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A paridade dólar-euro vai mudar a forma de negociar jogadores de futebol?

O euro ganhou tanta força no futebol que passou a ser usado como moeda de transação mesmo para países em que normalmente o dólar seria aplicável

Futebol: No Botafogo, Patrick de Paula foi comprado por 6 milhões de euros (Fernando Torres/CBF/Agência Brasil)
MD

Matheus Doliveira

Publicado em 12 de julho de 2022 às 15h35.

Última atualização em 12 de julho de 2022 às 15h39.

*Eduardo Carlezzo

As vendas dos direitos desportivos de jogadores por clubes brasileiros a outros clubes no exterior, na maioria dos casos, são feitas em dólar . Quando o negócio é fechado com clubes europeus a transação é estabelecida em euro . Mesmo em negociações com clubes ingleses, e sua valorizada libra, o euro também prevalece.

O euro ganhou tanta força no futebol que passou a ser usado como moeda da transação mesmo para países em que normalmente o dólar seria aplicável. Exemplos disso são a China e países do Oriente Médio, tradicionalmente bons compradores de jogadores vindos do Brasil, muito embora os clubes chineses, nos últimos 2 anos, tenham sido obrigados a parar de gastar excessivamente.

A utilização do euro em substituição ao dólar representou um ganho adicional aos clubes nacionais, pois o jogador, ainda que vendido pelo mesmo milhão, não era mais de dólares, mas sim de euros. Portanto, na enorme maioria dos casos o valor do negócio não mudou, mas sim a moeda pactuada na transação. Consequentemente, o recebimento em reais aumentou.

A relevância do euro no futebol brasileiro fica absolutamente clara quando o Botafogo comprou, em março deste ano, o Patrick de Paula ao Palmeiras por 6 milhões de euros, conforme noticiado pela imprensa. Ou seja, a moeda europeia servindo de balizamento inclusive para operações nacionais.

Esse cenário pode mudar.

Devido às instabilidades geopolíticas que tomaram conta do mundo no primeiro semestre estamos perto de uma paridade cambial entre dólar e euro, algo que não se via há 20 anos.

Tendo em vista que a janela de venda de jogadores para a Europa estará aberta até o final de agosto, e como normalmente as transações são pagas em diversas cotas, poderá ocorrer que os clubes tenham uma defasagem com relação ao dólar no momento de fecharem os contratos de câmbio em euro, pois especialistas do mercado de câmbio entendem que dólar poderá estar mais valorizado que o euro.

Esta premente questão pode levar a um novo panorama onde os clubes brasileiros passem colocar o dólar como moeda preferencial nas suas negociações com clubes estrangeiros.

Podemos ainda, hipoteticamente, ter casos em que a venda de um atleta a um clube europeu, especialmente entre aqueles em que o euro seja a moeda de circulação oficial, seja fixada em dólar. Obviamente, tudo isso dependerá de negociação e da força de cada uma das partes no momento da concretização da operação.

Esse assunto não é trivial para as finanças dos clubes, pois nosso país é o maior exportador de jogadores do planeta e os clubes nacionais necessitam destas transações para tentar deixar as contas no azul. Em 2021, para os clubes da Série A, as receitas de transferências somaram 20% do faturamento.

Tudo isso representaria uma mudança significativa no contexto das operações atuais e certamente será um novo elemento a ser considerado na negociação dos contratos de transferência de jogadores entre clubes nacionais e estrangeiros.

*Eduardo Carlezzo, advogado, sócio do Carlezzo Advogados, especializado em negociações no futebol

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*Eduardo Carlezzo

As vendas dos direitos desportivos de jogadores por clubes brasileiros a outros clubes no exterior, na maioria dos casos, são feitas em dólar . Quando o negócio é fechado com clubes europeus a transação é estabelecida em euro . Mesmo em negociações com clubes ingleses, e sua valorizada libra, o euro também prevalece.

O euro ganhou tanta força no futebol que passou a ser usado como moeda da transação mesmo para países em que normalmente o dólar seria aplicável. Exemplos disso são a China e países do Oriente Médio, tradicionalmente bons compradores de jogadores vindos do Brasil, muito embora os clubes chineses, nos últimos 2 anos, tenham sido obrigados a parar de gastar excessivamente.

A utilização do euro em substituição ao dólar representou um ganho adicional aos clubes nacionais, pois o jogador, ainda que vendido pelo mesmo milhão, não era mais de dólares, mas sim de euros. Portanto, na enorme maioria dos casos o valor do negócio não mudou, mas sim a moeda pactuada na transação. Consequentemente, o recebimento em reais aumentou.

A relevância do euro no futebol brasileiro fica absolutamente clara quando o Botafogo comprou, em março deste ano, o Patrick de Paula ao Palmeiras por 6 milhões de euros, conforme noticiado pela imprensa. Ou seja, a moeda europeia servindo de balizamento inclusive para operações nacionais.

Esse cenário pode mudar.

Devido às instabilidades geopolíticas que tomaram conta do mundo no primeiro semestre estamos perto de uma paridade cambial entre dólar e euro, algo que não se via há 20 anos.

Tendo em vista que a janela de venda de jogadores para a Europa estará aberta até o final de agosto, e como normalmente as transações são pagas em diversas cotas, poderá ocorrer que os clubes tenham uma defasagem com relação ao dólar no momento de fecharem os contratos de câmbio em euro, pois especialistas do mercado de câmbio entendem que dólar poderá estar mais valorizado que o euro.

Esta premente questão pode levar a um novo panorama onde os clubes brasileiros passem colocar o dólar como moeda preferencial nas suas negociações com clubes estrangeiros.

Podemos ainda, hipoteticamente, ter casos em que a venda de um atleta a um clube europeu, especialmente entre aqueles em que o euro seja a moeda de circulação oficial, seja fixada em dólar. Obviamente, tudo isso dependerá de negociação e da força de cada uma das partes no momento da concretização da operação.

Esse assunto não é trivial para as finanças dos clubes, pois nosso país é o maior exportador de jogadores do planeta e os clubes nacionais necessitam destas transações para tentar deixar as contas no azul. Em 2021, para os clubes da Série A, as receitas de transferências somaram 20% do faturamento.

Tudo isso representaria uma mudança significativa no contexto das operações atuais e certamente será um novo elemento a ser considerado na negociação dos contratos de transferência de jogadores entre clubes nacionais e estrangeiros.

*Eduardo Carlezzo, advogado, sócio do Carlezzo Advogados, especializado em negociações no futebol

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