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A batalha pelos aflitos: a luta pela classe média nas eleições 2022

Pesquisas Exame/IDEIA mostram que a classe média ainda tem Lula na marca penal, mas Bolsonaro também não conta mais com o sub-grupo que votou nele em 2018

Maurício Moura: grupo de eleitores que são anti-Lula e anti-Bolsonaro é heterogêneo mas está unido pela aflição da busca por um espaço para não ficar de escanteio do Bolsolulismo (Paulo Whitaker e Rodolfo Buhrer/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2021 às 11h28.

Última atualização em 21 de maio de 2021 às 11h30.

Por Maurício Moura

Há um episódio no futebol brasileiro contemporâneo que beira a dramaturgia. Ocorreu em 26 de novembro de 2005 no Estádio Elácio de Barros Carvalho, no bairro dos Aflitos em Recife. Esse dia do esporte bretão ficou conhecido como a “Batalha dos Aflitos” pelos torcedores do Gremio de Porto Alegre. O time gaúcho jogava contra o Naútico e o vencedor basicamente seria promovido para a Série A do Campeonato Brasileiro do ano seguinte. O perdedor iria permanecer na segunda divisão (a Série B). Um pênalti no segundo tempo levou a uma confusão generalizada que paralisou o jogo por 27 minutos, com quatro jogadores gremistas expulsos e ingresso em campo da polícia e de dirigentes. Após a cúpula gaúcha desistir de tirar a equipe de campo e aceitar a cobrança do pênalti, o goleiro gremista defendeu a penalidade, levando a um contra-ataque em que o clube do Rio Grande do Sul marcou um gol, dando a vitória e a vaga na primeira divisão. Em 2022, baseado nos dados presentes até o momento teremos dois campos: o Lulismo estabelecido e a batalha pelos “aflitos” da classe média. Esses dois campos estarão no segundo turno presidencial.

A última pesquisa nacional telefônica Exame/IDEIA , que ouviu aproximadamente 1.200 eleitores na semana de 17 de maio, mostrou a solidez da candidatura do ex-presidente. O petista lidera em todas as simulações de primeiro e segundo turnos contra todas as mais diversas combinações de potenciais candidaturas. Mais do que isso, Lula mostra a sua musculatura no campo popular. Ele lidera, com folga, os segmentos de baixa renda e escolaridade e é o “rei da bola no Nordeste”. Será muito improvável a reversão desse quadro até a eleição. Somente um auxílio emergencial de renda que vá muito além de julho de 2021, com alto volume e enorme extensão de beneficiados poderia sacudir esse cenário. Por outro lado, dificilmente abalaria as estruturas do Lulismo nas mentes populares.

E a classe média? As recorrentes pesquisas Exame/IDEIA tem mostrado que a classe média brasileira ainda tem Lula e o PT na marca penal. O mesmo levantamento apontou que aproximadamente 50% dos brasileiros acreditam que o corintiano Lula não merece voltar. Em regiões como Sul e Centro-Oeste esse número atinge quase 60%. Todavia, o palmeirense e presidente Jair Messias Bolsonaro também não “bate um bolão” nesse quesito. No segmento A/B de renda, ele atinge a péssima marca de 57% que são contra sua re-eleição. Esse é o mesmo sub-grupo que votou no capitão para tirar o PT e agora desaprova o trabalho do atual governo federal. São os mesmos que estão decepcionados com o ritmo de vacinação e tem sérias preocupações com o presente e futuro da economia brasileira.

Nesse contexto, fica a natural indagação: então, a potencial “terceira via” poderia ocupar facilmente esse espaço da classe média aflita e anti-Lula/anti-Bolsonaro? Sim e não. A boa notícia da última pesquisa Exame/IDEIA é que há um oceano de eleitores que ainda não tem mentes e corações na eleição presidencial. A pesquisa mostrou que quase a metade dos entrevistados não sabem apontar um presidenciável preferido quando perguntados espontaneamente (sem se apresentar opções de potenciais candidatos). Esse número dá a real dimensão do campo de disputa aberta. Porém, tanto Lula como Bolsonaro partem dois andares acima e já tem dois dígitos de voto espontâneo. O voto espontâneo costuma ser a baliza de solidez de uma candidatura. E ao testarmos diversos nomes da potencial “terceira via”, (Ciro Gomes, Sérgio Moro, Joao Dória, Eduardo Leite, Tasso Jereissati, Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Joao Amoedo e Danilo Gentilli), todos ainda se mostram distantes da primeira divisão da disputa pelo Palácio do Planalto. Alguns argumentam que é porque a partida real ainda não começou. Talvez sim. Outros dizem que esses só serão plenamente conhecidos e reconhecidos ao se apresentarem no estádio da opinião pública. E isso ainda não aconteceu.

De certo são três pontos: a) o grupo de eleitores que são anti-Lula e anti-Bolsonaro é heterogêneo mas está unido pela aflição da busca por um espaço para não ficar de escanteio do Bolsolulismo e b) para ter uma “terceira via” competitiva é preciso esvaziar o campo de jogo. Assim como na “na batalha do Aflitos” necessitaria ocorrer a “exclusão” de pelo menos uns quatro potenciais candidatos. Assim o(a) torcedor(a) (ou eleitor(a)) ganharia mais foco e atenção. Por último, não adianta esperar um contra-ataque nos últimos minutos de jogo para reverter o placar. A aflição nessa eleição de 2022 deve gerar somente dispersão. E quem ganha com isso são os que já estão no jogo.

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Por Maurício Moura

Há um episódio no futebol brasileiro contemporâneo que beira a dramaturgia. Ocorreu em 26 de novembro de 2005 no Estádio Elácio de Barros Carvalho, no bairro dos Aflitos em Recife. Esse dia do esporte bretão ficou conhecido como a “Batalha dos Aflitos” pelos torcedores do Gremio de Porto Alegre. O time gaúcho jogava contra o Naútico e o vencedor basicamente seria promovido para a Série A do Campeonato Brasileiro do ano seguinte. O perdedor iria permanecer na segunda divisão (a Série B). Um pênalti no segundo tempo levou a uma confusão generalizada que paralisou o jogo por 27 minutos, com quatro jogadores gremistas expulsos e ingresso em campo da polícia e de dirigentes. Após a cúpula gaúcha desistir de tirar a equipe de campo e aceitar a cobrança do pênalti, o goleiro gremista defendeu a penalidade, levando a um contra-ataque em que o clube do Rio Grande do Sul marcou um gol, dando a vitória e a vaga na primeira divisão. Em 2022, baseado nos dados presentes até o momento teremos dois campos: o Lulismo estabelecido e a batalha pelos “aflitos” da classe média. Esses dois campos estarão no segundo turno presidencial.

A última pesquisa nacional telefônica Exame/IDEIA , que ouviu aproximadamente 1.200 eleitores na semana de 17 de maio, mostrou a solidez da candidatura do ex-presidente. O petista lidera em todas as simulações de primeiro e segundo turnos contra todas as mais diversas combinações de potenciais candidaturas. Mais do que isso, Lula mostra a sua musculatura no campo popular. Ele lidera, com folga, os segmentos de baixa renda e escolaridade e é o “rei da bola no Nordeste”. Será muito improvável a reversão desse quadro até a eleição. Somente um auxílio emergencial de renda que vá muito além de julho de 2021, com alto volume e enorme extensão de beneficiados poderia sacudir esse cenário. Por outro lado, dificilmente abalaria as estruturas do Lulismo nas mentes populares.

E a classe média? As recorrentes pesquisas Exame/IDEIA tem mostrado que a classe média brasileira ainda tem Lula e o PT na marca penal. O mesmo levantamento apontou que aproximadamente 50% dos brasileiros acreditam que o corintiano Lula não merece voltar. Em regiões como Sul e Centro-Oeste esse número atinge quase 60%. Todavia, o palmeirense e presidente Jair Messias Bolsonaro também não “bate um bolão” nesse quesito. No segmento A/B de renda, ele atinge a péssima marca de 57% que são contra sua re-eleição. Esse é o mesmo sub-grupo que votou no capitão para tirar o PT e agora desaprova o trabalho do atual governo federal. São os mesmos que estão decepcionados com o ritmo de vacinação e tem sérias preocupações com o presente e futuro da economia brasileira.

Nesse contexto, fica a natural indagação: então, a potencial “terceira via” poderia ocupar facilmente esse espaço da classe média aflita e anti-Lula/anti-Bolsonaro? Sim e não. A boa notícia da última pesquisa Exame/IDEIA é que há um oceano de eleitores que ainda não tem mentes e corações na eleição presidencial. A pesquisa mostrou que quase a metade dos entrevistados não sabem apontar um presidenciável preferido quando perguntados espontaneamente (sem se apresentar opções de potenciais candidatos). Esse número dá a real dimensão do campo de disputa aberta. Porém, tanto Lula como Bolsonaro partem dois andares acima e já tem dois dígitos de voto espontâneo. O voto espontâneo costuma ser a baliza de solidez de uma candidatura. E ao testarmos diversos nomes da potencial “terceira via”, (Ciro Gomes, Sérgio Moro, Joao Dória, Eduardo Leite, Tasso Jereissati, Luciano Huck, Luiz Henrique Mandetta, Joao Amoedo e Danilo Gentilli), todos ainda se mostram distantes da primeira divisão da disputa pelo Palácio do Planalto. Alguns argumentam que é porque a partida real ainda não começou. Talvez sim. Outros dizem que esses só serão plenamente conhecidos e reconhecidos ao se apresentarem no estádio da opinião pública. E isso ainda não aconteceu.

De certo são três pontos: a) o grupo de eleitores que são anti-Lula e anti-Bolsonaro é heterogêneo mas está unido pela aflição da busca por um espaço para não ficar de escanteio do Bolsolulismo e b) para ter uma “terceira via” competitiva é preciso esvaziar o campo de jogo. Assim como na “na batalha do Aflitos” necessitaria ocorrer a “exclusão” de pelo menos uns quatro potenciais candidatos. Assim o(a) torcedor(a) (ou eleitor(a)) ganharia mais foco e atenção. Por último, não adianta esperar um contra-ataque nos últimos minutos de jogo para reverter o placar. A aflição nessa eleição de 2022 deve gerar somente dispersão. E quem ganha com isso são os que já estão no jogo.

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