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Inovação em sustainable finance: muito além de finanças

"Grande parte do desafio não mora no mecanismo financeiro em si, mas no arranjo econômico e no alinhamento de incentivos entre os diferentes agentes"

Investimento de impacto (Thithawat_s/Getty Images)
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marianamartucci

Publicado em 6 de abril de 2021 às 15h00.

Há vários caminhos para o mercado de capitais materializar princípios de investimento responsável. A partir da avaliação dos atuais ativos, o mercado toma suas decisões de alocação, seleciona ativos, exerce proxy voting em conselhos de administração e elege o que financiar. Outro caminho é o da inovação, criação de novos ativos e mercados que transformem sistemas para lógicas mais sustentáveis.

Bons representantes neste sentido são investimentos de impacto e de financiamento sustentável. Nestes casos, grande parte do desafio não mora no mecanismo financeiro em si, mas no arranjo econômico e no alinhamento de incentivos entre os diferentes agentes. A partir desse entendimento, há muito espaço para inovação. Um exemplo nessa linha é o Lab do Climate Policy Initiative ( CPI ). O Lab identifica, desenvolve e lança instrumentos financeiros inovadores. Desde sua fundação em 2014, o Lab já mobilizou mais de US$ 2 bilhões para lidar com as mudanças climáticas. Como requisito, essas iniciativas precisam deixar claro suas teses de mitigação de risco climático e respectivos indicadores a serem acompanhados. As propostas precisam atender a critérios de sustentação financeira, inovação, escalabilidade e capacidade de operacionalização.

Entre os dois projetos selecionados para Brasil em 2021 (além de dois na Asia e dois na África), um contempla a construção de uma solução que une pequenos produtores rurais da Amazônia, assistência técnica, blended finance e uma grande empresa ligada a esses pequenos produtores por meio de lógica de cadeia de suprimentos.

Para o desenvolvimento desses pequenos produtores, modelos tradicionais de crédito podem não funcionar e até piorar a situação do beneficiário ao provocar alto endividamento. Para este segmento, além de financiamento, é necessário apoio e capacitação para que se profissionalizem e saibam utilizar os recursos de modo eficiente, ou seja, a fim de melhorar o modelo de produção. Uma forma de alcançar esse objetivo é por intermédio de um modelo de fundo que atraia capital catalítico ou concessional (baixa ou nenhuma expectativa de retorno) para bancar a assistência técnica e incentivar esses produtores a se organizarem em cooperativas e agroindústrias.

Mais profissionalizados, esses produtores ampliam sua produção e, assim, ao receberem crédito, podem gerar retorno adequado aos investidores. Mas só isso não é suficiente para mitigar o risco do investidor. E é aí que entra a participação de uma grande empresa local, com amplo conhecimento do contexto e da região, que tenha esses produtores conectados em sua cadeia de suprimentos, garantido parte da compra e/ou pagando por serviços ambientais.

Esse mecanismo reduz consideravelmente o risco de crédito, pois o investidor entende o risco como sendo da empresa. Do lado do produtor, há claro incentivo para se desenvolver e crescer. Após um período de desenvolvimento de 5 a 10 anos, o veículo pode operar entregando retorno a todos os investidores do fundo e com outras possibilidades de acesso ao mercado de capitais por meio de diferentes modelos de fundos.

Esse exemplo demonstra as diversas oportunidades para construção de soluções em finanças sustentáveis que ajudem no desenvolvimento social e econômico de grupos vulneráveis em regiões de alta complexidade. No caso em questão, para reais impactos em mitigação climática e conservação da floresta serem alcançados, recursos precisam chegar aos pequenos produtores agroextrativistas, reforçando um modelo econômico viável para a “bioeconomia da floresta em pé”. Parceiros acadêmicos ( como Metricis ) e labs (como o do CPI e outros) são cruciais para disciplina da construção da teoria da mudança, desenvolvimento de indicadores e avaliação de impacto para se formar conhecimento robusto acerca da eficácia dessas soluções para posterior escalabilidade.

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Há vários caminhos para o mercado de capitais materializar princípios de investimento responsável. A partir da avaliação dos atuais ativos, o mercado toma suas decisões de alocação, seleciona ativos, exerce proxy voting em conselhos de administração e elege o que financiar. Outro caminho é o da inovação, criação de novos ativos e mercados que transformem sistemas para lógicas mais sustentáveis.

Bons representantes neste sentido são investimentos de impacto e de financiamento sustentável. Nestes casos, grande parte do desafio não mora no mecanismo financeiro em si, mas no arranjo econômico e no alinhamento de incentivos entre os diferentes agentes. A partir desse entendimento, há muito espaço para inovação. Um exemplo nessa linha é o Lab do Climate Policy Initiative ( CPI ). O Lab identifica, desenvolve e lança instrumentos financeiros inovadores. Desde sua fundação em 2014, o Lab já mobilizou mais de US$ 2 bilhões para lidar com as mudanças climáticas. Como requisito, essas iniciativas precisam deixar claro suas teses de mitigação de risco climático e respectivos indicadores a serem acompanhados. As propostas precisam atender a critérios de sustentação financeira, inovação, escalabilidade e capacidade de operacionalização.

Entre os dois projetos selecionados para Brasil em 2021 (além de dois na Asia e dois na África), um contempla a construção de uma solução que une pequenos produtores rurais da Amazônia, assistência técnica, blended finance e uma grande empresa ligada a esses pequenos produtores por meio de lógica de cadeia de suprimentos.

Para o desenvolvimento desses pequenos produtores, modelos tradicionais de crédito podem não funcionar e até piorar a situação do beneficiário ao provocar alto endividamento. Para este segmento, além de financiamento, é necessário apoio e capacitação para que se profissionalizem e saibam utilizar os recursos de modo eficiente, ou seja, a fim de melhorar o modelo de produção. Uma forma de alcançar esse objetivo é por intermédio de um modelo de fundo que atraia capital catalítico ou concessional (baixa ou nenhuma expectativa de retorno) para bancar a assistência técnica e incentivar esses produtores a se organizarem em cooperativas e agroindústrias.

Mais profissionalizados, esses produtores ampliam sua produção e, assim, ao receberem crédito, podem gerar retorno adequado aos investidores. Mas só isso não é suficiente para mitigar o risco do investidor. E é aí que entra a participação de uma grande empresa local, com amplo conhecimento do contexto e da região, que tenha esses produtores conectados em sua cadeia de suprimentos, garantido parte da compra e/ou pagando por serviços ambientais.

Esse mecanismo reduz consideravelmente o risco de crédito, pois o investidor entende o risco como sendo da empresa. Do lado do produtor, há claro incentivo para se desenvolver e crescer. Após um período de desenvolvimento de 5 a 10 anos, o veículo pode operar entregando retorno a todos os investidores do fundo e com outras possibilidades de acesso ao mercado de capitais por meio de diferentes modelos de fundos.

Esse exemplo demonstra as diversas oportunidades para construção de soluções em finanças sustentáveis que ajudem no desenvolvimento social e econômico de grupos vulneráveis em regiões de alta complexidade. No caso em questão, para reais impactos em mitigação climática e conservação da floresta serem alcançados, recursos precisam chegar aos pequenos produtores agroextrativistas, reforçando um modelo econômico viável para a “bioeconomia da floresta em pé”. Parceiros acadêmicos ( como Metricis ) e labs (como o do CPI e outros) são cruciais para disciplina da construção da teoria da mudança, desenvolvimento de indicadores e avaliação de impacto para se formar conhecimento robusto acerca da eficácia dessas soluções para posterior escalabilidade.

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