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As semelhanças entre Lula e Bolsonaro quando brigam

Em várias ocasiões, Bolsonaro fazia questão de fustigar a Petrobras e dizer que não tinha nada a ver com os preços altos nas bombas dos postos

Veja a nova coluna do Money Report (Lula: Nelson Almeida/Getty Images - Bolsonaro: Clauber Cleber Caetano/PR/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de março de 2023 às 20h17.

Talvez não existam seres humanos tão diferentes quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois diferem em quase tudo, desde a ideologia até o comportamento, do estilo de gerir uma equipe ao grupo de amigos mais próximos. Mas, em pelo menos um ponto eles são bastante parecidos: o jeito de brigar, colocando a responsabilidade de algum problema em alguém que se transforma em oponente.

Tome-se a pendenga que o presidente Lula criou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Esse desentendimento é muito parecido com a rixa patrocinada por Bolsonaro com pelo menos três presidentes da Petrobras. Lula nada pode fazer para interferir na política monetária, que está nas mãos de Roberto Campos, dono de um mandato que vai até 2024. Já Bolsonaro tinha de engolir o sistema de formação de preços da Petrobras, que – segundo o estatuto da empresa – precisa seguir a paridade internacional.

Em várias ocasiões, Bolsonaro fazia questão de fustigar a Petrobras e dizer que não tinha nada a ver com os preços altos nas bombas dos postos. “Quanto mais o povo está sofrendo, mais felizes estão os diretores e o atual presidente da Petrobras”, disparou em uma ocasião.

De seu lado, sempre que pode, Lula dá uma estocada em Campos Neto. Ontem, por exemplo, ele disse ao site Brasil 247: “Uma coisa que eu acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75%, num momento em que a gente tem o juro mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda. Eu vou continuar batendo, eu vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para que a economia possa ter investimento”.

Lula vê a economia desacelerar, por conta das altas taxas, e esperneia. Ocorre que, em determinados momentos, o remédio para resolver questões como a inflação em alta é mesmo amargo e acaba desagradando a todos. Entende-se que não estamos passando por uma inflação de demanda. Mas os preços continuam subindo. E, por mais que esse remédio seja ruim, ainda não conhecemos outra forma de debelar a alta inflacionária.

O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem uma boa definição sobre os juros altos: o ideal é que as pessoas se movimentem e façam exercício. Só que, raciocina ele, em determinados momentos, um paciente pode estar muito mal e ter de ficar em repouso absoluto. Os juros altos seriam esse momento de parada total – algo longe do ideal, mas usado em momento de emergência.

Anteontem, Lula voltou a cutucar o presidente do BC e, de quebra, a maioria dos economistas brasileiros: ele disse que os livros de economia estão “superados” e que nada poderia justificar os juros reais que são praticados no Brasil.

Imaginemos, agora, que o Banco Central não tivesse conquistado sua independência – e que para o lugar de Campos tivesse ido um dos ícones da heterodoxia econômica. Os juros estariam bem menores e provavelmente estaríamos com os preços em aceleração, como ocorreu em um passado recente na Argentina. Vamos torcer para que a inflação esteja sob controle quando Campos Neto for substituído ao final de 2024. Caso contrário, o substituto indicado por Lula pode causar estragos consideráveis no panorama econômico.

Tem dias, no Brasil, que até o mais otimista dos otimistas tem dificuldades para acreditar no país e seguir em frente.

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Talvez não existam seres humanos tão diferentes quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois diferem em quase tudo, desde a ideologia até o comportamento, do estilo de gerir uma equipe ao grupo de amigos mais próximos. Mas, em pelo menos um ponto eles são bastante parecidos: o jeito de brigar, colocando a responsabilidade de algum problema em alguém que se transforma em oponente.

Tome-se a pendenga que o presidente Lula criou com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Esse desentendimento é muito parecido com a rixa patrocinada por Bolsonaro com pelo menos três presidentes da Petrobras. Lula nada pode fazer para interferir na política monetária, que está nas mãos de Roberto Campos, dono de um mandato que vai até 2024. Já Bolsonaro tinha de engolir o sistema de formação de preços da Petrobras, que – segundo o estatuto da empresa – precisa seguir a paridade internacional.

Em várias ocasiões, Bolsonaro fazia questão de fustigar a Petrobras e dizer que não tinha nada a ver com os preços altos nas bombas dos postos. “Quanto mais o povo está sofrendo, mais felizes estão os diretores e o atual presidente da Petrobras”, disparou em uma ocasião.

De seu lado, sempre que pode, Lula dá uma estocada em Campos Neto. Ontem, por exemplo, ele disse ao site Brasil 247: “Uma coisa que eu acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75%, num momento em que a gente tem o juro mais alto do mundo, num momento em que não existe uma crise de demanda, não existe excesso de demanda. Eu vou continuar batendo, eu vou continuar tentando brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros, para que a economia possa ter investimento”.

Lula vê a economia desacelerar, por conta das altas taxas, e esperneia. Ocorre que, em determinados momentos, o remédio para resolver questões como a inflação em alta é mesmo amargo e acaba desagradando a todos. Entende-se que não estamos passando por uma inflação de demanda. Mas os preços continuam subindo. E, por mais que esse remédio seja ruim, ainda não conhecemos outra forma de debelar a alta inflacionária.

O ex-ministro e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem uma boa definição sobre os juros altos: o ideal é que as pessoas se movimentem e façam exercício. Só que, raciocina ele, em determinados momentos, um paciente pode estar muito mal e ter de ficar em repouso absoluto. Os juros altos seriam esse momento de parada total – algo longe do ideal, mas usado em momento de emergência.

Anteontem, Lula voltou a cutucar o presidente do BC e, de quebra, a maioria dos economistas brasileiros: ele disse que os livros de economia estão “superados” e que nada poderia justificar os juros reais que são praticados no Brasil.

Imaginemos, agora, que o Banco Central não tivesse conquistado sua independência – e que para o lugar de Campos tivesse ido um dos ícones da heterodoxia econômica. Os juros estariam bem menores e provavelmente estaríamos com os preços em aceleração, como ocorreu em um passado recente na Argentina. Vamos torcer para que a inflação esteja sob controle quando Campos Neto for substituído ao final de 2024. Caso contrário, o substituto indicado por Lula pode causar estragos consideráveis no panorama econômico.

Tem dias, no Brasil, que até o mais otimista dos otimistas tem dificuldades para acreditar no país e seguir em frente.

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