Carta a Bruno Covas: reabra os parques
Por que podemos fazer compras na cidade e somos proibidos de fazer caminhadas pelos parques do município?
Clara Cerioni
Publicado em 5 de julho de 2020 às 09h57.
Caro Prefeito Bruno Covas,
Hoje é domingo. E, como boa parte dos paulistanos, gostava de separar este dia para caminhar pelo parque que fica perto da minha casa. Ao acordar, percebi que a manhã estava do jeito que gosto. Um sol aparecendo no meio do nevoeiro, com temperatura amena, num clima típico deste início de inverno.
Porém, mais uma vez, suprimi a vontade de caminhar ao lado das árvores e admirar as águas plácidas do lago que fica bem no começo do meu trajeto habitual. Desde o dia 21 de março, o senhor proibiu a circulação de pessoas nos parques – ou seja, neste cinco de julho de 2020, estamos há exatos três meses e meio sem poder passear por estes espaços públicos.
Fica a dúvida: por que podemos fazer compras na cidade e somos proibidos de fazer caminhadas pelos parques do município?
O coordenador do comitê de saúde do estado de São Paulo, o médico Carlos Carvalho, falou sobre o assunto há três semanas. “Às vezes, no shopping center, você consegue um controle melhor desse distanciamento do que se pode conseguir em um parque, que é uma região aberta, que favorece aglomerações”, afirmou durante uma entrevista coletiva.
Seria o caso de se perguntar ao senhor prefeito ou ao doutor Carvalho: vocês viram as aglomerações que se formam na rua 25 de março? Posso garantir que há mais gente aglomerada neste logradouro do que já vi nos Ibirapueras da vida.
Falando de outra freguesia – a do Rio de Janeiro –, sobre concentração de pessoas. Uma multidão foi vista recentemente nas calçadas do Leblon, por conta da reabertura dos bares. No dia 7, estes mesmos estabelecimentos vão reabrir em São Paulo e terão de seguir normas e protocolos de saúde. Com um público jovem completamente enfastiado diante do isolamento social prolongado, é possível esperar um certo congestionamento também nas calçadas paulistanas.
Por isso, prefeito, aqui vão mais algumas questões. O que é pior? Circulação de pessoas em um ambiente fechado ou pessoas caminhando em um parque, ao ar livre? Outra pergunta: o que pode trazer maiores riscos de contágio? Muita gente parada em uma calçada, retirando a máscara para consumir bebidas alcoólicas ou andando em um espaço público?
Seu irmão de armas, o coordenador do comitê de saúde, falou do perigo que espaços como o Parque do Carmo ou o Ibirapuera podem trazer por conta de agrupamentos. Em todos esses locais, no entanto, há (ou deveria haver) policiais da sua Guarda Municipal. É só colocar alguns guardas para dizer uma palavra mágica (“Circulando!”) que o problema será resolvido.
Senhor prefeito, nas grandes cidades do mundo, estes locais ficaram abertos, com algumas restrições. Em Nova York, por exemplo, esportes em grupo (futebol, basquete etc.) foram proibidos. Mas caminhadas, corridas e outros tipos de exercícios físicos são permitidos – e distanciamento físico entre as pessoas recomendado. Nas cidades que adotaram medidas mais restritivas de circulação, como na Espanha e na Itália, os parques evidentemente foram fechados. Não é o nosso caso por aqui.
Na cidade de São Paulo, no entanto, o fechamento desses locais públicos foi acompanhado de medidas que beiraram o estapafúrdio, como um rodízio ensandecido de automóveis e antecipação de feriados (o próximo 9 de julho, por exemplo, passará em brancas nuvens, pois foi adiantado – sem comemorações – para o dia 25 de maio).
Talvez a sua decisão de fechar os parques, naquele determinado momento, tivesse algum efeito sanitário ou mesmo fosse necessária para passar uma mensagem de que o momento era grave e precisaria de uma dose de sacrifício de todos os cidadãos paulistanos. Vamos dizer que, a título de argumentação, o senhor estivesse certo neste aspecto.
Mas, agora, quando o comércio está entrando em sua segunda fase de liberação (com a reabertura de bares e restaurantes), por que os portões dos parques continuam cerrados? Não se pode dizer que a prefeitura paulistana tenha sido coerente em todas as ações de combate à pandemia. Fechar os parques, pelo jeito, está na categoria de combater o coronavírus com medidas aleatórias. E com um efeito colateral: proibindo indiretamente atividades físicas desejáveis e gratuitas.
Assim, prefeito, faça um favor a mim e a milhões de cidadãos da sua cidade: abra as portas dos parques. O mais rápido possível.
Atenciosamente,
Aluizio Falcão Filho
Caro Prefeito Bruno Covas,
Hoje é domingo. E, como boa parte dos paulistanos, gostava de separar este dia para caminhar pelo parque que fica perto da minha casa. Ao acordar, percebi que a manhã estava do jeito que gosto. Um sol aparecendo no meio do nevoeiro, com temperatura amena, num clima típico deste início de inverno.
Porém, mais uma vez, suprimi a vontade de caminhar ao lado das árvores e admirar as águas plácidas do lago que fica bem no começo do meu trajeto habitual. Desde o dia 21 de março, o senhor proibiu a circulação de pessoas nos parques – ou seja, neste cinco de julho de 2020, estamos há exatos três meses e meio sem poder passear por estes espaços públicos.
Fica a dúvida: por que podemos fazer compras na cidade e somos proibidos de fazer caminhadas pelos parques do município?
O coordenador do comitê de saúde do estado de São Paulo, o médico Carlos Carvalho, falou sobre o assunto há três semanas. “Às vezes, no shopping center, você consegue um controle melhor desse distanciamento do que se pode conseguir em um parque, que é uma região aberta, que favorece aglomerações”, afirmou durante uma entrevista coletiva.
Seria o caso de se perguntar ao senhor prefeito ou ao doutor Carvalho: vocês viram as aglomerações que se formam na rua 25 de março? Posso garantir que há mais gente aglomerada neste logradouro do que já vi nos Ibirapueras da vida.
Falando de outra freguesia – a do Rio de Janeiro –, sobre concentração de pessoas. Uma multidão foi vista recentemente nas calçadas do Leblon, por conta da reabertura dos bares. No dia 7, estes mesmos estabelecimentos vão reabrir em São Paulo e terão de seguir normas e protocolos de saúde. Com um público jovem completamente enfastiado diante do isolamento social prolongado, é possível esperar um certo congestionamento também nas calçadas paulistanas.
Por isso, prefeito, aqui vão mais algumas questões. O que é pior? Circulação de pessoas em um ambiente fechado ou pessoas caminhando em um parque, ao ar livre? Outra pergunta: o que pode trazer maiores riscos de contágio? Muita gente parada em uma calçada, retirando a máscara para consumir bebidas alcoólicas ou andando em um espaço público?
Seu irmão de armas, o coordenador do comitê de saúde, falou do perigo que espaços como o Parque do Carmo ou o Ibirapuera podem trazer por conta de agrupamentos. Em todos esses locais, no entanto, há (ou deveria haver) policiais da sua Guarda Municipal. É só colocar alguns guardas para dizer uma palavra mágica (“Circulando!”) que o problema será resolvido.
Senhor prefeito, nas grandes cidades do mundo, estes locais ficaram abertos, com algumas restrições. Em Nova York, por exemplo, esportes em grupo (futebol, basquete etc.) foram proibidos. Mas caminhadas, corridas e outros tipos de exercícios físicos são permitidos – e distanciamento físico entre as pessoas recomendado. Nas cidades que adotaram medidas mais restritivas de circulação, como na Espanha e na Itália, os parques evidentemente foram fechados. Não é o nosso caso por aqui.
Na cidade de São Paulo, no entanto, o fechamento desses locais públicos foi acompanhado de medidas que beiraram o estapafúrdio, como um rodízio ensandecido de automóveis e antecipação de feriados (o próximo 9 de julho, por exemplo, passará em brancas nuvens, pois foi adiantado – sem comemorações – para o dia 25 de maio).
Talvez a sua decisão de fechar os parques, naquele determinado momento, tivesse algum efeito sanitário ou mesmo fosse necessária para passar uma mensagem de que o momento era grave e precisaria de uma dose de sacrifício de todos os cidadãos paulistanos. Vamos dizer que, a título de argumentação, o senhor estivesse certo neste aspecto.
Mas, agora, quando o comércio está entrando em sua segunda fase de liberação (com a reabertura de bares e restaurantes), por que os portões dos parques continuam cerrados? Não se pode dizer que a prefeitura paulistana tenha sido coerente em todas as ações de combate à pandemia. Fechar os parques, pelo jeito, está na categoria de combater o coronavírus com medidas aleatórias. E com um efeito colateral: proibindo indiretamente atividades físicas desejáveis e gratuitas.
Assim, prefeito, faça um favor a mim e a milhões de cidadãos da sua cidade: abra as portas dos parques. O mais rápido possível.
Atenciosamente,
Aluizio Falcão Filho