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Direito ao reparo: um grande passo em direção à Economia Circular

Quando falamos em economia circular, tratamos de um modelo econômico emergente e inteligente, que compreende muito melhor e a relação entre os capitais

(Jorg Greuel/Getty Images)
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institutomillenium

Publicado em 24 de setembro de 2021 às 13h17.

Por Marcelo Souza

Muito provavelmente você já se deparou com a situação chata de ter um equipamento eletroeletrônico e ser forçado a deixar de usá-lo, motivado por uma pequena quebra. Sem forçar muito a memória, posso citar duas ocasiões recentes que aconteceram comigo e, mesmo eu, sendo um estudioso, escritor, praticante e empreendedor da economia circular, ter empenhado muito esforço, fui forçado a me render ao sistema da economia linear, extração, industrialização, comercialização e descarte. Infelizmente, esse modelo de economia, a que estamos habituados e completamente cativos, enxerga a prosperidade em o quanto mais rápido for esse ciclo.

"Eu quero um furo, ou uma furadeira?", por Marcelo Souza

As duas ocasiões que me refiro são bastante similares, ou seja, pequenas quebras, que impedem o uso, também conhecidas como obsolescência programada. A primeira, que aconteceu 18 meses atrás, trata-se da quebra dos dentes do pente do meu barbeador, logo, a impossibilidade de utilizá-lo, mesmo que todo o equipamento, e convenhamos, todo mesmo (motor, mecanismo, etc) estivesse intacto. Apesar de todos os meus esforços, como tentar encontrar essa peça, que inclusive é uma parte móvel, nos mais diversos canais e e-commerce, enviei vários e-mails para o fabricante nacional, muito conhecido por sinal, não tive resposta.

A segunda ocasião foi com meu notebook, também de uma marca muito conhecida, que apresentou falha na tecla do “enter”. Imagine, o que se pode fazer com um notebook sem essa tecla? A jornada para tentar reparar meu equipamento foi intensa. Tentamos todos os canais possíveis e apesar de ser um produto novo, já com processador I7, como disse, de uma marca muito conhecida, não conseguimos repará-lo. Encontramos diversos botões, mas cada um com um sistema de encaixe diferente, mesmo falando do mesmo modelo. Para salvar o equipamento, decidi pela substituição de todo o teclado. Apesar de ser um absurdo, trocar exatas 84 teclas motivado por apenas penas 1, aparentemente era a única opção. Então, nos deparamos com a simples falta do teclado no mercado de reposição e sem previsão de abastecimento. Desculpa: o Covid-19.

Sabemos que a pandemia impactou fortemente a cadeia de suprimentos mundiais, mas me questiono se no momento que estamos vivendo (setembro de 2021), essa situação já não vive o forte processo de normalização, principalmente por estar localizado na maior capital do país.

Situações como essa não são novas ou de minha exclusividade. É fácil acreditar que se você não viveu algo similar ou até idêntico, uma vez que esses componentes são feitos em escala, pelo menos conhece alguém que teve uma situação parecida e isso, sem falar das vezes que o conserto de uma pequena parte fica mais caro que a compra de um produto novo.

Quando falamos em economia circular, tratamos de um modelo econômico emergente e inteligente, que compreende muito melhor e a relação entre os capitais humano, industrial, financeiro e natural. A resultante entre esses quatros capitais é a base para uma economia sustentável. A circularidade vem se apresentando como base sólida para ótimos modelos de negócios, como por exemplo as icônicas Uber e Arbnb, pois em seus conceitos existem diversas estratégias que mitigam situações como as que vivi.

Dentro de um modelo linear, a obsolescência programada e, mais recentemente, a obsolescência tecnológica, é muito forte. Por isso, a mudança de modelos e variações de peças é muito fomentado. Dessa maneira, como vetor resultante, vemos frequentemente, casos como o que apresentei anteriormente. Na Economia Circular isso é resolvido com padronização de componente.

Olhando atentamente para situações como essas, inicia-se a discussão sobre o direito ao reparo, assunto que começou a ganhar os palcos desde 2019, quando A União Europeia, com 395 votos a favor, 94 contra e 207 abstenções, aprovou novas regras que visam tornar os eletrodomésticos mais duráveis.

A lei prevê que os fabricantes deverão obedecer ao chamado “direito ao reparo”, que consiste em o fabricante implementar em seus produtos etiquetas mandatórias que deverão incluir informações sobre o tempo de vida útil estimado do produto e um índice de reparabilidade, além de oferecerem peças sobressalentes por 10 anos após a venda, que não exijam ferramentas especiais para instalação e estar disponível para profissionais independentes. Essa é a primeira vez na história que medidas incluem um aumento de durabilidade, requisitos de reciclabilidade, reutilização, reciclagem e eficiência energética, ou seja, aponta totalmente para a Economia Circular.

Já foi dado a largada e a França deu o primeiro passo em direção à nova diretriz da União Europeia, aprovando o projeto de lei que prevê que a taxa de reparabilidade dos eletroeletrônicos aumente em 60%. Desde janeiro deste ano a nova legislação está em vigor e se estrutura em 5 pilares: Facilidade de conserto; Preços de peças de reposição; Disponibilidade de peças; Disponibilidade de documentação de apoio para conserto; e Medida final que varia conforme o tipo de dispositivo.

A partir de 2024, o projeto ainda prevê um índice de durabilidade: “Queremos limitar o consumo do Capital Natural do mundo”. É o que disse a deputada relatora da legislação, Véronique Ritton.

Na Alemanha, alguns congressistas atuam para estender a vida útil dos smartphones, alongando o período de garantia e de reparo, O plano prevê que as peças para o reparo sejam de fácil acesso, com prazo máximo de obtenção de cinco dias úteis e por preços justos.

O Ministério da Economia da Alemanha, por intermédio de um porta-voz, explica que o objetivo é "aumentar a confiabilidade e a reparabilidade dos dispositivos". A ideia é resolver dois problemas: a obsolescência programada, um transtorno caro para o consumidor; e o uso desenfreado do Capital Natural causado pela produção e descarte excessivos, centro da estratégia da economia linear.

Como visto, já começamos os primeiros passos para um mundo mais circular. Com essas novas regras e implementações, esperara-se que os fabricantes apliquem esforços em produtos mais circulares. E, apesar de muitos ainda resistirem, uma pesquisa realizada em 2014 aponta que 77% das pessoas preferem consertar seu eletrônico, ao invés de trocá-lo. Além desse número, 79% dos consumidores defendem que os fabricantes sejam obrigados por lei a facilitar a reparabilidade. Esses dados se encontram no relatório intitulado “Atitudes dos Europeus em Relação à Gestão de Resíduos e Eficiência de Recursos”.

Leia também Sustentabilidade: ideologia ou economia? O histórico da Amazônia e a sustentabilidade: produção e preservação caminham juntas!

Implementar a economia circular, a cada dia que passa, se torna mais estratégico para as organizações e quem usufruir desse novo e correto modelo econômico, certamente colhera ótimos frutos.

Marcelo Souza é CEO da Indústria Fox

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Por Marcelo Souza

Muito provavelmente você já se deparou com a situação chata de ter um equipamento eletroeletrônico e ser forçado a deixar de usá-lo, motivado por uma pequena quebra. Sem forçar muito a memória, posso citar duas ocasiões recentes que aconteceram comigo e, mesmo eu, sendo um estudioso, escritor, praticante e empreendedor da economia circular, ter empenhado muito esforço, fui forçado a me render ao sistema da economia linear, extração, industrialização, comercialização e descarte. Infelizmente, esse modelo de economia, a que estamos habituados e completamente cativos, enxerga a prosperidade em o quanto mais rápido for esse ciclo.

"Eu quero um furo, ou uma furadeira?", por Marcelo Souza

As duas ocasiões que me refiro são bastante similares, ou seja, pequenas quebras, que impedem o uso, também conhecidas como obsolescência programada. A primeira, que aconteceu 18 meses atrás, trata-se da quebra dos dentes do pente do meu barbeador, logo, a impossibilidade de utilizá-lo, mesmo que todo o equipamento, e convenhamos, todo mesmo (motor, mecanismo, etc) estivesse intacto. Apesar de todos os meus esforços, como tentar encontrar essa peça, que inclusive é uma parte móvel, nos mais diversos canais e e-commerce, enviei vários e-mails para o fabricante nacional, muito conhecido por sinal, não tive resposta.

A segunda ocasião foi com meu notebook, também de uma marca muito conhecida, que apresentou falha na tecla do “enter”. Imagine, o que se pode fazer com um notebook sem essa tecla? A jornada para tentar reparar meu equipamento foi intensa. Tentamos todos os canais possíveis e apesar de ser um produto novo, já com processador I7, como disse, de uma marca muito conhecida, não conseguimos repará-lo. Encontramos diversos botões, mas cada um com um sistema de encaixe diferente, mesmo falando do mesmo modelo. Para salvar o equipamento, decidi pela substituição de todo o teclado. Apesar de ser um absurdo, trocar exatas 84 teclas motivado por apenas penas 1, aparentemente era a única opção. Então, nos deparamos com a simples falta do teclado no mercado de reposição e sem previsão de abastecimento. Desculpa: o Covid-19.

Sabemos que a pandemia impactou fortemente a cadeia de suprimentos mundiais, mas me questiono se no momento que estamos vivendo (setembro de 2021), essa situação já não vive o forte processo de normalização, principalmente por estar localizado na maior capital do país.

Situações como essa não são novas ou de minha exclusividade. É fácil acreditar que se você não viveu algo similar ou até idêntico, uma vez que esses componentes são feitos em escala, pelo menos conhece alguém que teve uma situação parecida e isso, sem falar das vezes que o conserto de uma pequena parte fica mais caro que a compra de um produto novo.

Quando falamos em economia circular, tratamos de um modelo econômico emergente e inteligente, que compreende muito melhor e a relação entre os capitais humano, industrial, financeiro e natural. A resultante entre esses quatros capitais é a base para uma economia sustentável. A circularidade vem se apresentando como base sólida para ótimos modelos de negócios, como por exemplo as icônicas Uber e Arbnb, pois em seus conceitos existem diversas estratégias que mitigam situações como as que vivi.

Dentro de um modelo linear, a obsolescência programada e, mais recentemente, a obsolescência tecnológica, é muito forte. Por isso, a mudança de modelos e variações de peças é muito fomentado. Dessa maneira, como vetor resultante, vemos frequentemente, casos como o que apresentei anteriormente. Na Economia Circular isso é resolvido com padronização de componente.

Olhando atentamente para situações como essas, inicia-se a discussão sobre o direito ao reparo, assunto que começou a ganhar os palcos desde 2019, quando A União Europeia, com 395 votos a favor, 94 contra e 207 abstenções, aprovou novas regras que visam tornar os eletrodomésticos mais duráveis.

A lei prevê que os fabricantes deverão obedecer ao chamado “direito ao reparo”, que consiste em o fabricante implementar em seus produtos etiquetas mandatórias que deverão incluir informações sobre o tempo de vida útil estimado do produto e um índice de reparabilidade, além de oferecerem peças sobressalentes por 10 anos após a venda, que não exijam ferramentas especiais para instalação e estar disponível para profissionais independentes. Essa é a primeira vez na história que medidas incluem um aumento de durabilidade, requisitos de reciclabilidade, reutilização, reciclagem e eficiência energética, ou seja, aponta totalmente para a Economia Circular.

Já foi dado a largada e a França deu o primeiro passo em direção à nova diretriz da União Europeia, aprovando o projeto de lei que prevê que a taxa de reparabilidade dos eletroeletrônicos aumente em 60%. Desde janeiro deste ano a nova legislação está em vigor e se estrutura em 5 pilares: Facilidade de conserto; Preços de peças de reposição; Disponibilidade de peças; Disponibilidade de documentação de apoio para conserto; e Medida final que varia conforme o tipo de dispositivo.

A partir de 2024, o projeto ainda prevê um índice de durabilidade: “Queremos limitar o consumo do Capital Natural do mundo”. É o que disse a deputada relatora da legislação, Véronique Ritton.

Na Alemanha, alguns congressistas atuam para estender a vida útil dos smartphones, alongando o período de garantia e de reparo, O plano prevê que as peças para o reparo sejam de fácil acesso, com prazo máximo de obtenção de cinco dias úteis e por preços justos.

O Ministério da Economia da Alemanha, por intermédio de um porta-voz, explica que o objetivo é "aumentar a confiabilidade e a reparabilidade dos dispositivos". A ideia é resolver dois problemas: a obsolescência programada, um transtorno caro para o consumidor; e o uso desenfreado do Capital Natural causado pela produção e descarte excessivos, centro da estratégia da economia linear.

Como visto, já começamos os primeiros passos para um mundo mais circular. Com essas novas regras e implementações, esperara-se que os fabricantes apliquem esforços em produtos mais circulares. E, apesar de muitos ainda resistirem, uma pesquisa realizada em 2014 aponta que 77% das pessoas preferem consertar seu eletrônico, ao invés de trocá-lo. Além desse número, 79% dos consumidores defendem que os fabricantes sejam obrigados por lei a facilitar a reparabilidade. Esses dados se encontram no relatório intitulado “Atitudes dos Europeus em Relação à Gestão de Resíduos e Eficiência de Recursos”.

Leia também Sustentabilidade: ideologia ou economia? O histórico da Amazônia e a sustentabilidade: produção e preservação caminham juntas!

Implementar a economia circular, a cada dia que passa, se torna mais estratégico para as organizações e quem usufruir desse novo e correto modelo econômico, certamente colhera ótimos frutos.

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