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Desafios Climáticos nas Favelas Brasileiras: Um Chamado à Ação

As populações das favelas urbanas do Brasil firam à margem do debate crescente sobre mudanças climáticas

The construction of fragile and illegal homes on the city mountains, creating the Favelas, started decades ago and never stopped. (Luoman/Getty Images)
Nina Rentel Scheliga

Colunista - Instituto Millenium

Publicado em 30 de novembro de 2023 às 09h39.

Em meio ao debate crescente sobre mudanças climáticas, um grupo fica frequentemente à margem das discussões, mas no centro dos impactos: as populações das favelas urbanas do Brasil. Com o mundo se aquecendo, são esses moradores, em situação de vulnerabilidade, que primeiro sentem as consequências de um clima em mudança. Com o aumento da temperatura, os mais pobres enfrentam um acúmulo de adversidades que incluem não apenas a falta de recursos financeiros, mas também insegurança habitacional, riscos à saúde e exclusão social.

As favelas brasileiras, situadas em locais inadequados e perigosos, como encostas de morros e margens de rios, sofrem com a vulnerabilidade agravada por um planejamento urbano que muitas vezes as ignora. Hoje, 15% das favelas estão em áreas de risco, segundo o Mapbiomas. As construções precárias, suscetíveis aos elementos e sem infraestrutura adequada, colocam em risco a vida de seus habitantes, especialmente quando eventos extremos, cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas, ocorrem.

A falta de áreas verdes nas favelas intensifica essa vulnerabilidade. Elas poderiam funcionar como barreiras naturais contra desastres e oferecer espaços de lazer e conforto térmico. Contudo, muitas favelas se encontram em zonas densamente povoadas com pouca arborização. Em São Paulo, por exemplo, existem zonas que superam a densidade arbórea recomendada pela ONU de 30%, mas bairros da periferia podem ter apenas 1% de densidade arbórea, como em São Mateus. O ambiente resultante tem sua qualidade do ar e da água comprometida, com riscos constantes de deslizamentos de terra e inundações.

Apesar desse cenário, há um caminho para a mudança que começa com a integração das agendas ambiental e social. Os problemas ambientais são intrinsecamente sociais, e as soluções para um afetam o outro. Exemplos como os corredores verdes de Medellín, que transformaram espaços urbanos em áreas que promovem a biodiversidade e oferecem alívio do concreto e do calor, ilustram o poder de abordagens integradas. Com 30 corredores verdes e mais de 124 parques, a prefeitura de Medellín registrou uma queda de 2º Celsius na temperatura média da cidade. Projetos de Cidades-Esponja na China buscam criar espaços verdes permeáveis e represas para evitar alagamentos.

Além de soluções em escala de cidade ou bairro, países como Bangladesh e Índia estudam construções de casas e escolas adaptadas ao clima. Casas elevadas ou flutuantes oferecem segurança em cenários de inundação, enquanto estruturas inovadoras podem ser mais resilientes a ciclones e tufões. No Brasil, considera-se também os deslizamentos em áreas de encosta onde muitas favelas se instalaram.

O sucesso dessas soluções depende de planejamento e execução com a participação de todos os atores relevantes. O Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2023 do PNUMA estima um investimento necessário de 196 a 336 bilhões de dólares por ano para adaptação climática de países em desenvolvimento. No Brasil, observamos a dificuldade de articular planos objetivos para adaptação climática e combate ao desmatamento da Amazônia, com impacto direto no clima do país e do mundo.

À medida que as estações chuvosas se aproximam, o Brasil enfrenta uma janela crítica para ação preventiva nas favelas urbanas. A antecipação de eventos climáticos exige a implementação imediata de infraestruturas adaptativas e resilientes. Em paralelo a COP 28, que começa esta semana, pode trazer novidades sobre a priorização e investimentos de adaptação climática frente ao ano mais quente de nossa história. Torcemos para que possam ser soluções mais objetivas e concretas para esse desafio mundial.

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Em meio ao debate crescente sobre mudanças climáticas, um grupo fica frequentemente à margem das discussões, mas no centro dos impactos: as populações das favelas urbanas do Brasil. Com o mundo se aquecendo, são esses moradores, em situação de vulnerabilidade, que primeiro sentem as consequências de um clima em mudança. Com o aumento da temperatura, os mais pobres enfrentam um acúmulo de adversidades que incluem não apenas a falta de recursos financeiros, mas também insegurança habitacional, riscos à saúde e exclusão social.

As favelas brasileiras, situadas em locais inadequados e perigosos, como encostas de morros e margens de rios, sofrem com a vulnerabilidade agravada por um planejamento urbano que muitas vezes as ignora. Hoje, 15% das favelas estão em áreas de risco, segundo o Mapbiomas. As construções precárias, suscetíveis aos elementos e sem infraestrutura adequada, colocam em risco a vida de seus habitantes, especialmente quando eventos extremos, cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas, ocorrem.

A falta de áreas verdes nas favelas intensifica essa vulnerabilidade. Elas poderiam funcionar como barreiras naturais contra desastres e oferecer espaços de lazer e conforto térmico. Contudo, muitas favelas se encontram em zonas densamente povoadas com pouca arborização. Em São Paulo, por exemplo, existem zonas que superam a densidade arbórea recomendada pela ONU de 30%, mas bairros da periferia podem ter apenas 1% de densidade arbórea, como em São Mateus. O ambiente resultante tem sua qualidade do ar e da água comprometida, com riscos constantes de deslizamentos de terra e inundações.

Apesar desse cenário, há um caminho para a mudança que começa com a integração das agendas ambiental e social. Os problemas ambientais são intrinsecamente sociais, e as soluções para um afetam o outro. Exemplos como os corredores verdes de Medellín, que transformaram espaços urbanos em áreas que promovem a biodiversidade e oferecem alívio do concreto e do calor, ilustram o poder de abordagens integradas. Com 30 corredores verdes e mais de 124 parques, a prefeitura de Medellín registrou uma queda de 2º Celsius na temperatura média da cidade. Projetos de Cidades-Esponja na China buscam criar espaços verdes permeáveis e represas para evitar alagamentos.

Além de soluções em escala de cidade ou bairro, países como Bangladesh e Índia estudam construções de casas e escolas adaptadas ao clima. Casas elevadas ou flutuantes oferecem segurança em cenários de inundação, enquanto estruturas inovadoras podem ser mais resilientes a ciclones e tufões. No Brasil, considera-se também os deslizamentos em áreas de encosta onde muitas favelas se instalaram.

O sucesso dessas soluções depende de planejamento e execução com a participação de todos os atores relevantes. O Relatório sobre a Lacuna de Adaptação 2023 do PNUMA estima um investimento necessário de 196 a 336 bilhões de dólares por ano para adaptação climática de países em desenvolvimento. No Brasil, observamos a dificuldade de articular planos objetivos para adaptação climática e combate ao desmatamento da Amazônia, com impacto direto no clima do país e do mundo.

À medida que as estações chuvosas se aproximam, o Brasil enfrenta uma janela crítica para ação preventiva nas favelas urbanas. A antecipação de eventos climáticos exige a implementação imediata de infraestruturas adaptativas e resilientes. Em paralelo a COP 28, que começa esta semana, pode trazer novidades sobre a priorização e investimentos de adaptação climática frente ao ano mais quente de nossa história. Torcemos para que possam ser soluções mais objetivas e concretas para esse desafio mundial.

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