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O Protagonismo de Margaret Thatcher

Thatcher foi fortemente influenciada pelas ideias liberais e, quando eleita, tratou de implementá-las, especialmente as referentes às reformas econômicas

Margaret Thatcher fala em Washington em outubro de 1995 (Jamal Wilson/AFP)
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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2022 às 19h55.

Por Daniela Villagra, Giulia Haddad Campos, Marcos Chaves Gurgel, Maurício F. Bento/ IFL-SP

Margaret Thatcher ocupou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 a 1990, exercendo o cargo por três mandatos consecutivos. Foi a primeira-ministra com maior período no cargo no século XX e a primeira mulher a ocupá-lo. Seu governo foi caracterizado pela defesa e implementação de diversas propostas liberais, que visavam recuperar a economia britânica da estagnação que marcou os anos 1970. Dentre elas, constavam a redução do tamanho do Estado e o incentivo ao livre mercado, tendo como princípio fundamental o foco no cidadão, que precisava ser visto como o cliente dos serviços públicos.

Na década de 70, a situação do Reino Unido era de grave recessão econômica advinda dos choques do petróleo. O país, assim como toda a Europa, passava por momento em que o alto índice de desemprego e as elevadas taxas de inflação ocorriam de modo concomitante pela primeira vez. Margaret Thatcher, então, foi eleita por se opor às ideias, até então dominantes, do Estado de bem-estar social e de uma economia centralizada com intervenções governamentais constantes na definição de preços e quantidades. Thatcher foi eleita para tirar o peso do Estado das costas do cidadão.

A Privatização da Economia Britânica

Thatcher foi fortemente influenciada pelas ideias lliberais e, quando eleita, tratou de implementá-las, especialmente as que se referiam às reformas econômicas.

Conta-se que, em uma ocasião em reunião com seus ministros, Thatcher tirou da bolsa um livro de Friedrich von Hayek (economista da Escola Austríaca), pôs em cima da mesa e disse: “esse é o nosso programa de governo”. O caso ilustra o comprometimento da Dama de Ferro com a implementação dos ideais que defendia.

Em um contexto de deterioração econômica dos anos 80, com inflação e desemprego simultaneamente em altos níveis, um dos pontos cruciais de sua política foi tirar as atividades produtivas do controle direto do Estado por meio de privatizações, para aumentar a competição e a eficiência na alocação de recursos. Seu governo, nos anos 1980, foi marcado pela elevação nas privatizações:

-(Paper House of Commons Library (pag 16)/Divulgação)

Fonte: Paper House of Commons Library (pag 16)

Foi a maior operação de privatização já vista, trazendo 29 bilhões de euros para os cofres públicos, segundo a ONS. O governo Thatcher influenciou países de todo o mundo, especialmente seus vizinhos europeus e países asiáticos.

Thatcher privatizou grandes empresas e setores inteiros, como a estatal de telecomunicação British Telecom, a companhia aérea British Airways, as automobilísticas Rolls-Royce e Leyland, partes da British Steel, bem como aeroportos, e empresas dos setores de energia como petróleo, gás, água, energia elétrica e nuclear.

Mesmo após deixar o governo em 1990, a influência de Thatcher permaneceu e diversas empresas foram privatizadas, incluindo o Correio Real ( Royal Mail ), fundada em 1516.

As privatizações são consideradas um dos maiores legados do governo Thatcher. Elas foram responsáveis por alterar drasticamente o perfil da economia britânica. Maggie adotava a visão tradicionalmente liberal de que a gestão de uma empresa pelo Estado se dá de modo altamente influenciado por interesses políticos e eleitorais, sem qualquer garantia de que os recursos gerados seriam reinvestidos de maneira apropriada e sem a motivação correta de ser lucrativa. Diferentemente da gestão privada, em que se busca gerar mais rentabilidade e produtividade, de modo a elevar a competitividade e melhor satisfazer o consumidor.

O Combate à Inflação e o Retorno do Crescimento Econômico

A meta central de seu governo era a redução da inflação. Maggie foi contra o suposto “consenso” keynesiano que se adotava no mundo capitalista e com isso, além do plano de privatizações, buscou atacar a alta inflação com a elevação das taxas de juros. Nesse sentido, a taxa de juros se elevou de 6% em 1979, para 10,25% em 1980, assim que ela assumiu o governo e, em 1981, chegou aos 14% (segundo o IMF- Rates Query (imf.org) ). A diminuição do incentivo ao investimento em função de uma taxa de juros mais elevada foi o preço que a primeira-ministra escolheu pagar para conter a inflação que estava fora de controle e batia os níveis de 15,1% no ano de 1980 quando assumiu o governo, conseguindo o que o índice baixasse para 3,7% em 1986, durante o seu segundo mandato, segundo os dados do FMI.

Ainda assim, apesar da dificuldade e do aumento de juros para conter a inflação, a taxa de crescimento do Reino Unido que era menor do que o da União Europeia nos anos 1970, passou superá-lo nas décadas de 1980 e 1990.

Nos primeiros anos de seu primeiro mandato, com o foco em combater a inflação, a recessão na economia britânica continuou, com o PIB encolhendo 2% enquanto o restante do mundo subiu 1,9% em 1980. Porém mesmo com a alta de juros e o desincentivo ao investimento, o crescimento do PIB durante o governo da Dama de Ferro acumulou uma alta de 33% na década de 80 comparado com o crescimento de 23,% na década de 70.

-(Banco Mundial/Divulgação)

-(Banco Mundial/Divulgação)

-(Banco Mundial/Divulgação)

Além da política monetária restritiva, o corte acentuado dos gastos governamentais também foi essencial para a redução da inflação. Uma das mudanças foi trazer métodos de gestão do setor privado para o setor público.

Thathcer impulsionou o desenvolvimento da chamada “Nova Gestão Pública”, especialmente as primeiras ondas, que tratavam de valorizar o cidadão como cliente e o aumento da eficiência do gasto.

Adicionalmente, o governo Thatcher introduziu limitações financeiras principalmente para despesas com serviços sociais como habitação e educação. Apesar da despesa geral do governo ter aumentado 13% em seu governo, o governo diminuiu seu peso sobre a economia, uma vez que o PIB cresceu muito mais na década. O percentual de gasto público caiu de 40% em 1979 para 26,5% do PIB em 1990 segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse foco na responsabilidade fiscal possibilitou que o estado do Reino Unido passasse de déficit para um superávit no fim do Governo Thatcher, quando as receitas ultrapassam os níveis de despesas, chegando a operar por dois anos no azul. Políticas representadas por uma de suas frases mais famosas, “Não existe dinheiro público. Existe apenas dinheiro do pagador de impostos”.

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Por Daniela Villagra, Giulia Haddad Campos, Marcos Chaves Gurgel, Maurício F. Bento/ IFL-SP

Margaret Thatcher ocupou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido entre 1979 a 1990, exercendo o cargo por três mandatos consecutivos. Foi a primeira-ministra com maior período no cargo no século XX e a primeira mulher a ocupá-lo. Seu governo foi caracterizado pela defesa e implementação de diversas propostas liberais, que visavam recuperar a economia britânica da estagnação que marcou os anos 1970. Dentre elas, constavam a redução do tamanho do Estado e o incentivo ao livre mercado, tendo como princípio fundamental o foco no cidadão, que precisava ser visto como o cliente dos serviços públicos.

Na década de 70, a situação do Reino Unido era de grave recessão econômica advinda dos choques do petróleo. O país, assim como toda a Europa, passava por momento em que o alto índice de desemprego e as elevadas taxas de inflação ocorriam de modo concomitante pela primeira vez. Margaret Thatcher, então, foi eleita por se opor às ideias, até então dominantes, do Estado de bem-estar social e de uma economia centralizada com intervenções governamentais constantes na definição de preços e quantidades. Thatcher foi eleita para tirar o peso do Estado das costas do cidadão.

A Privatização da Economia Britânica

Thatcher foi fortemente influenciada pelas ideias lliberais e, quando eleita, tratou de implementá-las, especialmente as que se referiam às reformas econômicas.

Conta-se que, em uma ocasião em reunião com seus ministros, Thatcher tirou da bolsa um livro de Friedrich von Hayek (economista da Escola Austríaca), pôs em cima da mesa e disse: “esse é o nosso programa de governo”. O caso ilustra o comprometimento da Dama de Ferro com a implementação dos ideais que defendia.

Em um contexto de deterioração econômica dos anos 80, com inflação e desemprego simultaneamente em altos níveis, um dos pontos cruciais de sua política foi tirar as atividades produtivas do controle direto do Estado por meio de privatizações, para aumentar a competição e a eficiência na alocação de recursos. Seu governo, nos anos 1980, foi marcado pela elevação nas privatizações:

-(Paper House of Commons Library (pag 16)/Divulgação)

Fonte: Paper House of Commons Library (pag 16)

Foi a maior operação de privatização já vista, trazendo 29 bilhões de euros para os cofres públicos, segundo a ONS. O governo Thatcher influenciou países de todo o mundo, especialmente seus vizinhos europeus e países asiáticos.

Thatcher privatizou grandes empresas e setores inteiros, como a estatal de telecomunicação British Telecom, a companhia aérea British Airways, as automobilísticas Rolls-Royce e Leyland, partes da British Steel, bem como aeroportos, e empresas dos setores de energia como petróleo, gás, água, energia elétrica e nuclear.

Mesmo após deixar o governo em 1990, a influência de Thatcher permaneceu e diversas empresas foram privatizadas, incluindo o Correio Real ( Royal Mail ), fundada em 1516.

As privatizações são consideradas um dos maiores legados do governo Thatcher. Elas foram responsáveis por alterar drasticamente o perfil da economia britânica. Maggie adotava a visão tradicionalmente liberal de que a gestão de uma empresa pelo Estado se dá de modo altamente influenciado por interesses políticos e eleitorais, sem qualquer garantia de que os recursos gerados seriam reinvestidos de maneira apropriada e sem a motivação correta de ser lucrativa. Diferentemente da gestão privada, em que se busca gerar mais rentabilidade e produtividade, de modo a elevar a competitividade e melhor satisfazer o consumidor.

O Combate à Inflação e o Retorno do Crescimento Econômico

A meta central de seu governo era a redução da inflação. Maggie foi contra o suposto “consenso” keynesiano que se adotava no mundo capitalista e com isso, além do plano de privatizações, buscou atacar a alta inflação com a elevação das taxas de juros. Nesse sentido, a taxa de juros se elevou de 6% em 1979, para 10,25% em 1980, assim que ela assumiu o governo e, em 1981, chegou aos 14% (segundo o IMF- Rates Query (imf.org) ). A diminuição do incentivo ao investimento em função de uma taxa de juros mais elevada foi o preço que a primeira-ministra escolheu pagar para conter a inflação que estava fora de controle e batia os níveis de 15,1% no ano de 1980 quando assumiu o governo, conseguindo o que o índice baixasse para 3,7% em 1986, durante o seu segundo mandato, segundo os dados do FMI.

Ainda assim, apesar da dificuldade e do aumento de juros para conter a inflação, a taxa de crescimento do Reino Unido que era menor do que o da União Europeia nos anos 1970, passou superá-lo nas décadas de 1980 e 1990.

Nos primeiros anos de seu primeiro mandato, com o foco em combater a inflação, a recessão na economia britânica continuou, com o PIB encolhendo 2% enquanto o restante do mundo subiu 1,9% em 1980. Porém mesmo com a alta de juros e o desincentivo ao investimento, o crescimento do PIB durante o governo da Dama de Ferro acumulou uma alta de 33% na década de 80 comparado com o crescimento de 23,% na década de 70.

-(Banco Mundial/Divulgação)

-(Banco Mundial/Divulgação)

-(Banco Mundial/Divulgação)

Além da política monetária restritiva, o corte acentuado dos gastos governamentais também foi essencial para a redução da inflação. Uma das mudanças foi trazer métodos de gestão do setor privado para o setor público.

Thathcer impulsionou o desenvolvimento da chamada “Nova Gestão Pública”, especialmente as primeiras ondas, que tratavam de valorizar o cidadão como cliente e o aumento da eficiência do gasto.

Adicionalmente, o governo Thatcher introduziu limitações financeiras principalmente para despesas com serviços sociais como habitação e educação. Apesar da despesa geral do governo ter aumentado 13% em seu governo, o governo diminuiu seu peso sobre a economia, uma vez que o PIB cresceu muito mais na década. O percentual de gasto público caiu de 40% em 1979 para 26,5% do PIB em 1990 segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse foco na responsabilidade fiscal possibilitou que o estado do Reino Unido passasse de déficit para um superávit no fim do Governo Thatcher, quando as receitas ultrapassam os níveis de despesas, chegando a operar por dois anos no azul. Políticas representadas por uma de suas frases mais famosas, “Não existe dinheiro público. Existe apenas dinheiro do pagador de impostos”.

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