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Com a pandemia, é hora de mudar de ramo?

Hoje, o nome Virgin está ligado ao transporte aéreo ou mesmo espacial. Mas o fundador do grupo, Richard Branson, começou sua carreira no mundo da música

Richard Branson: do mundo da música para companhias aéreas e para o espaço (Justin Sullivan/Getty Images)
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felipegiacomelli

Publicado em 18 de julho de 2020 às 09h48.

Nomes que hoje parecem tradicionais em seus mercados nem sempre atuaram naqueles setores em que se tornaram conhecidos. São empresas cujos acionistas ou dirigentes enxergaram mudanças inexoráveis em seus ramos de atuação, enfrentando dificuldades tão pujantes que a melhor decisão foi simplesmente abandonar o barco e cantar em outra freguesia.

No momento atual, no qual alguns setores claramente se mostram apáticos e passíveis de inúmeras consolidações, há – neste exato momento – empreendedores cogitando uma mudança radical em suas pessoas jurídicas.

Não se trata de uma decisão fácil. Afinal, o ramo de uma empresa tem a ver com as habilidades e capacidades de seus fundadores. Portanto, largar uma ideia original e partir para outra, totalmente nova, é algo que exige uma enorme coragem.

Hoje, por exemplo, o nome Virgin está ligado ao transporte aéreo ou mesmo espacial. Mas o fundador do grupo, Richard Branson , começou sua carreira no mundo da música, com uma gravadora e uma rede de lojas de discos. Um de seus primeiros sucessos foi o álbum Tubular Bells, que virou a trilha sonora do filme “O Exorcista” e vendeu milhões de cópias no mundo inteiro. Branson, porém, viu que poderia crescer em outros mercados e foi diversificando suas operações, até entrar no ramo da aviação, de olho em um público sofisticado que queria serviços diferenciados em viagens internacionais. Daí para pensar em turismo espacial foi um pulo – e a Virgin Galactic surgiu em 2004. A empresa já mandou uma aeronave experimental duas vezes aos espaço e deve, em breve, trabalhar o conceito de turismo sideral.

Há mudanças menos radicais. A Siemens, hoje, é um conglomerado que atua em diversas áreas da tecnologia e motorização. Mas começou fabricando telégrafos e, nos anos 1950, produzia até aparelhos de som. Aqui no Brasil, por exemplo, vendia aqueles móveis gigantescos que continham toca-discos e rádio acoplados. Seu nome? “Estereola”.

A Avon, que hoje pertence à Natura é à associada à venda doméstica de cosméticos, teve um início de vida bem diferente. A companhia foi concebida para trabalhar no chamado mercado porta a porta. Só que vendia livros em vez de maquiagens e batons. Outro exemplo? A marca American Express, hoje reconhecida no mundo inteiro por estampar cartões de crédito, batizou a empresa desde o início de suas atividades, em 1850. Sua atividade no século 19? Fretes e entregas.
Mudar de ramo, apesar de complicado, pode parecer uma saída lógica quando os negócios vão mal. Mas e quando as coisas vão bem? Quem seria maluco de abandonar um mercado no qual se está ganhando dinheiro?

Um desses malucos atendia pelo nome de Jack Welch, que de doido não tinha nada. Welch, morto em março deste ano, fez uma verdadeira faxina da General Electric quando assumiu a presidência da empresa em 1981. A GE era um conglomerado gigantesco e diversificado – diversificado até demais para o gosto dele. Sua filosofia foi simples: vender ou fechar todas as divisões nas quais a sua empresa não ocupasse a primeira ou a segunda posição de seus respectivos segmentos.

No início dos anos 1980, a administração dos grandes conglomerados era conservadora e padecia de lentidão. Jack Welch mudou completamente esse panorama e botou para quebrar. Fechou ou passou adiante nada menos que 117 unidades de negócios e demitiu mais de 100 000 funcionários. Ganhou, por conta deste movimento, um apelido que o seguiria por toda a vida: “Neutron Jack”. A alcunha fazia alusão à bomba de nêutrons, que, numa guerra, teoricamente mataria as pessoas e deixaria os prédios intactos. Como a estratégia na GE deixou inúmeros prédios vazios, o CEO do grupo ganhou o epíteto ligado à exterminação de vagas.

Mas, no fundo, ele estava certo. Assumiu uma empresa que valia US$ 13 bilhões e, quando deixou seu comando, a GE era avaliada em US$ 410 bilhões.

Numa autobiografia escrita nos anos 1990, na qual gastou boa parte da narrativa contando suas peripécias na área de plásticos do grupo (um assunto chato de doer), Welch mostrou que sempre estava disposto a mudar em qualquer aspecto de sua vida. Numa passagem, ele conta o primeiro final de semana que passou com sua então namorada, com quem se casaria em segundas núpcias mais tarde, num resort cinco estrelas. No sábado, acordou às 5 horas da manhã, pegou seus tacos e foi ao campo de golfe, voltando apenas ao final da tarde. Chegando no quarto, encontrou a moça soltando fogo pelas narinas. Ele não entendeu o porquê da raiva. Ela, então, explicou que esperava passar aqueles dias com ele e ficou sozinha durante horas. Neste momento, Welch percebeu que fizera a mesma coisa durante anos a fio com sua ex-mulher e não tinha sequer percebido se ela gostava ou não de ficar por conta própria nestas ocasiões. Resolveu, pois, mudar sua agenda para acomodar o golfe, uma de suas paixões, ao convívio conjugal. Colocou em prática, na vida pessoal, uma de suas regras do dia a dia corporativo: “Nada é sagrado. A mudança é a regra, não a exceção”.

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Nomes que hoje parecem tradicionais em seus mercados nem sempre atuaram naqueles setores em que se tornaram conhecidos. São empresas cujos acionistas ou dirigentes enxergaram mudanças inexoráveis em seus ramos de atuação, enfrentando dificuldades tão pujantes que a melhor decisão foi simplesmente abandonar o barco e cantar em outra freguesia.

No momento atual, no qual alguns setores claramente se mostram apáticos e passíveis de inúmeras consolidações, há – neste exato momento – empreendedores cogitando uma mudança radical em suas pessoas jurídicas.

Não se trata de uma decisão fácil. Afinal, o ramo de uma empresa tem a ver com as habilidades e capacidades de seus fundadores. Portanto, largar uma ideia original e partir para outra, totalmente nova, é algo que exige uma enorme coragem.

Hoje, por exemplo, o nome Virgin está ligado ao transporte aéreo ou mesmo espacial. Mas o fundador do grupo, Richard Branson , começou sua carreira no mundo da música, com uma gravadora e uma rede de lojas de discos. Um de seus primeiros sucessos foi o álbum Tubular Bells, que virou a trilha sonora do filme “O Exorcista” e vendeu milhões de cópias no mundo inteiro. Branson, porém, viu que poderia crescer em outros mercados e foi diversificando suas operações, até entrar no ramo da aviação, de olho em um público sofisticado que queria serviços diferenciados em viagens internacionais. Daí para pensar em turismo espacial foi um pulo – e a Virgin Galactic surgiu em 2004. A empresa já mandou uma aeronave experimental duas vezes aos espaço e deve, em breve, trabalhar o conceito de turismo sideral.

Há mudanças menos radicais. A Siemens, hoje, é um conglomerado que atua em diversas áreas da tecnologia e motorização. Mas começou fabricando telégrafos e, nos anos 1950, produzia até aparelhos de som. Aqui no Brasil, por exemplo, vendia aqueles móveis gigantescos que continham toca-discos e rádio acoplados. Seu nome? “Estereola”.

A Avon, que hoje pertence à Natura é à associada à venda doméstica de cosméticos, teve um início de vida bem diferente. A companhia foi concebida para trabalhar no chamado mercado porta a porta. Só que vendia livros em vez de maquiagens e batons. Outro exemplo? A marca American Express, hoje reconhecida no mundo inteiro por estampar cartões de crédito, batizou a empresa desde o início de suas atividades, em 1850. Sua atividade no século 19? Fretes e entregas.
Mudar de ramo, apesar de complicado, pode parecer uma saída lógica quando os negócios vão mal. Mas e quando as coisas vão bem? Quem seria maluco de abandonar um mercado no qual se está ganhando dinheiro?

Um desses malucos atendia pelo nome de Jack Welch, que de doido não tinha nada. Welch, morto em março deste ano, fez uma verdadeira faxina da General Electric quando assumiu a presidência da empresa em 1981. A GE era um conglomerado gigantesco e diversificado – diversificado até demais para o gosto dele. Sua filosofia foi simples: vender ou fechar todas as divisões nas quais a sua empresa não ocupasse a primeira ou a segunda posição de seus respectivos segmentos.

No início dos anos 1980, a administração dos grandes conglomerados era conservadora e padecia de lentidão. Jack Welch mudou completamente esse panorama e botou para quebrar. Fechou ou passou adiante nada menos que 117 unidades de negócios e demitiu mais de 100 000 funcionários. Ganhou, por conta deste movimento, um apelido que o seguiria por toda a vida: “Neutron Jack”. A alcunha fazia alusão à bomba de nêutrons, que, numa guerra, teoricamente mataria as pessoas e deixaria os prédios intactos. Como a estratégia na GE deixou inúmeros prédios vazios, o CEO do grupo ganhou o epíteto ligado à exterminação de vagas.

Mas, no fundo, ele estava certo. Assumiu uma empresa que valia US$ 13 bilhões e, quando deixou seu comando, a GE era avaliada em US$ 410 bilhões.

Numa autobiografia escrita nos anos 1990, na qual gastou boa parte da narrativa contando suas peripécias na área de plásticos do grupo (um assunto chato de doer), Welch mostrou que sempre estava disposto a mudar em qualquer aspecto de sua vida. Numa passagem, ele conta o primeiro final de semana que passou com sua então namorada, com quem se casaria em segundas núpcias mais tarde, num resort cinco estrelas. No sábado, acordou às 5 horas da manhã, pegou seus tacos e foi ao campo de golfe, voltando apenas ao final da tarde. Chegando no quarto, encontrou a moça soltando fogo pelas narinas. Ele não entendeu o porquê da raiva. Ela, então, explicou que esperava passar aqueles dias com ele e ficou sozinha durante horas. Neste momento, Welch percebeu que fizera a mesma coisa durante anos a fio com sua ex-mulher e não tinha sequer percebido se ela gostava ou não de ficar por conta própria nestas ocasiões. Resolveu, pois, mudar sua agenda para acomodar o golfe, uma de suas paixões, ao convívio conjugal. Colocou em prática, na vida pessoal, uma de suas regras do dia a dia corporativo: “Nada é sagrado. A mudança é a regra, não a exceção”.

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