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Black Friday ou Black End

O “grande dia” já passou, mas vale a reflexão.

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Relacionamento antes do Marketing

Publicado em 28 de novembro de 2016 às, 15h57.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h23.

Trabalhei com um profissional de comunicação que costumava dizer que algumas empresas consideram “o fim do mês mais importante que o fim do mundo”.

Bem, vendo o açodamento de mensagens de e-mail, SMS, WhatsApp e afins, parece mesmo que a Black Friday é o prenúncio do fim do mundo.

Pelo tom das comunicações parece que se os clientes não comprarem hoje, amanhã não restará mais nada. Eventualmente nem as lojas.

Não há dúvida alguma de que a comunicação apelativa funciona. Se você não acredita, ligue a TV no horário dos jornais sensacionalistas. O ‘desastre vende’.

Talvez eu esteja redondamente enganado, mas acompanhando nas redes sociais percebi alguma indignação por parte dos consumidores de que talvez a Black Friday não seja assim tãoooo interessante.

Primeiro porque no Brasil dá-se pouca atenção se algo está mesmo em oferta ou não. Nos EUA – país que originou esta onda do ‘fim do mundo consumidor’ – o boca a boca e o monitoramento sobre a veracidade de uma oferta costuma ser acompanhada de perto. O consumidor naquele mercado não perdoa uma ‘meia verdade’.

Recentemente minha filha comprou uma televisão que estava em ‘promoção’. Uma TV que tipicamente custaria entre R$ 1.000 a R$ 1.500 estava pela bagatela de R$ 699. Ela me pediu algumas referências sobre marca, modelo e funcionalidades, e percebi que estava dentro do que ela estava procurando. A TV chegou e tive uma triste constatação: o produto no final atende àquilo que minha filha estava procurando naquele momento. A verdade, porém, é que o produto apresentado como uma TV de ponta era na verdade uma versão ‘popular de um carro de luxo’. Significa que o preço foi justo, mas a oferta mentirosa.

Não gosto de falar de crise, mas é inegável que vivemos em um momento de recessão. O reflexo claro disso é que as empresas continuam produzindo e vendendo um mínimo de produtos e serviços ou concretamente terão de fechar suas portas. Se você costuma andar pela sua cidade (se ela for uma grande cidade) irá notar o grande número de estabelecimentos comerciais que têm fechado e não reabriram mais. Na minha visão, esta é a ‘última milha’ de uma recessão, onde a decisão de fechar se tornou a única e melhor alternativa.

É também natural que para manter as portas abertas é melhor vender pela metade do preço e fazer girar o estoque e os negócios do que correr o risco de fechar definitivamente.

Dentro deste cenário alguns aprendizados naturais têm surgido para as empresas, e é aqui que a Black Friday começa a ficar um pouco mais ‘escura’…

De todas as empresas que já atendi até hoje, não me lembro de nenhuma onde fosse mais fácil ou mais barato vender para um novo cliente. Muito se fala sobre isso, mas pouca gente afere realmente na prática. Como relacionamento com clientes é o nosso trabalho diário na empresa, temos este mapeamento de forma concreta e numérica.

Com esse conhecimento em mãos o próximo passo natural é direcionar ofertas de melhor qualidade e atração para os atuais clientes.

Em minha simples leitura, o que está acontecendo é que todo o mercado anunciante resolveu colocar ao mesmo tempo e com grande intensidade este conhecimento em prática.

O resultado natural quando tem muita gente falando é que o ouvinte não consegue entender ninguém.

Um amigo me falou esta semana uma frase que para mim sintetiza o equívoco que as empresas estão cometendo no relacionamento com seus clientes neste momento: “Conhecimento e capacidade tem que ser empregados. E não usados indiscriminadamente. ”

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