Vamos falar sobre o domínio econômico chinês?
Dominar a indústria mundial e ter o maior PIB do globo fará da China uma potência com o mesmo poder que teve e ainda tem os Estados Unidos?
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2021 às 10h54.
Aluizio Falcão Filho
Muito se fala sobre a economia chinesa. Seu crescimento nos últimos anos é, de fato, notável. Vamos aos números? Em 2000, o PIB chinês era de US$ 1,2 trilhão, enquanto o dos Estados Unidos era de US$ 10,2 trilhões. No ano passado, esses números mudaram dramaticamente. Os EUA chegaram a US$ 20,8 trilhões. E a China ? O PIB bateu US$ 15,6 trilhões de dólares. Ou seja, em vinte anos, os chineses cresceram proporcionalmente muito mais que os americanos. É por isso que muitos economistas apostam que em 2027 a economia chinesa será maior que a americana.
Isso quer dizer que o predomínio mundial americano está condenado?
Neste momento, a grande chave de crescimento na China é uma expansão desenfreada da indústria, que abastece todo o mercado mundial, agregada a uma ascensão econômica de parte da população. Os chineses passaram a consumir praticamente tudo o que era proibido nos tempos de comunismo raiz, criando uma classe média emergente e uma casta de milionários e até de bilionários.
Podemos argumentar que os números divulgados pela China podem ser distorcidos – e, realmente, não há como verificar a veracidade destes indicadores de riqueza. No entanto, mesmo que houvesse uma fraude fragorosa nas estatísticas divulgadas, é inegável que a China cresceu assustadoramente em um curto período de tempo.
Antes, a indústria chinesa era sinônimo de produto barato e ruim. Hoje, há opção para todos os bolsos, com qualidade equivalente ao ticket pago. O país é fornecedor de tudo – de alta tecnologia a vestuário, de chips a brinquedos. Para alavancar tudo isso, o e-commerce chinês alcançou o mundo e produtos antes locais passaram a ser consumidos em todo o planeta (neste pormenor, no entanto, há um problema; cerca de 20 % dos pacotes enviados da China ao Brasil são extraviados por endereços errados ou escritos em Mandarim. Especialistas afirmam que esse desperdício ocorre igualmente em outros países).
É inegável que a China deverá alcançar os EUA em algum momento, em função do crescimento de seus comércio exterior e do grau de dependência que seu poderio econômico pode gerar (as táticas de expansão do mercado de 5G mostram essa tendência).
Mas dominar a indústria mundial e ter o maior PIB do globo fará da China uma potência com o mesmo poder que teve e ainda tem os Estados Unidos?
A chave para esta resposta está na inovação.
Não, não estamos falando de tecnologia – ramo no qual os chineses vão muito bem e investiram em uma exército de cientistas educados nos Estados Unidos. Inovação, mesmo, é um conceito que ultrapassa os aspectos tecnológicos, pois a arte de romper paradigmas e imaginar o que ainda não existe é para poucos.
Convenhamos: apesar dos avanços, a China ainda é uma ditadura e também está ligada ao velho comunismo em vários aspectos na gestão de sua sociedade. Nós já vimos esse filme antes, durante a guerra fria: uma democracia (EUA) contra uma ditadura (União Soviética). Tirando um determinado momento da corrida espacial, durante a qual os dois países utilizaram espólio tecnológico e cientistas da Alemanha nazista, quando é que os russos conseguiram estar à frente dos Estados Unidos no quesito inovação?
Neste duelo atual, temos uma reedição da guerra fria – sem o perigo do uso de armas nucleares e com um comunismo bem mais light que o de décadas atrás. Mas a pergunta que fica é a seguinte: um sistema político de exceção pode gerar mentes criativas?
Vamos um pouco mais além: uma ditadura como a chinesa poderia produzir mentes inovadoras e disruptivas como as de Steve Jobs, Elon Musk, Mark Zuckerberg ou Jeff Bezos? Estamos falando de empresários que tiveram uma visão de negócios totalmente diferente dos concorrentes e criaram produtos e serviços totalmente disruptivos. Supressão de liberdades individuais e criatividade podem conviver? Teoricamente, é possível. Na prática, porém, é algo quase inexequível.
O dinheiro chinês pode criar toneladas de oportunidades mundo afora. Mas eles terão a capacidade de mudar a humanidade, criando um conceito inédito, como fez Steve Jobs ao inventar o smartphone? Enquanto a China viver sob uma ditadura, isso beirará o impossível. Porque mentes livres são as únicas que podem mudar o curso da história de forma pacífica e galgar avanços tecnológicos inimagináveis com a quebra de paradigmas.
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Aluizio Falcão Filho
Muito se fala sobre a economia chinesa. Seu crescimento nos últimos anos é, de fato, notável. Vamos aos números? Em 2000, o PIB chinês era de US$ 1,2 trilhão, enquanto o dos Estados Unidos era de US$ 10,2 trilhões. No ano passado, esses números mudaram dramaticamente. Os EUA chegaram a US$ 20,8 trilhões. E a China ? O PIB bateu US$ 15,6 trilhões de dólares. Ou seja, em vinte anos, os chineses cresceram proporcionalmente muito mais que os americanos. É por isso que muitos economistas apostam que em 2027 a economia chinesa será maior que a americana.
Isso quer dizer que o predomínio mundial americano está condenado?
Neste momento, a grande chave de crescimento na China é uma expansão desenfreada da indústria, que abastece todo o mercado mundial, agregada a uma ascensão econômica de parte da população. Os chineses passaram a consumir praticamente tudo o que era proibido nos tempos de comunismo raiz, criando uma classe média emergente e uma casta de milionários e até de bilionários.
Podemos argumentar que os números divulgados pela China podem ser distorcidos – e, realmente, não há como verificar a veracidade destes indicadores de riqueza. No entanto, mesmo que houvesse uma fraude fragorosa nas estatísticas divulgadas, é inegável que a China cresceu assustadoramente em um curto período de tempo.
Antes, a indústria chinesa era sinônimo de produto barato e ruim. Hoje, há opção para todos os bolsos, com qualidade equivalente ao ticket pago. O país é fornecedor de tudo – de alta tecnologia a vestuário, de chips a brinquedos. Para alavancar tudo isso, o e-commerce chinês alcançou o mundo e produtos antes locais passaram a ser consumidos em todo o planeta (neste pormenor, no entanto, há um problema; cerca de 20 % dos pacotes enviados da China ao Brasil são extraviados por endereços errados ou escritos em Mandarim. Especialistas afirmam que esse desperdício ocorre igualmente em outros países).
É inegável que a China deverá alcançar os EUA em algum momento, em função do crescimento de seus comércio exterior e do grau de dependência que seu poderio econômico pode gerar (as táticas de expansão do mercado de 5G mostram essa tendência).
Mas dominar a indústria mundial e ter o maior PIB do globo fará da China uma potência com o mesmo poder que teve e ainda tem os Estados Unidos?
A chave para esta resposta está na inovação.
Não, não estamos falando de tecnologia – ramo no qual os chineses vão muito bem e investiram em uma exército de cientistas educados nos Estados Unidos. Inovação, mesmo, é um conceito que ultrapassa os aspectos tecnológicos, pois a arte de romper paradigmas e imaginar o que ainda não existe é para poucos.
Convenhamos: apesar dos avanços, a China ainda é uma ditadura e também está ligada ao velho comunismo em vários aspectos na gestão de sua sociedade. Nós já vimos esse filme antes, durante a guerra fria: uma democracia (EUA) contra uma ditadura (União Soviética). Tirando um determinado momento da corrida espacial, durante a qual os dois países utilizaram espólio tecnológico e cientistas da Alemanha nazista, quando é que os russos conseguiram estar à frente dos Estados Unidos no quesito inovação?
Neste duelo atual, temos uma reedição da guerra fria – sem o perigo do uso de armas nucleares e com um comunismo bem mais light que o de décadas atrás. Mas a pergunta que fica é a seguinte: um sistema político de exceção pode gerar mentes criativas?
Vamos um pouco mais além: uma ditadura como a chinesa poderia produzir mentes inovadoras e disruptivas como as de Steve Jobs, Elon Musk, Mark Zuckerberg ou Jeff Bezos? Estamos falando de empresários que tiveram uma visão de negócios totalmente diferente dos concorrentes e criaram produtos e serviços totalmente disruptivos. Supressão de liberdades individuais e criatividade podem conviver? Teoricamente, é possível. Na prática, porém, é algo quase inexequível.
O dinheiro chinês pode criar toneladas de oportunidades mundo afora. Mas eles terão a capacidade de mudar a humanidade, criando um conceito inédito, como fez Steve Jobs ao inventar o smartphone? Enquanto a China viver sob uma ditadura, isso beirará o impossível. Porque mentes livres são as únicas que podem mudar o curso da história de forma pacífica e galgar avanços tecnológicos inimagináveis com a quebra de paradigmas.
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