Muitos acham que Bolsonaro não passa de 2022. Será?
Não estou tão seguro da correlação entre os eleitores americanos e brasileiros, como também não tenho certeza sobre o esvaziamento político de Bolsonaro
isabelarovaroto
Publicado em 24 de novembro de 2020 às 10h26.
Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 10h27.
Quando Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, muitos analistas viram semelhanças entre a eleição brasileira e a americana, que em 2016 havia ungido Donald Trump à Casa Branca. A ideia por trás dessa comparação foi a de que ambos tinham um perfil completamente diferente dos políticos tradicionais, de quem o eleitorado estaria farto (ignorou-se, neste momento, o fato de que Bolsonaro havia passado quatro mandatos no Parlamento, mas vamos deixar isso de lado por enquanto). Essa fórmula explicaria inclusive a ascensão de Emmanuel Macron na França, mesmo que o espectro ideológico que tenha escolhido o francês fosse bem diferente daquele que patrocinou a vitória de Trump.
Agora, temos a disseminação de análises que fazem novamente uma analogia entre os mandatários do Brasil e dos Estados Unidos. Ou seja, a derrota de Trump em 2020 antecipa um revés de Bolsonaro em 2022. Ontem, inclusive, o colunista do jornal O Globo, Fernando Gabeira, finalizou seu texto semanal da seguinte maneira: “Aqui Bolsonaro briga com a Europa para defender grileiros, incendiários e contrabandistas de madeira. (...) Até quando, não sei. Não passa de 2022, estou seguro”.
Não estou tão seguro desta correlação entre os eleitores americanos e brasileiros, como também não tenho certeza absoluta sobre o esvaziamento político irreversível do presidente. Os candidatos à prefeitura brindados com seu apoio perderam, é verdade, mas eram postulantes que dificilmente teriam sucesso. E alguns cientistas políticos, como Murillo de Aragão, acreditam que Bolsonaro foi responsável por colocar Marcello Crivella no segundo turno. Sem esse apoio, para Aragão, Crivella morreria na praia e chegaria, no máximo, em terceiro lugar.
Outro sinal surgiu nesta semana para questionar se o Bolsonarismo está de fato moribundo. Estamos falando da pesquisa realizada por EXAME e o Instituto IDEIA Big Data. Segundo este estudo, a popularidade de Jair Bolsonaro está em alta.
O índice de aprovação do presidente chegou a 41% contra 38 % atingidos em outubro (a performance de novembro é a mais alta desde fevereiro de 2019). Na outra ponta, a desaprovação diminuiu, caindo de 34% para 31%. Quem está neutro, sem aprovar nem desaprovar, faz parte de um grupo que soma 27%.
Aparentemente, existe uma contradição entre os números divulgados por EXAME e a performance dos candidatos bolsonaristas nas urnas. Mas talvez uma coisa não tenha a ver com a outra.
Como muitos observadores fazem questão de explicar, as eleições municipais têm pouca margem para discursos ideológicos – os eleitores querem escolher alguém que administre a cidade, não um líder de massas. É a velha máxima que diz: buraco de rua não tem partido político. O núcleo duro do governo aposta nesta versão. Para vários assessores planaltinos, levou a melhor nas urnas quem focou a campanha na solução dos problemas das cidades em vez de brandir apoios ou falar de temas comportamentais ou ideológicos.
Nessa mesma toada, os apoios conquistados pelos candidatos no segundo turno podem até ajudar ou prejudicar levemente, mas não serão responsáveis pelo resultado final do pleito. Os índices de certeza de voto nas maiores capitais parecem bastante sólidos, como mostram as pesquisas, e isso deve selar a apuração que será revelada na noite de domingo.
Se o conjunto de doutrinas político-econômico-sociais não têm exatamente grande influência sobre o eleitor que escolhe prefeito, o mesmo não se pode dizer sobre as eleições de 2022. Quando o assunto é eleger um presidente, o fator ideológico é importante. Mas o que se leva em consideração mesmo, como principal condição para definir quem ganha ou perde, é a economia.
Tomemos os resultados nas últimas eleições. Após o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, a economia enfrentava dificuldades e bater na tecla segundo a qual a inflação havia sido debelada pelos tucanos não funcionava mais. Neste cenário, Luiz Inácio Lula da Silva derrotou José Serra por 61,3 % dos votos válidos contra 38,7 %. No pleito seguinte, Lula – apesar de enfrentar acusações de corrupção por conta do escândalo do Mensalão – conseguiu uma boa performance econômica e bateu Geraldo Alckmin por 60,8 % contra 39,2 %.
A economia foi ainda cabo eleitoral de Dilma Rousseff, que com 56 % a 44 % despachou José Serra, pela segunda vez, para casa. A reeleição de Dilma mostra que já havia sinais de deterioração econômica, o que reduziu sua vantagem para 51,6 % em relação ao adversário Aécio Neves, que atingiu 48,4 %.
E Bolsonaro? Jogou assuntos econômicos no colo de Paulo Guedes e fustigou o esquerdismo e a corrupção, colocando a culpa pela crise brasileira no colo do PT. Funcionou: ele derrotou Fernando Haddad por 55,1 % a 44,9 %.
A eleição de 2022 terá um plebiscito ideológico ou a economia fará parte do debate, ocupando uma posição preponderante no debate?
Provavelmente veremos uma mistura desses dois tópicos. Chegaremos ao ano das eleições com Bolsonaro apresentando fadiga de material, assim como houve com Trump. Só que ele vai recuperar o discurso antipetista e torcer para um oponente de esquerda no segundo turno. Mas se houver uma recuperação forte da economia, ele chega com força na segunda etapa das eleições, qualquer que seja o seu oponente.
Vamos imaginar, por um instante, que a esquerda perca poder eleitoral em 2022 e que a economia mostre um resultado pífio até o início campanha (afetando, como diz o ex-ministro Delfim Netto, a parte mais importante do corpo humano: o bolso). Neste caso, é provável que tenhamos um crescimento das candidaturas de centro ou mesmo de outro nome da direita.
Como se pode ver, o jogo ainda não foi ganho e está aberto. Com Bolsonaro fraco ou forte, as cartas estão sendo embaralhadas e deverão ser apresentadas somente daqui a um ano e meio. Até lá, vamos manter os olhos postados nos índices de desemprego ou de variação do PIB. Desta vez, a performance de Bolsonaro dependerá sobremaneira destes dados – seja para o bem como para o mal.
Quando Jair Bolsonaro foi eleito em 2018, muitos analistas viram semelhanças entre a eleição brasileira e a americana, que em 2016 havia ungido Donald Trump à Casa Branca. A ideia por trás dessa comparação foi a de que ambos tinham um perfil completamente diferente dos políticos tradicionais, de quem o eleitorado estaria farto (ignorou-se, neste momento, o fato de que Bolsonaro havia passado quatro mandatos no Parlamento, mas vamos deixar isso de lado por enquanto). Essa fórmula explicaria inclusive a ascensão de Emmanuel Macron na França, mesmo que o espectro ideológico que tenha escolhido o francês fosse bem diferente daquele que patrocinou a vitória de Trump.
Agora, temos a disseminação de análises que fazem novamente uma analogia entre os mandatários do Brasil e dos Estados Unidos. Ou seja, a derrota de Trump em 2020 antecipa um revés de Bolsonaro em 2022. Ontem, inclusive, o colunista do jornal O Globo, Fernando Gabeira, finalizou seu texto semanal da seguinte maneira: “Aqui Bolsonaro briga com a Europa para defender grileiros, incendiários e contrabandistas de madeira. (...) Até quando, não sei. Não passa de 2022, estou seguro”.
Não estou tão seguro desta correlação entre os eleitores americanos e brasileiros, como também não tenho certeza absoluta sobre o esvaziamento político irreversível do presidente. Os candidatos à prefeitura brindados com seu apoio perderam, é verdade, mas eram postulantes que dificilmente teriam sucesso. E alguns cientistas políticos, como Murillo de Aragão, acreditam que Bolsonaro foi responsável por colocar Marcello Crivella no segundo turno. Sem esse apoio, para Aragão, Crivella morreria na praia e chegaria, no máximo, em terceiro lugar.
Outro sinal surgiu nesta semana para questionar se o Bolsonarismo está de fato moribundo. Estamos falando da pesquisa realizada por EXAME e o Instituto IDEIA Big Data. Segundo este estudo, a popularidade de Jair Bolsonaro está em alta.
O índice de aprovação do presidente chegou a 41% contra 38 % atingidos em outubro (a performance de novembro é a mais alta desde fevereiro de 2019). Na outra ponta, a desaprovação diminuiu, caindo de 34% para 31%. Quem está neutro, sem aprovar nem desaprovar, faz parte de um grupo que soma 27%.
Aparentemente, existe uma contradição entre os números divulgados por EXAME e a performance dos candidatos bolsonaristas nas urnas. Mas talvez uma coisa não tenha a ver com a outra.
Como muitos observadores fazem questão de explicar, as eleições municipais têm pouca margem para discursos ideológicos – os eleitores querem escolher alguém que administre a cidade, não um líder de massas. É a velha máxima que diz: buraco de rua não tem partido político. O núcleo duro do governo aposta nesta versão. Para vários assessores planaltinos, levou a melhor nas urnas quem focou a campanha na solução dos problemas das cidades em vez de brandir apoios ou falar de temas comportamentais ou ideológicos.
Nessa mesma toada, os apoios conquistados pelos candidatos no segundo turno podem até ajudar ou prejudicar levemente, mas não serão responsáveis pelo resultado final do pleito. Os índices de certeza de voto nas maiores capitais parecem bastante sólidos, como mostram as pesquisas, e isso deve selar a apuração que será revelada na noite de domingo.
Se o conjunto de doutrinas político-econômico-sociais não têm exatamente grande influência sobre o eleitor que escolhe prefeito, o mesmo não se pode dizer sobre as eleições de 2022. Quando o assunto é eleger um presidente, o fator ideológico é importante. Mas o que se leva em consideração mesmo, como principal condição para definir quem ganha ou perde, é a economia.
Tomemos os resultados nas últimas eleições. Após o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, a economia enfrentava dificuldades e bater na tecla segundo a qual a inflação havia sido debelada pelos tucanos não funcionava mais. Neste cenário, Luiz Inácio Lula da Silva derrotou José Serra por 61,3 % dos votos válidos contra 38,7 %. No pleito seguinte, Lula – apesar de enfrentar acusações de corrupção por conta do escândalo do Mensalão – conseguiu uma boa performance econômica e bateu Geraldo Alckmin por 60,8 % contra 39,2 %.
A economia foi ainda cabo eleitoral de Dilma Rousseff, que com 56 % a 44 % despachou José Serra, pela segunda vez, para casa. A reeleição de Dilma mostra que já havia sinais de deterioração econômica, o que reduziu sua vantagem para 51,6 % em relação ao adversário Aécio Neves, que atingiu 48,4 %.
E Bolsonaro? Jogou assuntos econômicos no colo de Paulo Guedes e fustigou o esquerdismo e a corrupção, colocando a culpa pela crise brasileira no colo do PT. Funcionou: ele derrotou Fernando Haddad por 55,1 % a 44,9 %.
A eleição de 2022 terá um plebiscito ideológico ou a economia fará parte do debate, ocupando uma posição preponderante no debate?
Provavelmente veremos uma mistura desses dois tópicos. Chegaremos ao ano das eleições com Bolsonaro apresentando fadiga de material, assim como houve com Trump. Só que ele vai recuperar o discurso antipetista e torcer para um oponente de esquerda no segundo turno. Mas se houver uma recuperação forte da economia, ele chega com força na segunda etapa das eleições, qualquer que seja o seu oponente.
Vamos imaginar, por um instante, que a esquerda perca poder eleitoral em 2022 e que a economia mostre um resultado pífio até o início campanha (afetando, como diz o ex-ministro Delfim Netto, a parte mais importante do corpo humano: o bolso). Neste caso, é provável que tenhamos um crescimento das candidaturas de centro ou mesmo de outro nome da direita.
Como se pode ver, o jogo ainda não foi ganho e está aberto. Com Bolsonaro fraco ou forte, as cartas estão sendo embaralhadas e deverão ser apresentadas somente daqui a um ano e meio. Até lá, vamos manter os olhos postados nos índices de desemprego ou de variação do PIB. Desta vez, a performance de Bolsonaro dependerá sobremaneira destes dados – seja para o bem como para o mal.