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Quando entrevistas presidenciais acabam de repente

Normalmente, Bolsonaro se sente à vontade em ambientes hostis, nos quais se destaca pelas respostas agressivas a jornalistas

Presidente Jair Bolsonaro. (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
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Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2021 às 08h06.

Última atualização em 28 de outubro de 2021 às 14h15.

Aluizio Falcão Filho

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro se retirou de uma entrevista ao vivo pela TV Jovem Pan, talvez o meio de comunicação que mais tenha veiculado notícias favoráveis ao seu governo e economizado nas críticas ao Planalto – ao contrário do que ocorre nos demais órgãos da grande imprensa.

Bolsonaro saiu um pouco depois de uma pergunta sobre rachadinhas, formulada pelo humorista André Marinho (filho do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro), à qual respondeu agressivamente. “Marinho, você sabe que sou presidente da República e respondo sobre meus atos. Então, não vou aceitar provocação tua. Você recolha-se ao seu jornalismo. Seu pai quer a cadeira do Flávio Bolsonaro”, devolveu o presidente.

Logo após, Marinho tenta retomar o assunto e Bolsonaro começa a responder. Mas o áudio de sua resposta é abafado por uma briga no estúdio (o presidente participava remotamente) entre o humorista e outro participante do programa. Irritado, Bolsonaro se levanta e deixa a entrevista.

Normalmente, Bolsonaro se sente à vontade em ambientes hostis, nos quais se destaca pelas respostas agressivas a jornalistas. Tinha dado uma patada em Marinho e claramente desejava continuar a cutucar seu entrevistador. Mas zangou-se com a discussão que explodiu na bancada e preferiu se mandar.

Muitos analistas especularam se essa não seria uma estratégia para fugir das perguntas incômodas daqui para frente, prevendo o mesmo tipo de comportamento nos debates que serão realizados no ano que vem.

Isso até pode ocorrer. Mas é preciso lembrar que o presidente se sente confortável em situações adversas e aparentemente gosta deste tipo de embate. A impressão que se tem é a de que ficou realmente irritado com a confusão que eclodiu no estúdio, até porque gastou um bom tempo tentando falar.

A reação de Bolsonaro lembra um pouco a do ex-presidente Donald Trump, que já saiu abruptamente de uma coletiva e resolveu terminar antecipadamente a entrevista que gravava para o programa “60 Minutes”. Nos dois casos, como no exemplo brasileiro, pode-se dizer que os jornalistas sabiam que iriam irritar o presidente. No caso da coletiva, a repórter insistiu em continuar em um determinado tema, apensar de Trump ter passado a palavra para outro profissional de comunicação. A reação do então presidente americano foi deixar a sala de imprensa e declarar encerrada a coletiva. Em relação ao programa, sua entrevistadora começou seu colóquio de uma forma que irritou Trump: “Você está preparado para perguntas duras?”. Depois de algum tempo, o então presidente começou a se queixar e acabou com a conversa.

Os defensores de Trump poderão dizer que os jornalistas são duros com os políticos republicanos e bastante amigáveis com os democratas. Em alguns casos, isso até é verdade. Mas autoridades e figuras públicas precisam manter a compostura mesmo quando se sentem injustiçados. A melhor forma de mostrar indignação com o tratamento dispensado pelos jornalistas é usar a frieza e rebater eventuais perguntas difíceis com clareza e objetividade. Políticos que reagem a perguntas incômodas com agressividade só agradam aos seus seguidores – a não ser que a situação mostre uma notória injustiça.

O cenário que se avizinha em 2022 promete ser difícil para o presidente. Boa parte da imprensa tece críticas diárias a seu comportamento e vários debates serão conduzidos por veículos que hoje não são simpáticos a Bolsonaro.

Em 2018, o atentado contra sua vida o afastou de alguns debates. Isso acabou até ajudando o então candidato, que tinha emplacado o discurso que o pintava como um novo personagem político (apesar de tantos anos no Congresso) e capitalizado a imagem antipetista. Hoje, no entanto, Bolsonaro precisa falar. Se explicar e tentar reverter uma situação desfavorável. Não será com o silêncio que ele conseguirá vencer o pleito. Pelo contrário. Ele necessitará de tempo para defender seu governo e suas decisões. Será uma tarefa difícil. Mas que só poderá ser concretizada se ele se controlar e não deixar seus entrevistadores falando sozinhos.

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Aluizio Falcão Filho

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro se retirou de uma entrevista ao vivo pela TV Jovem Pan, talvez o meio de comunicação que mais tenha veiculado notícias favoráveis ao seu governo e economizado nas críticas ao Planalto – ao contrário do que ocorre nos demais órgãos da grande imprensa.

Bolsonaro saiu um pouco depois de uma pergunta sobre rachadinhas, formulada pelo humorista André Marinho (filho do empresário Paulo Marinho, suplente do senador Flávio Bolsonaro), à qual respondeu agressivamente. “Marinho, você sabe que sou presidente da República e respondo sobre meus atos. Então, não vou aceitar provocação tua. Você recolha-se ao seu jornalismo. Seu pai quer a cadeira do Flávio Bolsonaro”, devolveu o presidente.

Logo após, Marinho tenta retomar o assunto e Bolsonaro começa a responder. Mas o áudio de sua resposta é abafado por uma briga no estúdio (o presidente participava remotamente) entre o humorista e outro participante do programa. Irritado, Bolsonaro se levanta e deixa a entrevista.

Normalmente, Bolsonaro se sente à vontade em ambientes hostis, nos quais se destaca pelas respostas agressivas a jornalistas. Tinha dado uma patada em Marinho e claramente desejava continuar a cutucar seu entrevistador. Mas zangou-se com a discussão que explodiu na bancada e preferiu se mandar.

Muitos analistas especularam se essa não seria uma estratégia para fugir das perguntas incômodas daqui para frente, prevendo o mesmo tipo de comportamento nos debates que serão realizados no ano que vem.

Isso até pode ocorrer. Mas é preciso lembrar que o presidente se sente confortável em situações adversas e aparentemente gosta deste tipo de embate. A impressão que se tem é a de que ficou realmente irritado com a confusão que eclodiu no estúdio, até porque gastou um bom tempo tentando falar.

A reação de Bolsonaro lembra um pouco a do ex-presidente Donald Trump, que já saiu abruptamente de uma coletiva e resolveu terminar antecipadamente a entrevista que gravava para o programa “60 Minutes”. Nos dois casos, como no exemplo brasileiro, pode-se dizer que os jornalistas sabiam que iriam irritar o presidente. No caso da coletiva, a repórter insistiu em continuar em um determinado tema, apensar de Trump ter passado a palavra para outro profissional de comunicação. A reação do então presidente americano foi deixar a sala de imprensa e declarar encerrada a coletiva. Em relação ao programa, sua entrevistadora começou seu colóquio de uma forma que irritou Trump: “Você está preparado para perguntas duras?”. Depois de algum tempo, o então presidente começou a se queixar e acabou com a conversa.

Os defensores de Trump poderão dizer que os jornalistas são duros com os políticos republicanos e bastante amigáveis com os democratas. Em alguns casos, isso até é verdade. Mas autoridades e figuras públicas precisam manter a compostura mesmo quando se sentem injustiçados. A melhor forma de mostrar indignação com o tratamento dispensado pelos jornalistas é usar a frieza e rebater eventuais perguntas difíceis com clareza e objetividade. Políticos que reagem a perguntas incômodas com agressividade só agradam aos seus seguidores – a não ser que a situação mostre uma notória injustiça.

O cenário que se avizinha em 2022 promete ser difícil para o presidente. Boa parte da imprensa tece críticas diárias a seu comportamento e vários debates serão conduzidos por veículos que hoje não são simpáticos a Bolsonaro.

Em 2018, o atentado contra sua vida o afastou de alguns debates. Isso acabou até ajudando o então candidato, que tinha emplacado o discurso que o pintava como um novo personagem político (apesar de tantos anos no Congresso) e capitalizado a imagem antipetista. Hoje, no entanto, Bolsonaro precisa falar. Se explicar e tentar reverter uma situação desfavorável. Não será com o silêncio que ele conseguirá vencer o pleito. Pelo contrário. Ele necessitará de tempo para defender seu governo e suas decisões. Será uma tarefa difícil. Mas que só poderá ser concretizada se ele se controlar e não deixar seus entrevistadores falando sozinhos.

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