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É justo exigir foco da liderança nos dias de hoje?

Sofia Esteves discute a importância de as lideranças enxergarem o cenário global e, ao mesmo tempo, manter o foco em assuntos estratégicos

Foco: em meio à enxurrada de informações e tendências é difícil prestar atenção no que importa (gettyimages/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 14 de abril de 2023 às 13h07.

Última atualização em 14 de abril de 2023 às 14h11.

Descarbonização, generative AI, recessão econômica, efeitos da polarização, desastres ambientais, combate às condições precárias de trabalho, saúde mental, conflito entre trabalho presencial e remoto…

Estamos apenas começando o quarto mês do ano e esses foram só alguns dos vários temas que estiveram em destaque em 2023 no Brasil. Temas que chamam a atenção não só da população, mas são — ou deveriam estar sendo — debatidos nas rodas de conversa da alta liderança e dos conselhos de empresas.

E discutidos, veja bem, em profundidade. Afinal, são questões que têm um impacto importante no dia a dia dos negócios e nos anos que estão por vir.

Reforço, aqui, o “deveriam estar sendo debatidos” porque a verdade é que não é exatamente fácil lidar com esse volume de assuntos, demandas e desafios — ainda mais quando trazemos para essa equação a velocidade crescente da transformação do mundo.

Não é fácil, mas é fundamental enxergar o cenário global e, ao mesmo tempo, manter o foco. Eu sei, parece contraditório pedir para a liderança ampliar o campo de visão para, na sequência, ressaltar a importância de ter um olhar cirúrgico. Ir no detalhe, manter sua concentração, focar.

Porém, essa mesma recomendação me chamou a atenção no relatório “Tech Trends”, publicado anualmente pela Future Today Institute. Logo na carta de abertura, Amy Webb, CEO da empresa, escreve assim:

"Em um mundo cada vez mais complexo e acelerado, líderes que se concentram nas tendências importantes e se adaptam às circunstâncias em mudança tomam decisões melhores e têm resultados melhores. As tendências permitem que eles antecipem mudanças a curto prazo, compreendam os fatores que influenciam suas indústrias e desenvolvam um ponto de vista sobre o futuro.”

Essa mensagem aparece na terceira página de um relatório de 820 páginas sobre as tendências tecnológicas que devemos ficar de olho em 2023 e foi ressaltada também na palestra da executiva no SXSW em março.

Isso porque, em meio a tantos estímulos, novidades e acontecimentos, corremos o risco não só de ficarmos com o olhar perdido, vagando de um ponto para o outro, mas de não conseguirmos distinguir muito bem as imagens na nossa frente. Como em uma ilusão de ótica, o que vemos parece embaralhado, confuso e caótico.

Só um olhar treinado consegue focar e “desvendar esse mistério”, encontrar a imagem que busca.

Contudo, sinto que, nos últimos tempos, pedir foco é quase impossível! Na verdade, pedir é fácil, o difícil é conseguir.

Diante disso, fico me perguntando se a forma como os nossos negócios estão estruturados de fato possibilitam que as lideranças foquem. Será que criamos as condições necessárias para que líderes possam se debruçar sobre os principais desafios? Investimos no conhecimento e disponibilizamos as ferramentas necessárias para isso? Estimulamos o uso de tecnologia ou demonstramos resistência por medo ou desconhecimento?

E essa liderança, investe no desenvolvimento da sua equipe e fornece as ferramentas ideais para que ela possa realizar o trabalho com qualidade? Essa liderança delega determinadas funções para que, assim, consiga focar nas pautas prioritárias do negócio?

Os rituais da empresa contribuem para o foco ou existe uma cultura de excesso de reuniões, de discussões sem embasamento e dados, de debates sem escuta e muita polarização?

Eu já refleti sobre a importância do foco no desenvolvimento de novos negócios em um artigo sobre a minha viagem a Israel, porém, minha reflexão aqui vai um pouco mais além do valor do foco. Meu convite é para que as empresas pensem se estão sendo justas com a liderança ao exigirem concentração em meio a um contexto em que em nada favorece essa postura.

A sua cultura e o seu ambiente permitem que as pessoas que desempenham o papel de líder possam focar? Minha sugestão é focar nessa pergunta e refletir. Porque a resposta pode mudar totalmente o rumo do seu negócio este ano.

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Descarbonização, generative AI, recessão econômica, efeitos da polarização, desastres ambientais, combate às condições precárias de trabalho, saúde mental, conflito entre trabalho presencial e remoto…

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E discutidos, veja bem, em profundidade. Afinal, são questões que têm um impacto importante no dia a dia dos negócios e nos anos que estão por vir.

Reforço, aqui, o “deveriam estar sendo debatidos” porque a verdade é que não é exatamente fácil lidar com esse volume de assuntos, demandas e desafios — ainda mais quando trazemos para essa equação a velocidade crescente da transformação do mundo.

Não é fácil, mas é fundamental enxergar o cenário global e, ao mesmo tempo, manter o foco. Eu sei, parece contraditório pedir para a liderança ampliar o campo de visão para, na sequência, ressaltar a importância de ter um olhar cirúrgico. Ir no detalhe, manter sua concentração, focar.

Porém, essa mesma recomendação me chamou a atenção no relatório “Tech Trends”, publicado anualmente pela Future Today Institute. Logo na carta de abertura, Amy Webb, CEO da empresa, escreve assim:

"Em um mundo cada vez mais complexo e acelerado, líderes que se concentram nas tendências importantes e se adaptam às circunstâncias em mudança tomam decisões melhores e têm resultados melhores. As tendências permitem que eles antecipem mudanças a curto prazo, compreendam os fatores que influenciam suas indústrias e desenvolvam um ponto de vista sobre o futuro.”

Essa mensagem aparece na terceira página de um relatório de 820 páginas sobre as tendências tecnológicas que devemos ficar de olho em 2023 e foi ressaltada também na palestra da executiva no SXSW em março.

Isso porque, em meio a tantos estímulos, novidades e acontecimentos, corremos o risco não só de ficarmos com o olhar perdido, vagando de um ponto para o outro, mas de não conseguirmos distinguir muito bem as imagens na nossa frente. Como em uma ilusão de ótica, o que vemos parece embaralhado, confuso e caótico.

Só um olhar treinado consegue focar e “desvendar esse mistério”, encontrar a imagem que busca.

Contudo, sinto que, nos últimos tempos, pedir foco é quase impossível! Na verdade, pedir é fácil, o difícil é conseguir.

Diante disso, fico me perguntando se a forma como os nossos negócios estão estruturados de fato possibilitam que as lideranças foquem. Será que criamos as condições necessárias para que líderes possam se debruçar sobre os principais desafios? Investimos no conhecimento e disponibilizamos as ferramentas necessárias para isso? Estimulamos o uso de tecnologia ou demonstramos resistência por medo ou desconhecimento?

E essa liderança, investe no desenvolvimento da sua equipe e fornece as ferramentas ideais para que ela possa realizar o trabalho com qualidade? Essa liderança delega determinadas funções para que, assim, consiga focar nas pautas prioritárias do negócio?

Os rituais da empresa contribuem para o foco ou existe uma cultura de excesso de reuniões, de discussões sem embasamento e dados, de debates sem escuta e muita polarização?

Eu já refleti sobre a importância do foco no desenvolvimento de novos negócios em um artigo sobre a minha viagem a Israel, porém, minha reflexão aqui vai um pouco mais além do valor do foco. Meu convite é para que as empresas pensem se estão sendo justas com a liderança ao exigirem concentração em meio a um contexto em que em nada favorece essa postura.

A sua cultura e o seu ambiente permitem que as pessoas que desempenham o papel de líder possam focar? Minha sugestão é focar nessa pergunta e refletir. Porque a resposta pode mudar totalmente o rumo do seu negócio este ano.

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