-feira mostrou queda de 1,3% na atividade industrial do país em agosto na comparação com julho. Segundo a consultoria LCA, boa parte dessa retração deve-se à paralisação técnica de uma grande refinaria da Petrobras no Paraná. Além disso, a LCA lembra que as indústrias de bens de capital (máquinas) e bens de consumo mantiveram a produção praticamente estável em agosto.
Com base em dados divulgados pela Fundação Getulio Vargas sobre os estoques industriais e pela Fenabrave sobre a venda de veículos novos, a LCA estima que a produção industrial volte a se recuperar em setembro, com uma alta de 1% sobre agosto. Para a consultoria, o arrefecimento da demanda global e o aperto de crédito devem ter impacto na indústria apenas no quarto trimestre.
Fiesp
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que divulgou queda de 3 pontos percentuais no nível da atividade industrial paulista entre julho e agosto, essa retração ainda não é expressiva e já estava prevista. Segundo o economista da entidade, Paulo Francini, o mês de julho foi especialmente bom, o que influenciou a queda de agosto. Além disso, fatores como a alta dos juros e o câmbio já vinham causando a desaceleração da indústria.
Ele diz que a crise norte-americana gerou um "choque emocional" maior no final de setembro, mas lembra que os problemas começaram há mais um ano. "Não tinha condições de manter a mesma taxa de crescimento que vínhamos tendo. A retração dos índices de agosto já era esperada e tem pouco a ver com o aguçamento da crise, que chegou até mais tarde do que havíamos previsto", afirma.