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Inflação, risco fiscal e as expectativas da indústria

Enquanto vivermos as incertezas estimuladas por declarações contraditórias do presidente, dificilmente a economia irá decolar para valer

Inflação (Justin Sullivan/AFP)

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 13h01.

Uma pesquisa do Banco Central, batizada de Firmus, ouviu quase cem empresas (fora do mercado financeiro) para saber quais seriam as suas expectativas para a economia em 2024 e 2025. O resultado foi diferente do que aponta o Boletim Focus, que compila as previsões dos agentes financeiros. O setor produtivo, por exemplo, aposta em uma inflação de 4% para este ano, enquanto os economistas ligados ao mundo das finanças apontam para um IPCA de 3,89% em 2024. Para o ano que vem, outra diferença: 4% (empresas não financeiras) contra 3,77% (mercado financeiro).

Muitos poderão dizer que as empresas de serviços e as indústrias trabalham diariamente sentindo a pulsação dos preços e podem ter maior capacidade para julgar o comportamento inflacionário do país – algo bastante próximo da realidade. Neste caso, as previsões do setor não financeiro são preocupantes para o governo. Em especial, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está fazendo do combate aos juros altos uma bandeira de sua administração.

Ninguém gosta de taxas altas. Mas, em um cenário em que a inflação mostra sinais de que não está debelada, a elevação dos juros parece ser a principal arma para combater a carestia.

Além disso, é preciso lembrar que os índices de inflação registram um crescimento médio de preços e expurgam oscilações de produtos que não são relevantes para o orçamento da família brasileira. Portanto, é bem possível que uma unidade familiar experimente uma inflação diferente da do vizinho, caso o perfil de compras seja diferente. O mesmo raciocínio vale para as indústrias que vivem uma alta de preços diferente da experimentada pelo comércio.

Temos que lembrar, ainda, que muitos brasileiros – especialmente os mais velhos – foram criados na época em que a espiral inflacionária estava totalmente descontrolada. No meu caso, por exemplo, lembro-me de pedir a meu pai um aumento de mesada quando tinha treze anos, já que o dinheiro que recebia tinha perdido poder de compra desde aquela época. Todas as pessoas da minha geração ficaram marcadas pela remarcação sistemática de etiquetas e podem turbinar preços com maior facilidade devido a este perfil psicológico.

Diante de um quadro desses, a preocupação com a responsabilidade fiscal do governo fica em estado de alerta, pois o presidente Lula já demonstrou publicamente sua disposição de baixar juros e aumentar gastos, sem respeitar as leis econômicas mais elementares. É bem verdade que, após dizer esse tipo de coisa, Lula volta atrás e apresenta justificativas na linha do “deixa-disso”.

Enquanto vivermos as incertezas estimuladas por declarações contraditórias do presidente, dificilmente a economia irá decolar para valer. Em artigo publicado ontem no jornal “O Globo”, a economista Zeina Latif colocou o dedo na ferida: “O empresário precisa de confiança para investir. Não enfrentar o risco fiscal e criar volatilidade é veneno para a indústria”.

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Uma pesquisa do Banco Central, batizada de Firmus, ouviu quase cem empresas (fora do mercado financeiro) para saber quais seriam as suas expectativas para a economia em 2024 e 2025. O resultado foi diferente do que aponta o Boletim Focus, que compila as previsões dos agentes financeiros. O setor produtivo, por exemplo, aposta em uma inflação de 4% para este ano, enquanto os economistas ligados ao mundo das finanças apontam para um IPCA de 3,89% em 2024. Para o ano que vem, outra diferença: 4% (empresas não financeiras) contra 3,77% (mercado financeiro).

Muitos poderão dizer que as empresas de serviços e as indústrias trabalham diariamente sentindo a pulsação dos preços e podem ter maior capacidade para julgar o comportamento inflacionário do país – algo bastante próximo da realidade. Neste caso, as previsões do setor não financeiro são preocupantes para o governo. Em especial, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está fazendo do combate aos juros altos uma bandeira de sua administração.

Ninguém gosta de taxas altas. Mas, em um cenário em que a inflação mostra sinais de que não está debelada, a elevação dos juros parece ser a principal arma para combater a carestia.

Além disso, é preciso lembrar que os índices de inflação registram um crescimento médio de preços e expurgam oscilações de produtos que não são relevantes para o orçamento da família brasileira. Portanto, é bem possível que uma unidade familiar experimente uma inflação diferente da do vizinho, caso o perfil de compras seja diferente. O mesmo raciocínio vale para as indústrias que vivem uma alta de preços diferente da experimentada pelo comércio.

Temos que lembrar, ainda, que muitos brasileiros – especialmente os mais velhos – foram criados na época em que a espiral inflacionária estava totalmente descontrolada. No meu caso, por exemplo, lembro-me de pedir a meu pai um aumento de mesada quando tinha treze anos, já que o dinheiro que recebia tinha perdido poder de compra desde aquela época. Todas as pessoas da minha geração ficaram marcadas pela remarcação sistemática de etiquetas e podem turbinar preços com maior facilidade devido a este perfil psicológico.

Diante de um quadro desses, a preocupação com a responsabilidade fiscal do governo fica em estado de alerta, pois o presidente Lula já demonstrou publicamente sua disposição de baixar juros e aumentar gastos, sem respeitar as leis econômicas mais elementares. É bem verdade que, após dizer esse tipo de coisa, Lula volta atrás e apresenta justificativas na linha do “deixa-disso”.

Enquanto vivermos as incertezas estimuladas por declarações contraditórias do presidente, dificilmente a economia irá decolar para valer. Em artigo publicado ontem no jornal “O Globo”, a economista Zeina Latif colocou o dedo na ferida: “O empresário precisa de confiança para investir. Não enfrentar o risco fiscal e criar volatilidade é veneno para a indústria”.

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