9 economistas que atraíram os holofotes em 2014
Do Brasil ao Reino Unido, passando pela França e Argentina, estes acadêmicos e políticos não saíram das manchetes no ano que passou
João Pedro Caleiro
Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 17h35.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h56.
Apesar da versão em francês de sua obra "O Capital no Século XXI" ter saído em setembro do ano passado, foi em 2014 que Thomas Piketty, de 43 anos, se tornou um economista sensação como há muito tempo não se via e passou a viajar o mundo em uma turnê que incluiu o Brasil. Com um trabalho monumental de pesquisa, o professor da Paris School of Economics demonstrou que o aumento da desigualdade tem sido ainda mais dramático do que se sabia e propôs diagnóstico e remédios polêmicos para o fenômeno. O livro vendeu como água, foi questionado ( e premiado ) pelo Financial Times e dominou o debate a ponto de ser citado por um público que vai de Bill Gates a Dilma Rousseff.
Outro francês que chamou atenção este ano foi Jean Tirole, vencedor do Nobel de Economia aos 61 anos por seu trabalho sobre poder de mercado no contexto de indústrias pouco competitivas. A grande contribuição do professor da Universidade de Toulouse foi ter usado a teoria dos jogos para criar uma estrutura que permite analisar, caso a caso, os custos e ganhos econômicos na interação entre regulador e regulado. O tema permeia disputas muito atuais, como a das editoras contra a Amazon e das autoridades europeias contra o Google.
Desde que Guido Mantega foi virtualmente demitido durante a campanha, o mercado de apostas para seu sucessor só esquentou. Henrique Meirelles, Luiz Trabuco e Nelson Barbosa foram cotados, mas quem acabou levando foi Joaquim Levy . Ex-secretário do Tesouro no início do governo Lula e ex-secretário de Finanças do Rio de Janeiro na gestão Sérgio Cabral, Levy trabalhava como diretor superintendente do Bradesco Asset Management antes de ser convocado por Dilma. Levy conta com a confiança do mercado, mas não será nada fácil reverter o cenário de inflação alta com crescimento zero. Seu histórico de "mãos de tesoura", pelo menos, será importante agora que o rearranjo da política fiscal parece ter voltado a ser prioridade.
Escolhido pela revista TIME como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, Andrew Haldane tem 47 anos e está há 25 no Bank of England, onde foi promovido em março a economista-chefe. Ele é uma figura rara: um membro de banco central sem medo de questionar o status quo. Haldane já disse que os manifestantes do movimento Occupy estavam certos no seu diagnóstico e pede uma "revolução cultural" na forma como o BoE faz previsões e toma decisões. Ele acredita que os bancos centrais falharam em olhar demais para a estabilidade de preços e de menos para a estabilidade dos bancos e defende uma abordagem simples para o problema da regulação financeira.
A esperanças da economia da França e do governo de François Hollande residem em um homem de 36 anos chamado Emmanuel Macron, ministro das Finanças desde agosto. Antes mesmo da sua nomeação, o ex-banqueiro (e milionário) já havia aparecido em primeiro na lista de "100 líderes do amanhã" do jornal Le Figaro. Desde que entrou no governo, ele não sai dos jornais - seja pelas brigas sobre déficits com a Comissão Europeia, pelo casamento com uma ex-professora sua 20 anos mais velha ou por suas declarações com boa dose de sinceridade. As medidas que propôs até agora, como a desregulamentação de algumas profissões, são tímidas, mas já mostram uma guinada liberal clara dentro do governo socialista.
Uma das maiores novelas econômicas de 2014 ainda não acabou: é o calote da Argentina , forçada por um juiz americano a pagar imediatamente parte de sua dívida para os chamados "fundos abutres", que não aceitam os termos da reestruturação concordados em 2005 e 2010 pela maioria dos credores. Na linha de frente das novas negociações está Axel Kicillof, ministro da Economia argentino desde novembro do ano passado. Com seus olhos verdes, costeletas e estilo casual, o ex-professor de 43 anos virou galã e caminha no fio da navalha de um governo que quer resgatar a confiança dos mercados em meio a inflação alta, recessão e uma gestão econômica heterodoxa.
Todos os anos, a Associação Americana de Economistas premia com a medalha Clark um economista com menos de 40 anos que tenha feito uma "contribuição significativa" para a área. Neste ano, quem levou foi Matthew Gentzkow. O trabalho do professor da Universidade de Chicago de 39 anos chamou a atenção por analisar de forma econômica um tema não-econômico: as tendências políticas da mídia americana. Sua conclusão: a orientação mais democrata ou republicana de uma publicação pode ser explicada muito mais pela "demanda" (o gosto dos seus leitores) do que pela "oferta" (as preferências dos donos das empresas).
Para Lawrence Summers, líder do Conselho Econômico de Obama durante a crise, "House of Debt" ("Casa da Dívida") é possivelmente "o livro de economia mais importante de 2014" - e talvez o mais importante desde 2008. Seus autores são Atif Mian e Amir Suif, das Universidades de Princeton e Chicago, respectivamente. O que eles argumentam é que a crise foi causada não apenas por um colapso financeiro, mas principalmente por um acúmulo enorme e muito mal distribuído de dívida imobiliária entre as famílias. Gente endividada não gasta, e é por isso que resgatar os bancos e recuperar o crédito não foi suficiente para disparar uma recuperação vigorosa - perdoar as dívidas das famílias teria sido mais importante.
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