Seu escritório pode estar matando a inovação
Querendo ou não, o layout dos escritórios dizem muito sobre a cultura de uma organização. Mesmo de maneira inconsciente as pessoas fazem a “leitura” de como trabalhar, entre outros elementos, do local físico no qual estão inseridas. É muito comum entrar em escritórios que foram projetados para manter as individualidades com salas fechadas, baias individuais e algumas salas de reunião (sempre muito disputadas, talvez um anseio por parte das pessoas […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2016 às 16h34.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h32.
Querendo ou não, o layout dos escritórios dizem muito sobre a cultura de uma organização. Mesmo de maneira inconsciente as pessoas fazem a “leitura” de como trabalhar, entre outros elementos, do local físico no qual estão inseridas.
É muito comum entrar em escritórios que foram projetados para manter as individualidades com salas fechadas, baias individuais e algumas salas de reunião (sempre muito disputadas, talvez um anseio por parte das pessoas de trabalharem mais próximas). Infelizmente a ideia de status associada a ter uma sala individual e um grande mesa ainda existe em muitos lugares.
O espaço físico impacta nossos comportamentos. Recentemente fui visitar algumas escolas para minha filha de 4 anos. Todas elas apresentavam algo em comum: mesas compartilhadas (normalmente para 4 a 6 crianças), paredes coloridas (com desenhos e outros estímulos) e algumas subdivisões informais que serviam para as diferentes atividades como contar historias, brincar, etc. Questionei o porque desse modelo e invariavelmente a resposta foi que dessa forma estimulava a colaboração, criatividade e senso de grupo nas crianças.
Uma das coisas que mais admiro nos educadores infantis é a capacidade de coordenar um grupo grande de crianças. Elas conseguem criar uma atmosfera criativa, colaborativa e também produtiva com as crianças. Além de toda preparação pedagógica acredito que o ambiente da sala de aula tem impacto nisso também.
Voltando para nosso universo empresarial, a influência do modelo industrial ainda tem grande impacto em como trabalhamos. Porém acredito que estejamos passando por uma transformação nesse aspecto. Diversas empresas, influenciadas principalmente pelas empresas de tecnologia do Vale do Silício, estão mudando a forma como organizam o ambiente de trabalho.
Fui conversar com alguns especialistas para entender essa relação entre o ambiente físico dos escritórios e o impacto na inovação. Albert Sugai, sócio do escritório de Arquitetura e Design de mesmo nome, cita que o escritório da empresa deve traduzir os valores e a cultura desejados.
“Os valores das empresas devem refletir em seus espaços, com a cultura enraizada para que os funcionários possam ter um sentimento de ownership. Além disso, esta transparência atrai e retém os melhores talentos. É necessário que a empresa tenha um appeal no mercado e é preciso ser bem vista de diversos ângulos, principalmente o interno.”
Assim, se uma empresa está querendo fomentar uma cultura de inovação deve prestar atenção a todos os detalhes, inclusive seu escritório. Não bastasse isso, Albert também ressalta que a nova geração de trabalhadores, a chamada geração Y, está em busca de atrativos e modelos de trabalho diferentes:
“Com relação a produtividade, atualmente uma porcentagem considerável de funcionários vem da geração Y. Para eles a diferença entre lazer e trabalho possui uma linha muito tênue, o que é ótimo. Logo um escritório muito rígido e sem ambientes de interação e descontração é contra produtivo.”
As empresas de tecnologia são hoje as grandes indutoras desse processo de remodelação dos padrões corporativos relativos a esse tema. Vocês já devem ter visto fotos do Googleplex (retratado no filme Os Estagiários) e os escritórios de empresas como Facebook, Twitter, GoDaddy, Zappos… Cada empresa e setor deve ter sua identidade traduzida no local de trabalho e quando a inovação é algo valorizado, esses elementos devem ser levados em consideração.
Um livro interessante sobre esse tema chama-se Make Space (sem tradução para o português), escrito por Scott Doorley e Scott Witthoft. Nele os autores abordam diferentes elementos para criar ambientes voltados para colaboração, imaginação e construção de protótipos para novas ideias e projetos. O livro é uma dica legal para quem está buscando incorporar algumas boas práticas já validadas nos laboratórios da escola de design de Stanford.
Outro estudo sobre o tema foi publicado em 2014 na Harvard Business Review. Os autores coletaram dados em inúmeras empresas para, então, poder estabelecer uma relação do melhor modelo de escritório. Para eles, encontros casuais durante o dia a dia de trabalho, as chamadas “colisões”, são importantes para melhorar a performance de trabalhadores do conhecimento.
A matriz abaixo relaciona duas variáveis: lugar fixo/flexível versus espaços fechados/abertos. Cada uma das 4 possibilidades cumprem melhor um objetivo específico. Essa leitura é interessante pois permite estruturar espaços com diferentes objetivos de trabalho dentro de um mesmo ambiente corporativo.
Fonte: https://hbr.org/2014/10/workspaces-that-move-people
Outro dado interessante trata da colaboração e interação entre pessoas. Segundo um estudo importante realizado na década de 70 por Thomas Allen, nós temos quatro vezes mais chances de nos comunicar com pessoas que estão até 2 metros de distância daquelas que estão 20 metros. Esse conceito de densidade é super importante, uma vez que a colaboração e comunicação diminui consideravelmente com a distância e pela separação dos times em andares e divisórias.
Ainda há outros elementos a se levar em consideração como cores e mobiliários. Todos importantes. Se você está buscando criar um ambiente favorável à inovação em sua empresa, não deixe de observar esses elementos, pois seu escritório pode estar matando a inovação!
Felipe Ost Scherer
Querendo ou não, o layout dos escritórios dizem muito sobre a cultura de uma organização. Mesmo de maneira inconsciente as pessoas fazem a “leitura” de como trabalhar, entre outros elementos, do local físico no qual estão inseridas.
É muito comum entrar em escritórios que foram projetados para manter as individualidades com salas fechadas, baias individuais e algumas salas de reunião (sempre muito disputadas, talvez um anseio por parte das pessoas de trabalharem mais próximas). Infelizmente a ideia de status associada a ter uma sala individual e um grande mesa ainda existe em muitos lugares.
O espaço físico impacta nossos comportamentos. Recentemente fui visitar algumas escolas para minha filha de 4 anos. Todas elas apresentavam algo em comum: mesas compartilhadas (normalmente para 4 a 6 crianças), paredes coloridas (com desenhos e outros estímulos) e algumas subdivisões informais que serviam para as diferentes atividades como contar historias, brincar, etc. Questionei o porque desse modelo e invariavelmente a resposta foi que dessa forma estimulava a colaboração, criatividade e senso de grupo nas crianças.
Uma das coisas que mais admiro nos educadores infantis é a capacidade de coordenar um grupo grande de crianças. Elas conseguem criar uma atmosfera criativa, colaborativa e também produtiva com as crianças. Além de toda preparação pedagógica acredito que o ambiente da sala de aula tem impacto nisso também.
Voltando para nosso universo empresarial, a influência do modelo industrial ainda tem grande impacto em como trabalhamos. Porém acredito que estejamos passando por uma transformação nesse aspecto. Diversas empresas, influenciadas principalmente pelas empresas de tecnologia do Vale do Silício, estão mudando a forma como organizam o ambiente de trabalho.
Fui conversar com alguns especialistas para entender essa relação entre o ambiente físico dos escritórios e o impacto na inovação. Albert Sugai, sócio do escritório de Arquitetura e Design de mesmo nome, cita que o escritório da empresa deve traduzir os valores e a cultura desejados.
“Os valores das empresas devem refletir em seus espaços, com a cultura enraizada para que os funcionários possam ter um sentimento de ownership. Além disso, esta transparência atrai e retém os melhores talentos. É necessário que a empresa tenha um appeal no mercado e é preciso ser bem vista de diversos ângulos, principalmente o interno.”
Assim, se uma empresa está querendo fomentar uma cultura de inovação deve prestar atenção a todos os detalhes, inclusive seu escritório. Não bastasse isso, Albert também ressalta que a nova geração de trabalhadores, a chamada geração Y, está em busca de atrativos e modelos de trabalho diferentes:
“Com relação a produtividade, atualmente uma porcentagem considerável de funcionários vem da geração Y. Para eles a diferença entre lazer e trabalho possui uma linha muito tênue, o que é ótimo. Logo um escritório muito rígido e sem ambientes de interação e descontração é contra produtivo.”
As empresas de tecnologia são hoje as grandes indutoras desse processo de remodelação dos padrões corporativos relativos a esse tema. Vocês já devem ter visto fotos do Googleplex (retratado no filme Os Estagiários) e os escritórios de empresas como Facebook, Twitter, GoDaddy, Zappos… Cada empresa e setor deve ter sua identidade traduzida no local de trabalho e quando a inovação é algo valorizado, esses elementos devem ser levados em consideração.
Um livro interessante sobre esse tema chama-se Make Space (sem tradução para o português), escrito por Scott Doorley e Scott Witthoft. Nele os autores abordam diferentes elementos para criar ambientes voltados para colaboração, imaginação e construção de protótipos para novas ideias e projetos. O livro é uma dica legal para quem está buscando incorporar algumas boas práticas já validadas nos laboratórios da escola de design de Stanford.
Outro estudo sobre o tema foi publicado em 2014 na Harvard Business Review. Os autores coletaram dados em inúmeras empresas para, então, poder estabelecer uma relação do melhor modelo de escritório. Para eles, encontros casuais durante o dia a dia de trabalho, as chamadas “colisões”, são importantes para melhorar a performance de trabalhadores do conhecimento.
A matriz abaixo relaciona duas variáveis: lugar fixo/flexível versus espaços fechados/abertos. Cada uma das 4 possibilidades cumprem melhor um objetivo específico. Essa leitura é interessante pois permite estruturar espaços com diferentes objetivos de trabalho dentro de um mesmo ambiente corporativo.
Fonte: https://hbr.org/2014/10/workspaces-that-move-people
Outro dado interessante trata da colaboração e interação entre pessoas. Segundo um estudo importante realizado na década de 70 por Thomas Allen, nós temos quatro vezes mais chances de nos comunicar com pessoas que estão até 2 metros de distância daquelas que estão 20 metros. Esse conceito de densidade é super importante, uma vez que a colaboração e comunicação diminui consideravelmente com a distância e pela separação dos times em andares e divisórias.
Ainda há outros elementos a se levar em consideração como cores e mobiliários. Todos importantes. Se você está buscando criar um ambiente favorável à inovação em sua empresa, não deixe de observar esses elementos, pois seu escritório pode estar matando a inovação!
Felipe Ost Scherer