2019 será um ano de reformas econômicas? Analistas estão céticos
“Quem não souber operar esse sistema, ou faz um mal governo ou cai. Dilma fez as duas coisas", disse o economista Maílson da Nobrega no EXAME Fórum
João Pedro Caleiro
Publicado em 3 de setembro de 2018 às 16h53.
Última atualização em 4 de setembro de 2018 às 15h41.
São Paulo – Economistas e cientistas políticos estão apreensivos com o andamento de uma agenda de reformas econômicas no primeiro ano do próximo governo.
Este foi o tom do debate realizado na tarde desta segunda-feira (03) durante o EXAME Fórum em São Paulo.
Elena Landau, diretora da área de desestatização do BNDES no governo FHC e presidente do conselho econômico dos Livres, vê “dois candidatos populistas” na dianteira da eleição .
Ela não disse quais, mas notou que Fernando Haddad, para se legitimar como substituto de Lula como candidato do PT, “está falando coisas que se colocar em prática, é volta à Dilma e pior”.
Jair Bolsonaro, por sua vez, "está tentando fingir uma coisa diferente", mas se uma pessoa como ele se autodenomina liberal, é preciso redefinir o termo.
Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, também desconfia da conversão.
Ele vê como autoritária a ideia de criar um “superministro” da economia e nota que o presidente terá que ter autoridade própria para conduzir as reformas e não “consultar o posto Ipiranga”.
Além disso, o próximo presidente precisa ter consciência de que o próximo Congresso Nacional não será muito diferente do atual, que ninguém terá maioria e que será preciso operar o sistema.
“As pessoas não estão levando em conta que uma coisa é se eleger e outra é governar. E governar é tão ou mais difícil do que se eleger”, diz Maílson. “Quem não souber operar esse sistema, ou faz um mau governo ou cai. A Dilma fez as duas coisas”.
Uma visão um pouco mais otimista foi a do cientista político Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper. O motivo é que o governo de Michel Temer aprovou coisas que pareciam impossíveis, como o fim do imposto sindical.
Mas “se não tiver uma agenda clara e souber como fazer, não vai ter reforma”, nota Schuler, que vê uma certa “dissonância cognitiva” da campanha deste ano em um país com “democracia instável, de baixo consenso e polarizada” na qual cresce “a sedução do populismo”.
Parte disso pode ser atribuída, segundo ele, a um fenômeno global das grandes democracias. Políticos buscam apelar diretamente ao povo se posicionando na chamada “guerra cultural” através de apelos simples e teatrais, muito próprios do ambiente digital.
Fernando Borges, co-presidente do grupo Carlyle para a América do Sul, nota que apesar de tudo, o país ainda pode receber dinheiro de fora.
Isso porque o Brasil tem dois aspectos que o deixam sempre no radar dos investidores: o tamanho do seu mercado e a qualidade de seus ativos, por causa da diversificação econômica.
Ele acredita que o nível de interesse do investidor vai depender sim do resultado eleitoral, mas que no momento de compra quem quiser pensar em ganhar dinheiro no longo prazo terá sangue frio.
“O melhor lugar do mundo para você colocar dinheiro hoje é os Estados Unidos, e olha o presidente que você tem lá”, resumiu.
Veja entrevistas com os debatedores:
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