Carrefour: como produzir um desastre de relações-públicas
A nota da empresa, que se comprometeu a não comprar carne do Mercosul para suas lojas na França, gerou desgaste enorme para a imagem do grupo no Brasil
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Publicado em 25 de novembro de 2024 às 21h09.
O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, conseguiu, com uma nota publicada em redes sociais, criar um verdadeiro desastre de relações-públicas, que pode prejudicar em muito a rede de supermercados no Brasil. “Em toda a França, ouvimos a confusão e a raiva dos agricultores em relação ao projeto de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul e ao risco de transbordar no mercado francês de uma produção de carne que não respeita suas exigências e padrões”, escreveu Bompard. “É fazendo um bloqueio que podemos tranquilizar os produtores franceses. No Carrefour, estamos prontos para isso”.
Bompard criou um boicote no qual os supostos compradores já não adquirem o produto em questão: entre janeiro e outubro deste ano, as exportações de carne do Brasil para a França corresponderam a 0,002% do total. Ao jogar para a torcida, repetiu a patriotada europeia cometida pelo diretor financeiro do grupo Danone, Jurgen Esser, que afirmou em outubro que não compraria mais soja brasileira, insinuando que a commodity produzida pelos agricultores nacionais não seria sustentável.
Ocorre que a Danone é uma fornecedora de laticínios e ocupa o terceiro lugar de seu setor no mercado brasileiro. Já o Carrefour é o maior grupo varejista estabelecido no Brasil e tem, além da marca que dá nome à organização, redes como Atacadão, Sam’s Club e Bompreço.
Se o Carrefour na França já não trabalha com carne brasileira há tempos, muitos brasileiros fazem compras diariamente nas lojas nacionais da rede. A reação à declaração infeliz de Bompard veio a galope, com várias instituições sugerindo um boicote de verdade às gondolas do grupo francês. Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sociedade Rural Brasileira e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) emitiram notas condenando a posição do Carrefour.
O protecionismo é muito forte na Europa. Por isso, as declarações de Bompard, embora desastrosas, não causam surpresa. Mas o Carrefour deixou de ser uma empresa exclusivamente francesa há muito tempo e está no Brasil desde a década de 1970. Deveria pensar mais como uma multinacional do que uma companhia atuando exclusivamente na França.
A nota de Bompard, além de agradar os fornecedores franceses, tem um outro propósito: minar qualquer movimento que aproxime a União Europeia do Mercosul e causar desconfianças nos compradores internacionais sobre a carne latino-americana.
Em nota, o Carrefour afirmou que a medida anunciada “se aplica apenas às lojas na França” e destacou: “Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”.
É provável que, com o tempo, essa crise seja contornada, mas o assunto será relembrado durante muito tempo. É impressionante como certos executivos sejam irresponsáveis a ponto de, em nome de um lobby local, criar um constrangimento intercontinental, além de causar dificuldades para uma de suas maiores operações no globo.
Os ataques de empresas francesas a produtos brasileiros conflitam em demasia com as recentes fotos tiradas durante a reunião do G-20 no Rio de Janeiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou fotografias mais ou menos protocolares com os presidentes de outras nações (com direito a um climão com Javier Milei). Mas nenhum instantâneo foi tão efusivo e amigável quanto o que reuniu Lula e Emmanuel Macron, o mandatário francês.
A pergunta que não quer calar é: Macron está sendo falso com Lula ou não tem liderança sobre os empresários franceses?
O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, conseguiu, com uma nota publicada em redes sociais, criar um verdadeiro desastre de relações-públicas, que pode prejudicar em muito a rede de supermercados no Brasil. “Em toda a França, ouvimos a confusão e a raiva dos agricultores em relação ao projeto de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul e ao risco de transbordar no mercado francês de uma produção de carne que não respeita suas exigências e padrões”, escreveu Bompard. “É fazendo um bloqueio que podemos tranquilizar os produtores franceses. No Carrefour, estamos prontos para isso”.
Bompard criou um boicote no qual os supostos compradores já não adquirem o produto em questão: entre janeiro e outubro deste ano, as exportações de carne do Brasil para a França corresponderam a 0,002% do total. Ao jogar para a torcida, repetiu a patriotada europeia cometida pelo diretor financeiro do grupo Danone, Jurgen Esser, que afirmou em outubro que não compraria mais soja brasileira, insinuando que a commodity produzida pelos agricultores nacionais não seria sustentável.
Ocorre que a Danone é uma fornecedora de laticínios e ocupa o terceiro lugar de seu setor no mercado brasileiro. Já o Carrefour é o maior grupo varejista estabelecido no Brasil e tem, além da marca que dá nome à organização, redes como Atacadão, Sam’s Club e Bompreço.
Se o Carrefour na França já não trabalha com carne brasileira há tempos, muitos brasileiros fazem compras diariamente nas lojas nacionais da rede. A reação à declaração infeliz de Bompard veio a galope, com várias instituições sugerindo um boicote de verdade às gondolas do grupo francês. Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (Fhoresp), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sociedade Rural Brasileira e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) emitiram notas condenando a posição do Carrefour.
O protecionismo é muito forte na Europa. Por isso, as declarações de Bompard, embora desastrosas, não causam surpresa. Mas o Carrefour deixou de ser uma empresa exclusivamente francesa há muito tempo e está no Brasil desde a década de 1970. Deveria pensar mais como uma multinacional do que uma companhia atuando exclusivamente na França.
A nota de Bompard, além de agradar os fornecedores franceses, tem um outro propósito: minar qualquer movimento que aproxime a União Europeia do Mercosul e causar desconfianças nos compradores internacionais sobre a carne latino-americana.
Em nota, o Carrefour afirmou que a medida anunciada “se aplica apenas às lojas na França” e destacou: “Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”.
É provável que, com o tempo, essa crise seja contornada, mas o assunto será relembrado durante muito tempo. É impressionante como certos executivos sejam irresponsáveis a ponto de, em nome de um lobby local, criar um constrangimento intercontinental, além de causar dificuldades para uma de suas maiores operações no globo.
Os ataques de empresas francesas a produtos brasileiros conflitam em demasia com as recentes fotos tiradas durante a reunião do G-20 no Rio de Janeiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tirou fotografias mais ou menos protocolares com os presidentes de outras nações (com direito a um climão com Javier Milei). Mas nenhum instantâneo foi tão efusivo e amigável quanto o que reuniu Lula e Emmanuel Macron, o mandatário francês.
A pergunta que não quer calar é: Macron está sendo falso com Lula ou não tem liderança sobre os empresários franceses?