Exame Logo

E em Cuba, a situação não é melhor…

Artigo de Mauricio Vicent no O Globo: Uma economia de cinto apertado e respiração suspensa Mauricio Vicent HAVANA. Cuba mergulha de novo na escuridão da crise. A falta de liquidez é agora asfixiante. Nos últimos nove meses, o intercâmbio comercial caiu em 36% — e 80% desta queda são nas importações. O desabastecimento nas casas de câmbio é geral e há cortes na energia elétrica para evitar os apagões. Algumas […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2009 às 00h16.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 12h41.

Artigo de Mauricio Vicent no O Globo:

Uma economia de cinto apertado e respiração suspensa

Mauricio Vicent

HAVANA. Cuba mergulha de novo na escuridão da crise. A falta de liquidez é agora asfixiante.

Nos últimos nove meses, o intercâmbio comercial caiu em 36% — e 80% desta queda são nas importações. O desabastecimento nas casas de câmbio é geral e há cortes na energia elétrica para evitar os apagões.

Algumas empresas fecharam. O governo começou a eliminar subsídios e gratuidades sociais e pede à população que aperte o cinto porque as restrições em 2010 serão maiores. O Estado só manterá a gratuidade em saúde e educação.

As convocações à economia e à austeridade são normais e cíclicas em Cuba. Mas desta vez a situação parece pior. A condição financeira é grave. “Muito grave”, assegura um economista que não deseja publicidade. Confirma o que se sabe há meses entre os homens de negócio e as embaixadas: já são centenas os empresários estrangeiros que não podem transferir dinheiro depositado em suas contas em bancos cubanos. Não há fundos. Calcula-se que em torno de US$ 600 milhões imobilizados. Mas essa é só uma estimativa.

O próprio Raúl Castro reconheceu ao chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que a situação é muito delicada. O presidente cubano disse que o país cumprirá os compromissos, mas advertiu que não há soluções imediatas e será necessário negociar prazos caso a caso.

Segundo economistas independentes, o Produto Interno Bruto poderia decrescer, após vários anos de resultados positivos.

As autoridades previam um crescimento do PIB em 2009 de 6%, mas depois recalcularam em 1,8%.

Segundo o governo, vários fatores influem na crise atual: a recessão internacional; a queda dos preços de seus produtos exportados, enquanto sobem os de alimentos e combustíveis que importam; as sequelas dos furacões no ano passado, que deixaram perdas equivalentes a 20% do PIB; e os efeitos do embargo americano. Não se menciona um assunto que para muitos é vital: a ineficiência da economia socialista e a falta de reformas que reativem a produtividade. As importações cubanas, que no ano passado chegaram a US$ 14 bilhões, este ano se reduziram a US$ 4 bilhões.

Nas lojas em moeda estrangeira — só elas dispõem de artigos de primeira necessidade, de azeite a xampu — cada vez há menos produtos.

Cada empresa e cada província segue um severo plano de consumo de energia. Nas lojas e escritório públicos é proibido usar o arcondicionado durante grande parte do dia, e empresas não lucrativas foram fechadas.

O governo começa a desmantelar o sistema de subsídios. Depois da eliminação dos bandejões em quatro ministérios, a experiência se estendeu aos 24.500 restaurantes operários que existem em todo o país. Na semana passada, saíram da caderneta de racionamento a vagem e a batata, que agora são vendidas por um preço muito mais alto.

Veja também

Artigo de Mauricio Vicent no O Globo:

Uma economia de cinto apertado e respiração suspensa

Mauricio Vicent

HAVANA. Cuba mergulha de novo na escuridão da crise. A falta de liquidez é agora asfixiante.

Nos últimos nove meses, o intercâmbio comercial caiu em 36% — e 80% desta queda são nas importações. O desabastecimento nas casas de câmbio é geral e há cortes na energia elétrica para evitar os apagões.

Algumas empresas fecharam. O governo começou a eliminar subsídios e gratuidades sociais e pede à população que aperte o cinto porque as restrições em 2010 serão maiores. O Estado só manterá a gratuidade em saúde e educação.

As convocações à economia e à austeridade são normais e cíclicas em Cuba. Mas desta vez a situação parece pior. A condição financeira é grave. “Muito grave”, assegura um economista que não deseja publicidade. Confirma o que se sabe há meses entre os homens de negócio e as embaixadas: já são centenas os empresários estrangeiros que não podem transferir dinheiro depositado em suas contas em bancos cubanos. Não há fundos. Calcula-se que em torno de US$ 600 milhões imobilizados. Mas essa é só uma estimativa.

O próprio Raúl Castro reconheceu ao chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que a situação é muito delicada. O presidente cubano disse que o país cumprirá os compromissos, mas advertiu que não há soluções imediatas e será necessário negociar prazos caso a caso.

Segundo economistas independentes, o Produto Interno Bruto poderia decrescer, após vários anos de resultados positivos.

As autoridades previam um crescimento do PIB em 2009 de 6%, mas depois recalcularam em 1,8%.

Segundo o governo, vários fatores influem na crise atual: a recessão internacional; a queda dos preços de seus produtos exportados, enquanto sobem os de alimentos e combustíveis que importam; as sequelas dos furacões no ano passado, que deixaram perdas equivalentes a 20% do PIB; e os efeitos do embargo americano. Não se menciona um assunto que para muitos é vital: a ineficiência da economia socialista e a falta de reformas que reativem a produtividade. As importações cubanas, que no ano passado chegaram a US$ 14 bilhões, este ano se reduziram a US$ 4 bilhões.

Nas lojas em moeda estrangeira — só elas dispõem de artigos de primeira necessidade, de azeite a xampu — cada vez há menos produtos.

Cada empresa e cada província segue um severo plano de consumo de energia. Nas lojas e escritório públicos é proibido usar o arcondicionado durante grande parte do dia, e empresas não lucrativas foram fechadas.

O governo começa a desmantelar o sistema de subsídios. Depois da eliminação dos bandejões em quatro ministérios, a experiência se estendeu aos 24.500 restaurantes operários que existem em todo o país. Na semana passada, saíram da caderneta de racionamento a vagem e a batata, que agora são vendidas por um preço muito mais alto.

Acompanhe tudo sobre:Cuba

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se