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Procura-se um estadista

Estadistas surgem raramente na história e sua carência é lamentada em diversos países e em diferentes épocas

Estadista: são eles os guiados pela grandeza de caráter e pela nobreza de intenções (Jefferson Rudy/Agência Senado/Flickr)
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Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2023 às 17h17.

Artigo do cientista político Luiz Felipe D’Ávila, publicado no jornal O Estado de S. Paulo nesta semana, começa assim: “Um país à deriva não é fruto de um governo; é resultado de escolhas e omissões de uma geração. Eu sou parte dessa geração que vem fazendo escolhas erradas há 40 anos. […] A geração dos cinquentões e sessentões que deveria estar no poder inexiste. Não conseguimos nomear um único estadista brasileiro nessa faixa etária”.

Entende-se a frustração de D’Ávila. De fato, essa é uma geração que se dedicou mais aos negócios e à carreira do que à política. Mas isso não significa que necessariamente os cinquentões e sessentões estejam totalmente fora do círculo do poder. Tomemos como exemplo as faixas etárias na Câmara dos Deputados. Entre os eleitos para a próxima legislatura, há 204 congressistas com idades entre 51 e 69 anos. Isso significa cerca de 40 % de todas as bancadas. Não é o maior grupo em termos de intervalo etático. Mas também não se pode dizer que não há políticos oriundos dessa geração.

Quanto à escassez de estadistas entre os nascidos entre as faixas da “geração x” e dos “baby-boomers”, esse talvez seja um problema que suplante questões etárias. Estadistas surgem raramente na história e sua carência é lamentada em diversos países e em diferentes épocas.

No Brasil, o senso de curto prazo provavelmente colabora para que tenhamos dificuldade em produzir estadistas. O escritor americano James Freeman Clarke, primo e contemporâneo de Ralph Waldo Emerson, disse que “a diferença entre um político e um estadista é que o político pensa na próxima eleição, enquanto o estadista olha para a próxima geração”. Políticos que pensam apenas no pleito seguinte são a regra por aqui, não a exceção. Nossa história recente está cheia de governantes que tomam decisões populistas e deixam bombas fiscais de efeito retardado para seus sucessores.

Temos outro problema que interfere na criação de estadistas no Brasil. Nossa democracia ainda é jovem. A maturidade democrática surge com o tempo e o aprendizado vai passando de geração em geração. Ocorre que tivemos uma ruptura neste processo em 1964, que acabou com o período democrático vivido pelo país desde 1945. O hiato ditatorial, embora quebrado por algumas eleições legislativas, acabou prejudicando bastante o interesse de algumas gerações pela política – seja como eleitores ou representantes populares.

Desde a redemocratização, tivemos seis presidente eleitos diretamente e dois vices que assumiram a cadeira presidencial. Destes oito nomes, talvez aquele que mais se aproxime do perfil de um estadista seja o de Fernando Henrique Cardoso – e mesmo assim, a simples menção de FHC em determinadas rodas dispara uma saraivada de insultos e críticas.

Nosso país, no entanto, carece de presidentes que trabalhem por um projeto de longo prazo, especialmente nos campos da educação e do crescimento econômico sustentável. É inadmissível que uma nação como o Brasil, com tantos recursos naturais e um mercado interno gigantesco, tenha crescido de forma medíocre nas últimas décadas. Para quebrar esse círculo vicioso, precisamos de um mandatário de olho no futuro.

Esses estadistas, dos quais precisamos urgentemente, são guiados pela grandeza de caráter e pela nobreza de intenções. Sem essas características, talvez fiquemos no mesmo ramerrame de décadas, nos tornando cínicos e pragmáticos, como o ex-presidente americano Harry Truman (imagem). Ele escreveu o seguinte em um artigo publicado em 1958: “Um político é uma pessoa que entende como funciona o governo; um estadista é um político que se encontra morto há pelo menos quinze anos”.

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Artigo do cientista político Luiz Felipe D’Ávila, publicado no jornal O Estado de S. Paulo nesta semana, começa assim: “Um país à deriva não é fruto de um governo; é resultado de escolhas e omissões de uma geração. Eu sou parte dessa geração que vem fazendo escolhas erradas há 40 anos. […] A geração dos cinquentões e sessentões que deveria estar no poder inexiste. Não conseguimos nomear um único estadista brasileiro nessa faixa etária”.

Entende-se a frustração de D’Ávila. De fato, essa é uma geração que se dedicou mais aos negócios e à carreira do que à política. Mas isso não significa que necessariamente os cinquentões e sessentões estejam totalmente fora do círculo do poder. Tomemos como exemplo as faixas etárias na Câmara dos Deputados. Entre os eleitos para a próxima legislatura, há 204 congressistas com idades entre 51 e 69 anos. Isso significa cerca de 40 % de todas as bancadas. Não é o maior grupo em termos de intervalo etático. Mas também não se pode dizer que não há políticos oriundos dessa geração.

Quanto à escassez de estadistas entre os nascidos entre as faixas da “geração x” e dos “baby-boomers”, esse talvez seja um problema que suplante questões etárias. Estadistas surgem raramente na história e sua carência é lamentada em diversos países e em diferentes épocas.

No Brasil, o senso de curto prazo provavelmente colabora para que tenhamos dificuldade em produzir estadistas. O escritor americano James Freeman Clarke, primo e contemporâneo de Ralph Waldo Emerson, disse que “a diferença entre um político e um estadista é que o político pensa na próxima eleição, enquanto o estadista olha para a próxima geração”. Políticos que pensam apenas no pleito seguinte são a regra por aqui, não a exceção. Nossa história recente está cheia de governantes que tomam decisões populistas e deixam bombas fiscais de efeito retardado para seus sucessores.

Temos outro problema que interfere na criação de estadistas no Brasil. Nossa democracia ainda é jovem. A maturidade democrática surge com o tempo e o aprendizado vai passando de geração em geração. Ocorre que tivemos uma ruptura neste processo em 1964, que acabou com o período democrático vivido pelo país desde 1945. O hiato ditatorial, embora quebrado por algumas eleições legislativas, acabou prejudicando bastante o interesse de algumas gerações pela política – seja como eleitores ou representantes populares.

Desde a redemocratização, tivemos seis presidente eleitos diretamente e dois vices que assumiram a cadeira presidencial. Destes oito nomes, talvez aquele que mais se aproxime do perfil de um estadista seja o de Fernando Henrique Cardoso – e mesmo assim, a simples menção de FHC em determinadas rodas dispara uma saraivada de insultos e críticas.

Nosso país, no entanto, carece de presidentes que trabalhem por um projeto de longo prazo, especialmente nos campos da educação e do crescimento econômico sustentável. É inadmissível que uma nação como o Brasil, com tantos recursos naturais e um mercado interno gigantesco, tenha crescido de forma medíocre nas últimas décadas. Para quebrar esse círculo vicioso, precisamos de um mandatário de olho no futuro.

Esses estadistas, dos quais precisamos urgentemente, são guiados pela grandeza de caráter e pela nobreza de intenções. Sem essas características, talvez fiquemos no mesmo ramerrame de décadas, nos tornando cínicos e pragmáticos, como o ex-presidente americano Harry Truman (imagem). Ele escreveu o seguinte em um artigo publicado em 1958: “Um político é uma pessoa que entende como funciona o governo; um estadista é um político que se encontra morto há pelo menos quinze anos”.

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