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A patrulha em cima de quem usa máscara

Quem se protege não está fazendo mal a alguém. Por que, então, o incômodo?

Bia Kicis (Divulgação/Agência Câmara)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de novembro de 2021 às 10h32.

Aluizio Falcão Filho

Um tuíte recente da deputada Bia Kicis (foto) chama a atenção. O post diz o seguinte: “Desde o dia 3/11 as máscaras deixaram de ser obrigatórias em locais abertos no DF. Ontem, domingo, vi várias pessoas caminhando, correndo, de bike, enfim, se exercitando sozinhas de máscara e outras dirigindo sozinhas de máscara. Essas pessoas gostaram do apetrecho? O que justifica?”. A mensagem, que foi retuitada mais de 1 800 vezes e recebeu mais de 14 000 curtidas, revela em suas entrelinhas uma característica de nosso tempo: a atitude dos outros incomoda, mesmo quando inofensiva.

Antes de mais nada, vamos retroceder um pouco no tempo e imaginar o que aconteceria se alguém estivesse em um ambiente público sem máscara de proteção. Seria fatalmente criticado. Deixemos de lado a discussão se essa peça é eficaz ou não no combate à Covid-19 e nos fixemos no fato de que o uso da proteção facial era, naquele momento, obrigatória por lei. Neste caso, além de desafiar a legislação vigente, o infrator estaria colocando em risco a saúde pública. Portanto, apupos e reclamações seriam compreensíveis.

Mas, e no caso mencionado pela deputada? Ela descreve pessoas que ainda não se sentem seguras de descartar suas máscaras e continuam utilizando este recurso. Percebe-se claramente o desconforto da parlamentar com este comportamento, o que é previsível. Afinal, foi ela quem apareceu em vídeo viralizado ensinando como circular pela cidade sem usar máscara (a saída seria mostrar uma garrafinha de água e dizer aos interlocutores que estava dando alguns goles).

Por que o uso da proteção facial incomoda algumas pessoas? A pergunta é pertinente: afinal, quem se protege não está fazendo mal a alguém. Por que, então, o incômodo?

Normalmente, essa queixa surge de quem já não queria utilizar a máscara durante o auge da pandemia e sempre discutiu sua eficácia. Mas é igualmente um descontentamento de quem quer seguir em frente e deixar a pandemia para trás. Neste caso, avistar constantemente máscaras é um lembrete que o coronavírus continua a circular por aí.

Mas não podemos esquecer que muitos ainda têm medo da pandemia e não saber como lidar com essa emoção. Cada pessoa reage de uma forma nessas situações. Há aqueles que, provocados ou criticados, respondem positivamente. Outros, porém, podem ter dificuldades ainda maiores diante de sopapos digitais.

O aborrecimento causado pelos apetrechos faciais é algo que faz parte de nossa cultura atual. Nada pode passar impunemente e precisa ser debatido e escrutinado. Dependendo do caso, as pessoas envolvidas devem ser vaiadas digitalmente e canceladas. Por enquanto, a liberação ocorre em algumas cidades – mas, daqui a pouco, em função dos números de vítimas em queda e um índice alto de vacinação, todo o território nacional será “mask-free”. Provavelmente esse será mais um tema a ser politizado: os defensores da máscaras poderão ser taxados como antigovernistas ou esquerdistas (o que, do ponto de vista estritamente racional, não faz sentido algum).

Este hábito, no entanto, veio para ficar. Não entre a maioria das pessoas, é óbvio. Mas uma parcela dos indivíduos continuará a proteger seu rosto, pois a pandemia trouxe sequelas e inseguranças crônicas. Cada crise nacional ou mundial traz um legado. O atentado às Torres Gêmeas mudou o protocolo nos aeroportos internacionais. A crise hídrica de alguns anos atrás fez muita gente economizar água até hoje. Portanto, provavelmente teremos um pequeno grupo de pessoas usando máscaras daqui em diante.

No Oriente e especialmente no Japão, este costume já está em vigor há muito tempo. Nos Estados Unidos, aqui e ali, também se via cidadãos hipersensíveis também portando protetores. Uma pesquisa feita em Tóquio, anos atrás, mostrou que a maioria daqueles que portavam máscara estava preocupada com a saúde alheia, pois estariam gripados ou com outro tipo de doença contagiosa.

Como diria o filósofo americano Ralph Waldo Emerson, “você pode lamentar uma calamidade se é possível ajudar a quem esteja sofrendo; mas, se você não puder fazer nada, tome conta da própria vida”. Talvez estejamos perdendo muito tempo perscrutando e julgando o que os outros estão fazendo. Mais que isso: nos incomodando com o comportamento alheio, mesmo quando inócuo para nós. Já está na hora de deixarmos as demais pessoas para lá; cuidemos das nossas próprias vidas.

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Aluizio Falcão Filho

Um tuíte recente da deputada Bia Kicis (foto) chama a atenção. O post diz o seguinte: “Desde o dia 3/11 as máscaras deixaram de ser obrigatórias em locais abertos no DF. Ontem, domingo, vi várias pessoas caminhando, correndo, de bike, enfim, se exercitando sozinhas de máscara e outras dirigindo sozinhas de máscara. Essas pessoas gostaram do apetrecho? O que justifica?”. A mensagem, que foi retuitada mais de 1 800 vezes e recebeu mais de 14 000 curtidas, revela em suas entrelinhas uma característica de nosso tempo: a atitude dos outros incomoda, mesmo quando inofensiva.

Antes de mais nada, vamos retroceder um pouco no tempo e imaginar o que aconteceria se alguém estivesse em um ambiente público sem máscara de proteção. Seria fatalmente criticado. Deixemos de lado a discussão se essa peça é eficaz ou não no combate à Covid-19 e nos fixemos no fato de que o uso da proteção facial era, naquele momento, obrigatória por lei. Neste caso, além de desafiar a legislação vigente, o infrator estaria colocando em risco a saúde pública. Portanto, apupos e reclamações seriam compreensíveis.

Mas, e no caso mencionado pela deputada? Ela descreve pessoas que ainda não se sentem seguras de descartar suas máscaras e continuam utilizando este recurso. Percebe-se claramente o desconforto da parlamentar com este comportamento, o que é previsível. Afinal, foi ela quem apareceu em vídeo viralizado ensinando como circular pela cidade sem usar máscara (a saída seria mostrar uma garrafinha de água e dizer aos interlocutores que estava dando alguns goles).

Por que o uso da proteção facial incomoda algumas pessoas? A pergunta é pertinente: afinal, quem se protege não está fazendo mal a alguém. Por que, então, o incômodo?

Normalmente, essa queixa surge de quem já não queria utilizar a máscara durante o auge da pandemia e sempre discutiu sua eficácia. Mas é igualmente um descontentamento de quem quer seguir em frente e deixar a pandemia para trás. Neste caso, avistar constantemente máscaras é um lembrete que o coronavírus continua a circular por aí.

Mas não podemos esquecer que muitos ainda têm medo da pandemia e não saber como lidar com essa emoção. Cada pessoa reage de uma forma nessas situações. Há aqueles que, provocados ou criticados, respondem positivamente. Outros, porém, podem ter dificuldades ainda maiores diante de sopapos digitais.

O aborrecimento causado pelos apetrechos faciais é algo que faz parte de nossa cultura atual. Nada pode passar impunemente e precisa ser debatido e escrutinado. Dependendo do caso, as pessoas envolvidas devem ser vaiadas digitalmente e canceladas. Por enquanto, a liberação ocorre em algumas cidades – mas, daqui a pouco, em função dos números de vítimas em queda e um índice alto de vacinação, todo o território nacional será “mask-free”. Provavelmente esse será mais um tema a ser politizado: os defensores da máscaras poderão ser taxados como antigovernistas ou esquerdistas (o que, do ponto de vista estritamente racional, não faz sentido algum).

Este hábito, no entanto, veio para ficar. Não entre a maioria das pessoas, é óbvio. Mas uma parcela dos indivíduos continuará a proteger seu rosto, pois a pandemia trouxe sequelas e inseguranças crônicas. Cada crise nacional ou mundial traz um legado. O atentado às Torres Gêmeas mudou o protocolo nos aeroportos internacionais. A crise hídrica de alguns anos atrás fez muita gente economizar água até hoje. Portanto, provavelmente teremos um pequeno grupo de pessoas usando máscaras daqui em diante.

No Oriente e especialmente no Japão, este costume já está em vigor há muito tempo. Nos Estados Unidos, aqui e ali, também se via cidadãos hipersensíveis também portando protetores. Uma pesquisa feita em Tóquio, anos atrás, mostrou que a maioria daqueles que portavam máscara estava preocupada com a saúde alheia, pois estariam gripados ou com outro tipo de doença contagiosa.

Como diria o filósofo americano Ralph Waldo Emerson, “você pode lamentar uma calamidade se é possível ajudar a quem esteja sofrendo; mas, se você não puder fazer nada, tome conta da própria vida”. Talvez estejamos perdendo muito tempo perscrutando e julgando o que os outros estão fazendo. Mais que isso: nos incomodando com o comportamento alheio, mesmo quando inócuo para nós. Já está na hora de deixarmos as demais pessoas para lá; cuidemos das nossas próprias vidas.

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