Achou pesado o clima eleitoral em 2018? O de 2022 vai ser pior
A polarização vai elevar a temperatura do debate eleitoral a um nível jamais visto
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2022 às 11h15.
Aluizio Falcão Filho
A polarização política que tivemos em 2018, suficiente para criar cizânias familiares e romper longas amizades, foi traumatizante para muitos. A escolha de um candidato a presidente ganhou o centro das discussões e mexeu muito com o aspecto emocional da sociedade. Passada essa etapa, havia a esperança de que os ânimos serenassem no pleito seguinte. O que se observa nesses primeiros meses do ano, no entanto, é que o clima deve ficar ainda mais pesado do que quatro anos atrás.
A grande mola propulsora de 2018 era a aversão às acusações de corrupção enfrentadas elo PT e que levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cadeia. Esse tema pautou a campanha e polarizou a sociedade, deixando uma minoria isolada entre os grupos majoritários. Hoje, esse grupo minoritário aumentou, mas ainda não tem força para viabilizar o que se convencionou chamar de Terceira Via.
Diferenças em relação a 2018
Há algumas diferenças que tornaram o cenário atual diferente daquele vivido durante as últimas eleições presidenciais. Em primeiro lugar, o candidato do PT é Lula em vez de Fernando Haddad. De um lado, a rejeição ao nome do petista caiu, como mostram as pesquisas – mas seu nome ainda causa repulsa entre os eleitores à direita e defensores da Operação Lava-Jato. Entre os que rejeitam Lula também estão indivíduos alinhados com o Centro (mas não todos deste quadrante). Nesta soma, Lula é rejeitado veementemente e a simples menção de seu nome causa reações exaltadas.
Já no universo dos que enjeitam Jair Bolsonaro, também há mudanças. Quando candidato, o atual presidente era repelido por conta de sua atuação como parlamentar e de seu perfil belicoso. Hoje, a rejeição tem a ver com o comportamento de Bolsonaro como presidente e suas declarações impulsivas, além de politicamente incorretas. A atuação durante a pandemia também causou repúdio em parte do eleitorado e a economia claudicante (ao lado do número de desempregados) foi crucial para que os índices de desaprovação aumentassem. Por fim, temos também a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo, que impactou negativamente muitos antigos apoiadores do governo.
Essa metamorfose do cenário eleitoral é propícia para que a agressividade verbal seja elevada. Já temos sinais de que esse embate começou, seja nas redes sociais ou nos nossos círculos de amizade. Há eleitores que resolveram apoiar Lula de forma pragmática, para evitar a manutenção do status quo. Mas o contrário também acontece: há gente que reconhece o lado negativo de Bolsonaro, mas prefere reconduzi-lo ao poder do que conviver com mais uma administração petista.
Campo de batalha
É possível observar que o debate político, para muitos, deixou de ser uma discussão racional. Neste campo de batalha, eleitores de Bolsonaro acham que todos os lulistas são esquerdistas e coniventes com a corrupção. Alguns deles, ainda, acreditam que os chamados isentões, que estão entre as duas maiores forças políticas, também são de esquerda – mas têm vergonha de admitir isso (entretanto, é totalmente possível existir um eleitor de centro ou de direita que rejeite Bolsonaro). Do outro lado do muro, boa parte de quem apoia Lula acredita que todos os seguidores do mandatário sejam fascistas (isso também não é necessariamente verdadeiro).
Direita e esquerda vão se engalfinhar com denodo nos próximos meses, ressaltando apenas o lado negativo dos oponentes. E, diante das provocações que devem ocorrer, vão ser muito difícil manter o controle emocional. Com um complicador: neste ano, as notícias falsas devem ganhar um novo impulso, com a adoção dos chamados “deep fakes”.
Vai ser assim para sempre? Talvez tenhamos dois caminhos à frente.
Uma das opções é mantermos essa dicotomia e sermos uma nação dividida por anos a fio, revezando facções políticas rivais no poder, com as tensões que esse processo costuma produzir.
O outro caminho pode ser sugerido pelo crescimento daqueles se colocam de forma independente, ou que torcem pela Terceira Via. Se esse grupo continuar em expansão, as eleições de 2026 podem ter mais uma força com densidade política. Dessa forma, o espaço para o antagonismo tem chances de ser diluído. Neste caso, teríamos uma oportunidade única para elevarmos o nível do debate político, privilegiando ideias e deixando os arroubos emocionais de lado.
O que vai acontecer? Difícil de prever. Mas o ideal seria deixarmos as paixões extremas de lado no futuro, pois o nosso destino parece ser o de lidar com as desavenças típicas de uma polarização em 2022.
Aluizio Falcão Filho
A polarização política que tivemos em 2018, suficiente para criar cizânias familiares e romper longas amizades, foi traumatizante para muitos. A escolha de um candidato a presidente ganhou o centro das discussões e mexeu muito com o aspecto emocional da sociedade. Passada essa etapa, havia a esperança de que os ânimos serenassem no pleito seguinte. O que se observa nesses primeiros meses do ano, no entanto, é que o clima deve ficar ainda mais pesado do que quatro anos atrás.
A grande mola propulsora de 2018 era a aversão às acusações de corrupção enfrentadas elo PT e que levaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à cadeia. Esse tema pautou a campanha e polarizou a sociedade, deixando uma minoria isolada entre os grupos majoritários. Hoje, esse grupo minoritário aumentou, mas ainda não tem força para viabilizar o que se convencionou chamar de Terceira Via.
Diferenças em relação a 2018
Há algumas diferenças que tornaram o cenário atual diferente daquele vivido durante as últimas eleições presidenciais. Em primeiro lugar, o candidato do PT é Lula em vez de Fernando Haddad. De um lado, a rejeição ao nome do petista caiu, como mostram as pesquisas – mas seu nome ainda causa repulsa entre os eleitores à direita e defensores da Operação Lava-Jato. Entre os que rejeitam Lula também estão indivíduos alinhados com o Centro (mas não todos deste quadrante). Nesta soma, Lula é rejeitado veementemente e a simples menção de seu nome causa reações exaltadas.
Já no universo dos que enjeitam Jair Bolsonaro, também há mudanças. Quando candidato, o atual presidente era repelido por conta de sua atuação como parlamentar e de seu perfil belicoso. Hoje, a rejeição tem a ver com o comportamento de Bolsonaro como presidente e suas declarações impulsivas, além de politicamente incorretas. A atuação durante a pandemia também causou repúdio em parte do eleitorado e a economia claudicante (ao lado do número de desempregados) foi crucial para que os índices de desaprovação aumentassem. Por fim, temos também a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo, que impactou negativamente muitos antigos apoiadores do governo.
Essa metamorfose do cenário eleitoral é propícia para que a agressividade verbal seja elevada. Já temos sinais de que esse embate começou, seja nas redes sociais ou nos nossos círculos de amizade. Há eleitores que resolveram apoiar Lula de forma pragmática, para evitar a manutenção do status quo. Mas o contrário também acontece: há gente que reconhece o lado negativo de Bolsonaro, mas prefere reconduzi-lo ao poder do que conviver com mais uma administração petista.
Campo de batalha
É possível observar que o debate político, para muitos, deixou de ser uma discussão racional. Neste campo de batalha, eleitores de Bolsonaro acham que todos os lulistas são esquerdistas e coniventes com a corrupção. Alguns deles, ainda, acreditam que os chamados isentões, que estão entre as duas maiores forças políticas, também são de esquerda – mas têm vergonha de admitir isso (entretanto, é totalmente possível existir um eleitor de centro ou de direita que rejeite Bolsonaro). Do outro lado do muro, boa parte de quem apoia Lula acredita que todos os seguidores do mandatário sejam fascistas (isso também não é necessariamente verdadeiro).
Direita e esquerda vão se engalfinhar com denodo nos próximos meses, ressaltando apenas o lado negativo dos oponentes. E, diante das provocações que devem ocorrer, vão ser muito difícil manter o controle emocional. Com um complicador: neste ano, as notícias falsas devem ganhar um novo impulso, com a adoção dos chamados “deep fakes”.
Vai ser assim para sempre? Talvez tenhamos dois caminhos à frente.
Uma das opções é mantermos essa dicotomia e sermos uma nação dividida por anos a fio, revezando facções políticas rivais no poder, com as tensões que esse processo costuma produzir.
O outro caminho pode ser sugerido pelo crescimento daqueles se colocam de forma independente, ou que torcem pela Terceira Via. Se esse grupo continuar em expansão, as eleições de 2026 podem ter mais uma força com densidade política. Dessa forma, o espaço para o antagonismo tem chances de ser diluído. Neste caso, teríamos uma oportunidade única para elevarmos o nível do debate político, privilegiando ideias e deixando os arroubos emocionais de lado.
O que vai acontecer? Difícil de prever. Mas o ideal seria deixarmos as paixões extremas de lado no futuro, pois o nosso destino parece ser o de lidar com as desavenças típicas de uma polarização em 2022.