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A agenda ESG pode piorar se o governo se meter na vida das empresas

Tirar a liberdade de uma empresa é algo que asfixia o capitalismo ou promove a desobediência civil – algo na linha da lei “que não pega”

ESG: três letrinhas hoje representam o grupo de fatores que mostram como as empresas se comportam em relação ao meio ambiente (Environment), inclusão social (Social) e governança (Governance) (Thithawat_s/Getty Images)
VS

Victor Sena

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 08h22.

Estamos vivendo uma verdadeira revolução dentro das empresas, traduzida numa sigla que, até anos atrás, era sinônimo, no Brasil, de Escola Superior de Guerra.

Essas três letrinhas – ESG –, hoje representam o grupo de fatores que mostram como as empresas se comportam em relação ao meio ambiente (Environment), inclusão social (Social) e governança (Governance). Companhias que se preocupam com esses três quesitos e promovem ações para melhorar sua performance nesse campo se tornaram as novas queridinhas do mercado acionário.

Dentro das estruturas corporativas, o conceito ESG também ganha força. No início, era uma orientação que conquistara apenas os profissionais de recursos humanos.

Depois, chamou a atenção daqueles que trabalham no setor ambiental (existente em poucas companhias). Os profissionais de governança, igualmente, abraçaram a causa. Os CFOs de empresas abertas, vendo a valorização dos papeis de companhias certificadas em ESG, também se interessaram pelo tema. E agora os CEOs começam a aderir fortemente à implantação de práticas ambientais, sociais e de governança.

O assunto já movimenta o interesse de muita gente. No workshop virtual que EXAME realizou em parceria com MONEY REPORT, tivemos um painel sobre o tema, que contou com a participação de Nicola Cotugno (country manager na Enel Brasil), Alexandre Costa (CEO da Cacau Show), Ivo Wohnrath (CEO da Athié Wohnrath) e João Paulo Ferreira (CEO da Natura &Co. para América Latina). Além disso, como debatedores convidados, contamos com Antônio Cássio (IRB) e Onara Lima (Ambipar).

Esse movimento fatalmente irá promover uma atmosfera ainda mais politicamente correta nas corporações, para revolta dos mais conservadores e daqueles que são unicamente orientados pelo resultado operacional dos balanços e acham tudo isso uma grande chatice.

Andar pela trilha politicamente correta, de fato, é mais chato. Significa abrir os olhos para certos aspectos que jamais foram prioridade para os executivos, em especial as ações de inclusão social. Mas é inevitável. Portanto, melhor aceitar e se adaptar do que ser rifado por essas questões e ganhar um estigma junto a quem influencia as contratações (headhunters e profissionais de RH).

Até agora, todas as providências adotadas pelas empresas tiveram origem apenas no próprio setor privado. Algumas empresas compraram a bandeira ESG motivadas por consultorias e empresas certificadoras independentes. Outras o fizeram por pressão de seus consumidores, parceiros e clientes. Por fim, os grandes investidores institucionais viram nesse nicho uma oportunidade de investimentos e acabaram influenciando com isso vários CEOs.

Mas, percebam, ainda não houve nenhuma grande ingerência das autoridades nesse tema, tirando um país aqui e outro ali. Mas os ambientalistas, de maneira geral, gostam de interferência estatal e começam a pressionar por leis. Espera-se que ONGs e outras organizações também façam pressão pela adoção de uma legislação com exigências sobre iniciativas de inclusão.

É aqui que podemos entrar em um terreno perigoso.

Tirar a liberdade de uma empresa é algo que asfixia o capitalismo ou promove a desobediência civil – algo na linha da lei “que não pega”, um exemplo que existe aparentemente apenas em solo brasileiro.

É sempre melhor deixar o mercado resolver essa questão sozinho. Com o passar do tempo, as pressões dos clientes corporativos e consumidores no varejo serão quase que insuportáveis neste tema. Até porque os jovens, que estão ascendendo a posições de comando nas estruturas hierárquicas, ou ditando as regras do consumo, vão deixar bem claro que darão preferência a empresas com preocupação ambiental, social e de governança (dos três temas, este último é o que tem menor apelo popular).

Como dizia o economista Ludwig Von Mises, o consumidor é quem dirige os caminhos das empresas. Ele é o comandante supremo. Se não concorda com o preço, não compra. Se critica a qualidade, despreza o produto. Se encontrar um fornecedor que julga melhor, troca de marca em um piscar de olhos.

O fundador da escola austríaca do liberalismo (curiosamente, nascido na Ucrânia), escreveu o seguinte: “O desenvolvimento do capitalismo consiste em que cada homem tem o direito de servir melhor e/ou mais barato o seu cliente. E, num tempo relativamente curto, este método, esse princípio, transformou a face do mundo, possibilitando um crescimento sem precedentes da população mundial”.

Mises morreu em 1973 e, assim, não teve como imaginar a ascensão do clamor por empresas ESG. Mas ele anteviu que os consumidores têm o poder de ditar os rumos de uma empresa, seja por boicote, seja por críticas públicas. Este deve ser o caminho daqui para frente: a pressão do mercado vai moldar a estratégia dos empresários e executivos. No entanto, se o governo se meter nessa equação, vai criar gargalos, elevar custos e aumentar a burocracia. Melhor deixar os clientes como os xerifes supremos – eles detém mais poder, juntos, do que qualquer ministro ou mesmo um presidente da República.

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Estamos vivendo uma verdadeira revolução dentro das empresas, traduzida numa sigla que, até anos atrás, era sinônimo, no Brasil, de Escola Superior de Guerra.

Essas três letrinhas – ESG –, hoje representam o grupo de fatores que mostram como as empresas se comportam em relação ao meio ambiente (Environment), inclusão social (Social) e governança (Governance). Companhias que se preocupam com esses três quesitos e promovem ações para melhorar sua performance nesse campo se tornaram as novas queridinhas do mercado acionário.

Dentro das estruturas corporativas, o conceito ESG também ganha força. No início, era uma orientação que conquistara apenas os profissionais de recursos humanos.

Depois, chamou a atenção daqueles que trabalham no setor ambiental (existente em poucas companhias). Os profissionais de governança, igualmente, abraçaram a causa. Os CFOs de empresas abertas, vendo a valorização dos papeis de companhias certificadas em ESG, também se interessaram pelo tema. E agora os CEOs começam a aderir fortemente à implantação de práticas ambientais, sociais e de governança.

O assunto já movimenta o interesse de muita gente. No workshop virtual que EXAME realizou em parceria com MONEY REPORT, tivemos um painel sobre o tema, que contou com a participação de Nicola Cotugno (country manager na Enel Brasil), Alexandre Costa (CEO da Cacau Show), Ivo Wohnrath (CEO da Athié Wohnrath) e João Paulo Ferreira (CEO da Natura &Co. para América Latina). Além disso, como debatedores convidados, contamos com Antônio Cássio (IRB) e Onara Lima (Ambipar).

Esse movimento fatalmente irá promover uma atmosfera ainda mais politicamente correta nas corporações, para revolta dos mais conservadores e daqueles que são unicamente orientados pelo resultado operacional dos balanços e acham tudo isso uma grande chatice.

Andar pela trilha politicamente correta, de fato, é mais chato. Significa abrir os olhos para certos aspectos que jamais foram prioridade para os executivos, em especial as ações de inclusão social. Mas é inevitável. Portanto, melhor aceitar e se adaptar do que ser rifado por essas questões e ganhar um estigma junto a quem influencia as contratações (headhunters e profissionais de RH).

Até agora, todas as providências adotadas pelas empresas tiveram origem apenas no próprio setor privado. Algumas empresas compraram a bandeira ESG motivadas por consultorias e empresas certificadoras independentes. Outras o fizeram por pressão de seus consumidores, parceiros e clientes. Por fim, os grandes investidores institucionais viram nesse nicho uma oportunidade de investimentos e acabaram influenciando com isso vários CEOs.

Mas, percebam, ainda não houve nenhuma grande ingerência das autoridades nesse tema, tirando um país aqui e outro ali. Mas os ambientalistas, de maneira geral, gostam de interferência estatal e começam a pressionar por leis. Espera-se que ONGs e outras organizações também façam pressão pela adoção de uma legislação com exigências sobre iniciativas de inclusão.

É aqui que podemos entrar em um terreno perigoso.

Tirar a liberdade de uma empresa é algo que asfixia o capitalismo ou promove a desobediência civil – algo na linha da lei “que não pega”, um exemplo que existe aparentemente apenas em solo brasileiro.

É sempre melhor deixar o mercado resolver essa questão sozinho. Com o passar do tempo, as pressões dos clientes corporativos e consumidores no varejo serão quase que insuportáveis neste tema. Até porque os jovens, que estão ascendendo a posições de comando nas estruturas hierárquicas, ou ditando as regras do consumo, vão deixar bem claro que darão preferência a empresas com preocupação ambiental, social e de governança (dos três temas, este último é o que tem menor apelo popular).

Como dizia o economista Ludwig Von Mises, o consumidor é quem dirige os caminhos das empresas. Ele é o comandante supremo. Se não concorda com o preço, não compra. Se critica a qualidade, despreza o produto. Se encontrar um fornecedor que julga melhor, troca de marca em um piscar de olhos.

O fundador da escola austríaca do liberalismo (curiosamente, nascido na Ucrânia), escreveu o seguinte: “O desenvolvimento do capitalismo consiste em que cada homem tem o direito de servir melhor e/ou mais barato o seu cliente. E, num tempo relativamente curto, este método, esse princípio, transformou a face do mundo, possibilitando um crescimento sem precedentes da população mundial”.

Mises morreu em 1973 e, assim, não teve como imaginar a ascensão do clamor por empresas ESG. Mas ele anteviu que os consumidores têm o poder de ditar os rumos de uma empresa, seja por boicote, seja por críticas públicas. Este deve ser o caminho daqui para frente: a pressão do mercado vai moldar a estratégia dos empresários e executivos. No entanto, se o governo se meter nessa equação, vai criar gargalos, elevar custos e aumentar a burocracia. Melhor deixar os clientes como os xerifes supremos – eles detém mais poder, juntos, do que qualquer ministro ou mesmo um presidente da República.

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