Exame Logo

O segredo está em não impor limites a si mesmo, afirma Alexandre da Pepsico Brazil Foods

Na coluna desta semana, conheça a história de Alexandre Carreteiro CEO da PepsiCo Brazil Foods

Alexandre Carreteiro (Pepsi Co Brazil Foods/Reprodução)

Publicado em 15 de setembro de 2023 às 16h00.

Em algum lugar eu li que sem desafios não há evolução. Foi nisso que me apeguei quando, depois de 18 anos de dedicação à Nestlé, aceitei fazer uma transição de carreira para a PepsiCo, em plena Pandemia de Covid-19. Naquelas quase duas décadas anteriores, vinha atuando sempre como expatriado e alcancei resultados importantes, mas, enfim, entendi que era hora de ir além, e, para isso, não poderia me limitar ou me deixar dominar pelas incertezas. A opção pela mudança, evidentemente, exigiu uma profunda reflexão, mas tinha meus argumentos. Com três filhos e uma custódia compartilhada em diferentes países, precisava repensar como poderia continuar crescendo profissionalmente e, ao mesmo tempo, estar próximo da minha família, que se encontrava na França e no Brasil.

Naquele momento, março de 2021, a PepsiCo estava buscando se expandir internacionalmente e crescer ainda mais forte além das fronteiras dos Estados Unidos. E o Brasil oferecia uma oportunidade única para mim, especialmente do ponto de vista familiar, pois toda a minha família se encontrava aqui. Fui recrutado à distância como CEO da PepsiCo Brazil Foods – com todo o processo ocorrendo de forma virtual – e, ao desembarcar em São Paulo, deparei-me com um cenário de restrições, típico daqueles dias difíceis de covid-19, com quase tudo fechado. Internamente, estava em um ambiente desconhecido, mas sempre tive uma abordagem de escuta ativa. Então comecei a me conectar virtualmente, ouvindo cerca de 400 pessoas de dentro e fora da organização, tanto na América Latina quanto em âmbito global.

Assim fui construindo uma estratégia colaborativa e alinhando os interesses de todos os envolvidos. Não foi uma tarefa fácil, contudo, gradualmente começamos a nos adaptar. Minha prioridade inicial era apoiar as pessoas que estavam na linha de frente e tive a felicidade de encontrar uma empresa profundamente humana, com cujos valores me alinho completamente. Temos 12 mil colaboradores e oito fábricas, além de um centro de pesquisa e desenvolvimento que reúne mais de cem cientistas. Estamos investindo fortemente no Brasil, com um compromisso com o crescimento sustentável, apoiado na diversidade e na inclusão, valores pelos quais fui guiado ao longo de toda a minha trajetória.

Mais um imigrante em Paris

Antes de seguir adiante, permita-me apenas me apresentar. Nasci e cresci na cidade do Rio de Janeiro, filho de um engenheiro e especialista em petróleo e gás e de uma dedicada psicóloga e professora na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Minha mãe acabou tendo a oportunidade de fazer seu doutorado na França e, por conta disso, embarcamos para Paris, quando eu tinha apenas dez anos. Morávamos na Chinatown parisiense, onde convivi com cambojanos, vietnamitas, argelinos e senegaleses. Essa jornada durou cinco anos e foi um período intenso de descobertas e aprendizados. Ao chegar, não falava francês e aprendi na veia o que era ser um imigrante. Para complicar, mudei cinco vezes de escola (a primeira durou uma semana) e dez vezes de classe.

Nesse período, comecei a jogar tênis e, no meu último ano, passei a frequentar uma escola, a Tênis-Estudos, onde estudava de manhã e praticava tênis à tarde. Voltamos ao Brasil e, aos 18 anos, coloquei-me entre os 25 melhores tenistas juvenis do país, e não me imaginava fora deste esporte. Por conta dele, fui contemplado com uma bolsa esportiva pela Temple University e embarquei para a cidade da Filadélfia, nos Estados Unidos. A Temple estava localizada em um bairro negro e tinha mais de 30% de seus estudantes negros. Essa convivência e aprendizado, aliados à minha infância em Chinatown, na França, fizeram-me apreciar e valorizar a diversidade e a inclusão. Ali, estudei Finanças e Comércio Internacional, entre 1995 e 1999, e procurei equilibrar a busca por excelência atlética com a evolução acadêmica.

Estive envolvido com o tênis por 13 anos consecutivos, e isso deixaria uma marca indelével em minha vida. Apesar disso, era preciso seguir em frente. No entanto, as lições que esse esporte me proporcionou permanecem intactas em minha bagagem de vida. A meticulosa preparação, o manejo do estresse e o trabalho em equipe moldaram minha mentalidade de maneira profunda. Competir em equipe nos Estados Unidos, por exemplo, ensinou-me a extrair lições valiosas, mesmo nas derrotas. Essa realidade exige uma constante reavaliação e reinvenção de nós mesmos.

Foi nesse momento que direcionei minha atenção para o campo das fusões e aquisições (ou M&A, na sigla em inglês). Juntei-me então à AmeriGas, uma destacada líder global no mercado de gás propano, com sede na Pensilvânia, participando de aquisições locais e também na França e na China. Ao todo, morei seis anos nos Estados Unidos e, depois disso, decidi fazer um mestrado em Finanças, optando pela Université Paris Dauphine, uma renomada instituição francesa. Lá, estudei entre 2000 e 2001 e, após concluir o programa, tive a oportunidade de trabalhar na Danone, onde me envolvi em projetos de fusões e aquisições. Percebi, enfim, que meu destino estava nas indústrias de alimentos e bebidas. Então, com o objetivo de vivenciar uma experiência internacional abrangente, decidi posteriormente ingressar na Nestlé. Essa jornada duraria quase duas décadas e me permitiu assumir diversos cargos, incluindo o de controlador de negócios na Europa para a divisão de águas, diretor financeiro do negócio de águas e, em seguida, diretor-geral em Portugal, onde ficaria de 2008 a 2010.

Passaria ainda pela Espanha antes de voltar ao meu país, em 2012. Depois de tanto tempo fora, aquele foi um grande momento para mim. Durante quatro anos, dedicamo-nos intensamente à reestruturação do negócio de águas, impulsionando o crescimento, a rentabilidade e aprimorando os processos e as parcerias. Depois de quase quatro anos no Brasil, me foi dada outra responsabilidade, agora na posição de presidente da região do Caribe e, na sequência, fui então chamado para trabalhar na sede mundial da Nestlé, como VP Regional para a América do Norte (EUA, Canadá e México). Como deputy do CEO para a região das Américas, liderei também a função comercial e as agendas de transformação digital, de inovação e renovação em um período de expansão significativa. E tudo isso me trouxe ao lugar em que me encontro agora, como presidente na PepsiCo Brazil Foods.

Resiliência e pensamento de longo de prazo

A opção pela PepsiCo representa um marco positivo da minha trajetória, porque não busquei apenas um cargo, mas quis dar um novo direcionamento para a minha carreira. Vinha trabalhando em alimentos e bebidas, e a PepsiCo tem estas duas divisões desenvolvidas. Trata-se de uma organização fortíssima nos Estados Unidos, com planos de crescimento em âmbito internacional, sendo o Brasil um país que representa este potencial. Além disso, estar com a família neste momento tão importante, quando meu pai passou por um câncer na próstata e sobreviveu, foi importantíssimo.

Destaco que desde a infância, vivenciei etapas significativas. No tênis, jogando nos Estados Unidos, aprendi lições valiosas que ultrapassaram qualquer estudo acadêmico. Embora tenha frequentado prestigiadas instituições, o esporte me ensinou muito. Dessa forma, carreguei tal experiência comigo nas vivências que tive em diversos países, desempenhando atividades laborais em um número superior a 25 nações distintas. Essa experiência ampliou meus horizontes e enriqueceu meu conhecimento global.

Ainda assim, de vez em quando penso no sonho não concretizado de me tornar um tenista profissional. Mas não guardo rancor, pois, analisando em profundidade, para realmente se destacar no tênis, é preciso estar entre os 50 melhores do mundo. Prefiro enfatizar o aprendizado que obtive, pois este supera qualquer tipo de decepção. Essa experiência descontinuada proveniente do tênis resultou em resiliência, justamente porque nas quadras experimentei mais derrotas do que vitórias.

Diante disso, acredito na importância de um pensamento voltado para o longo prazo. Percebo que muitas pessoas estão excessivamente ansiosas, concentradas apenas nos resultados imediatos e tomando decisões visando exclusivamente ao aspecto financeiro. Reconheço a relevância dessas questões, mas considero o equilíbrio, a harmonia e a visão de médio e longo prazos ainda mais essenciais para a construção de uma carreira bem-sucedida. Lá atrás, tracei um caminho e compreendi que, no decorrer desta jornada, enfrentaria dificuldades e derrotas. Contudo, ao longo do percurso, demonstrei resiliência, aprendi com meus erros e segui adiante.

Liderança autêntica e empática

Toda história é escrita por muitas mãos, que nos são estendidas ao longo da caminhada. Não construímos nada sozinhos, daí a importância de valorizar aqueles que têm estado comigo e desempenharam um papel fundamental em minha vida, a começar pela minha mãe, uma mulher genuinamente extraordinária. Sair da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e viver em um apartamento de um quarto e sala no Quartier Asiatique, a maior Chinatown da Europa, não foi fácil. Dividir esse espaço com três pessoas foi um desafio. Não houve glamour, foram cinco anos realmente difíceis. No entanto, minha mãe esteve sempre presente, oferecendo apoio incondicional. Sua perspectiva antropológica e psicológica ajudou a me moldar como homem e cidadão, especialmente na minha maneira de me portar com todas as pessoas de forma igualitária. Sua influência e apoio são inestimáveis, inspirando-me desde sempre a tratar a todos com igualdade e compaixão, e acredito que estes não são valores que devem ser menosprezados pelos líderes.

As lideranças atuais precisam de autenticidade e empatia. Na verdade, devem possuir uma habilidade ambidestra, isto é, ter um lado analítico e numérico, mas também um lado humano e emocional, caloroso e empático. Além disso, a resiliência é essencial, pois enfrentamos constantes desafios. Para nossas equipes, por exemplo, contratamos pessoas que possuem boas notas na universidade ou que já tiveram experiências em outras empresas. No entanto, o que realmente faz a diferença no dia a dia, mais do que as competências técnicas, são as habilidades humanas.

Portanto, acredito que é extremamente importante para um profissional possuir tais características. Lembro que somos uma empresa da linha de frente e queremos proporcionar às nossas pessoas de fábrica, logística e vendas uma oportunidade de crescer. Percebi que meu propósito é ajudar as pessoas a atingirem o seu máximo potencial em uma vida integrada. Pude encontrar esta oportunidade aqui na PepsiCo, que completa 70 anos de história no Brasil.

Isso é motivo de grande orgulho, mas também é uma advertência de que temos uma responsabilidade contínua em fazer a diferença. A sustentabilidade é um pilar fundamental em nossa estratégia e temos três iniciativas importantes: agricultura positiva, cadeia de valor positiva e escolhas positivas. Buscamos ir além e tornar nossa agricultura regenerativa, e acreditamos que a cadeia de valor é crucial nesse processo. Aqui, valorizamos a diversidade em todas as áreas da empresa, desde a linha de frente até as operações, pois acreditamos que se trata de uma fonte de riqueza e inovação.

A vida é uma maratona, não um sprint

“Feito é melhor do que perfeito”. Essa é uma frase da qual gosto muito, pois sou um homem mais de ação e de realizações que de simples palavras. Arriscar, sair da zona de conforto e aprender com os erros sintetizam bem a minha trajetória. Sou uma pessoa pragmática, com uma visão estratégica, mas priorizo a execução. Não adianta esperar pela perfeição, que pode levar anos para ser alcançada, quando temos de tomar decisões no presente. Assumir riscos, errar e corrigir é mais valioso do que esperar pela perfeição, afinal, enquanto hesitamos, alguém pode já ter chegado antes de nós.

Por fim, antes de encerrar estas reflexões, lembro ainda que, ao longo da minha jornada, sempre nutri uma profunda conexão com o ambiente acadêmico, pois me considero um eterno aprendiz. E foi neste ambiente que vivenciei os momentos mais marcantes de minha existência. Assim, reitero a importância de cultivar uma mentalidade positiva, de longo prazo, alimentando um desejo insaciável por conhecimento e abraçando uma visão abrangente, uma vez que, com frequência, impomos limites a nós mesmos.

Tenho comigo que a vida é uma maratona, e não um sprint. Essa lição foi valiosa para mim e a carrego desde minha infância. Cada experiência que tive, seja nas quadras de tênis, nas salas de aula ou nas negociações empresariais, no Brasil e no mundo, me ajudou a tornar a pessoa que sou hoje. Portanto, façam suas melhores escolhas, desde sempre. Isso fará totaldiferença em todos os sentidos no decorrer da caminhada.

Meu caminho tem margens muito pragmáticas e racionais, influenciado por um pai engenheiro, mas um centro pautado por valores humanos fortíssimos, influenciado pela minha mãe, irmã e esposa, todas psicólogas. Nunca pensei que iria morar em sete países e falar quatro idiomas. Mas aprendi que gosto de aprender com pessoas e culturas diferentes. E se tem uma lição que tirei de tudo isso que vivi, é que, no fundo, o mais importante na vida é ser feliz e que vale a pena buscar a felicidade, o equilíbrio e a harmonia entre vida pessoal e profissional. Sinto-me realizado por ter finalmente atingido essa conquista, porque tenho a dádiva de trabalhar em uma empresa incrível e ter formado uma família extraordinária, com minha esposa Gisselle e meus filhos Lucas, Thais e Hugo, além dos meus enteados Esteban e Eliseu. Isso tudo é infinitamente mais do que pedi e está na raiz daquilo que me motiva diariamente e me faz feliz de verdade.

Livros recomendados por Alexandre Carreteiro

Pai rico, pai pobre, de Robert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter. Editora Alta Books, 2018.

O clube das 5 da manhã, de Robin Sharma. Editora BestSeller, 2019.

Equipes brilhantes, de Daniel Coyle.Editora Sextante, 2018

Discover your true north, de Bill George. Editora Wiley, 2015

Veja também

Em algum lugar eu li que sem desafios não há evolução. Foi nisso que me apeguei quando, depois de 18 anos de dedicação à Nestlé, aceitei fazer uma transição de carreira para a PepsiCo, em plena Pandemia de Covid-19. Naquelas quase duas décadas anteriores, vinha atuando sempre como expatriado e alcancei resultados importantes, mas, enfim, entendi que era hora de ir além, e, para isso, não poderia me limitar ou me deixar dominar pelas incertezas. A opção pela mudança, evidentemente, exigiu uma profunda reflexão, mas tinha meus argumentos. Com três filhos e uma custódia compartilhada em diferentes países, precisava repensar como poderia continuar crescendo profissionalmente e, ao mesmo tempo, estar próximo da minha família, que se encontrava na França e no Brasil.

Naquele momento, março de 2021, a PepsiCo estava buscando se expandir internacionalmente e crescer ainda mais forte além das fronteiras dos Estados Unidos. E o Brasil oferecia uma oportunidade única para mim, especialmente do ponto de vista familiar, pois toda a minha família se encontrava aqui. Fui recrutado à distância como CEO da PepsiCo Brazil Foods – com todo o processo ocorrendo de forma virtual – e, ao desembarcar em São Paulo, deparei-me com um cenário de restrições, típico daqueles dias difíceis de covid-19, com quase tudo fechado. Internamente, estava em um ambiente desconhecido, mas sempre tive uma abordagem de escuta ativa. Então comecei a me conectar virtualmente, ouvindo cerca de 400 pessoas de dentro e fora da organização, tanto na América Latina quanto em âmbito global.

Assim fui construindo uma estratégia colaborativa e alinhando os interesses de todos os envolvidos. Não foi uma tarefa fácil, contudo, gradualmente começamos a nos adaptar. Minha prioridade inicial era apoiar as pessoas que estavam na linha de frente e tive a felicidade de encontrar uma empresa profundamente humana, com cujos valores me alinho completamente. Temos 12 mil colaboradores e oito fábricas, além de um centro de pesquisa e desenvolvimento que reúne mais de cem cientistas. Estamos investindo fortemente no Brasil, com um compromisso com o crescimento sustentável, apoiado na diversidade e na inclusão, valores pelos quais fui guiado ao longo de toda a minha trajetória.

Mais um imigrante em Paris

Antes de seguir adiante, permita-me apenas me apresentar. Nasci e cresci na cidade do Rio de Janeiro, filho de um engenheiro e especialista em petróleo e gás e de uma dedicada psicóloga e professora na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Minha mãe acabou tendo a oportunidade de fazer seu doutorado na França e, por conta disso, embarcamos para Paris, quando eu tinha apenas dez anos. Morávamos na Chinatown parisiense, onde convivi com cambojanos, vietnamitas, argelinos e senegaleses. Essa jornada durou cinco anos e foi um período intenso de descobertas e aprendizados. Ao chegar, não falava francês e aprendi na veia o que era ser um imigrante. Para complicar, mudei cinco vezes de escola (a primeira durou uma semana) e dez vezes de classe.

Nesse período, comecei a jogar tênis e, no meu último ano, passei a frequentar uma escola, a Tênis-Estudos, onde estudava de manhã e praticava tênis à tarde. Voltamos ao Brasil e, aos 18 anos, coloquei-me entre os 25 melhores tenistas juvenis do país, e não me imaginava fora deste esporte. Por conta dele, fui contemplado com uma bolsa esportiva pela Temple University e embarquei para a cidade da Filadélfia, nos Estados Unidos. A Temple estava localizada em um bairro negro e tinha mais de 30% de seus estudantes negros. Essa convivência e aprendizado, aliados à minha infância em Chinatown, na França, fizeram-me apreciar e valorizar a diversidade e a inclusão. Ali, estudei Finanças e Comércio Internacional, entre 1995 e 1999, e procurei equilibrar a busca por excelência atlética com a evolução acadêmica.

Estive envolvido com o tênis por 13 anos consecutivos, e isso deixaria uma marca indelével em minha vida. Apesar disso, era preciso seguir em frente. No entanto, as lições que esse esporte me proporcionou permanecem intactas em minha bagagem de vida. A meticulosa preparação, o manejo do estresse e o trabalho em equipe moldaram minha mentalidade de maneira profunda. Competir em equipe nos Estados Unidos, por exemplo, ensinou-me a extrair lições valiosas, mesmo nas derrotas. Essa realidade exige uma constante reavaliação e reinvenção de nós mesmos.

Foi nesse momento que direcionei minha atenção para o campo das fusões e aquisições (ou M&A, na sigla em inglês). Juntei-me então à AmeriGas, uma destacada líder global no mercado de gás propano, com sede na Pensilvânia, participando de aquisições locais e também na França e na China. Ao todo, morei seis anos nos Estados Unidos e, depois disso, decidi fazer um mestrado em Finanças, optando pela Université Paris Dauphine, uma renomada instituição francesa. Lá, estudei entre 2000 e 2001 e, após concluir o programa, tive a oportunidade de trabalhar na Danone, onde me envolvi em projetos de fusões e aquisições. Percebi, enfim, que meu destino estava nas indústrias de alimentos e bebidas. Então, com o objetivo de vivenciar uma experiência internacional abrangente, decidi posteriormente ingressar na Nestlé. Essa jornada duraria quase duas décadas e me permitiu assumir diversos cargos, incluindo o de controlador de negócios na Europa para a divisão de águas, diretor financeiro do negócio de águas e, em seguida, diretor-geral em Portugal, onde ficaria de 2008 a 2010.

Passaria ainda pela Espanha antes de voltar ao meu país, em 2012. Depois de tanto tempo fora, aquele foi um grande momento para mim. Durante quatro anos, dedicamo-nos intensamente à reestruturação do negócio de águas, impulsionando o crescimento, a rentabilidade e aprimorando os processos e as parcerias. Depois de quase quatro anos no Brasil, me foi dada outra responsabilidade, agora na posição de presidente da região do Caribe e, na sequência, fui então chamado para trabalhar na sede mundial da Nestlé, como VP Regional para a América do Norte (EUA, Canadá e México). Como deputy do CEO para a região das Américas, liderei também a função comercial e as agendas de transformação digital, de inovação e renovação em um período de expansão significativa. E tudo isso me trouxe ao lugar em que me encontro agora, como presidente na PepsiCo Brazil Foods.

Resiliência e pensamento de longo de prazo

A opção pela PepsiCo representa um marco positivo da minha trajetória, porque não busquei apenas um cargo, mas quis dar um novo direcionamento para a minha carreira. Vinha trabalhando em alimentos e bebidas, e a PepsiCo tem estas duas divisões desenvolvidas. Trata-se de uma organização fortíssima nos Estados Unidos, com planos de crescimento em âmbito internacional, sendo o Brasil um país que representa este potencial. Além disso, estar com a família neste momento tão importante, quando meu pai passou por um câncer na próstata e sobreviveu, foi importantíssimo.

Destaco que desde a infância, vivenciei etapas significativas. No tênis, jogando nos Estados Unidos, aprendi lições valiosas que ultrapassaram qualquer estudo acadêmico. Embora tenha frequentado prestigiadas instituições, o esporte me ensinou muito. Dessa forma, carreguei tal experiência comigo nas vivências que tive em diversos países, desempenhando atividades laborais em um número superior a 25 nações distintas. Essa experiência ampliou meus horizontes e enriqueceu meu conhecimento global.

Ainda assim, de vez em quando penso no sonho não concretizado de me tornar um tenista profissional. Mas não guardo rancor, pois, analisando em profundidade, para realmente se destacar no tênis, é preciso estar entre os 50 melhores do mundo. Prefiro enfatizar o aprendizado que obtive, pois este supera qualquer tipo de decepção. Essa experiência descontinuada proveniente do tênis resultou em resiliência, justamente porque nas quadras experimentei mais derrotas do que vitórias.

Diante disso, acredito na importância de um pensamento voltado para o longo prazo. Percebo que muitas pessoas estão excessivamente ansiosas, concentradas apenas nos resultados imediatos e tomando decisões visando exclusivamente ao aspecto financeiro. Reconheço a relevância dessas questões, mas considero o equilíbrio, a harmonia e a visão de médio e longo prazos ainda mais essenciais para a construção de uma carreira bem-sucedida. Lá atrás, tracei um caminho e compreendi que, no decorrer desta jornada, enfrentaria dificuldades e derrotas. Contudo, ao longo do percurso, demonstrei resiliência, aprendi com meus erros e segui adiante.

Liderança autêntica e empática

Toda história é escrita por muitas mãos, que nos são estendidas ao longo da caminhada. Não construímos nada sozinhos, daí a importância de valorizar aqueles que têm estado comigo e desempenharam um papel fundamental em minha vida, a começar pela minha mãe, uma mulher genuinamente extraordinária. Sair da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e viver em um apartamento de um quarto e sala no Quartier Asiatique, a maior Chinatown da Europa, não foi fácil. Dividir esse espaço com três pessoas foi um desafio. Não houve glamour, foram cinco anos realmente difíceis. No entanto, minha mãe esteve sempre presente, oferecendo apoio incondicional. Sua perspectiva antropológica e psicológica ajudou a me moldar como homem e cidadão, especialmente na minha maneira de me portar com todas as pessoas de forma igualitária. Sua influência e apoio são inestimáveis, inspirando-me desde sempre a tratar a todos com igualdade e compaixão, e acredito que estes não são valores que devem ser menosprezados pelos líderes.

As lideranças atuais precisam de autenticidade e empatia. Na verdade, devem possuir uma habilidade ambidestra, isto é, ter um lado analítico e numérico, mas também um lado humano e emocional, caloroso e empático. Além disso, a resiliência é essencial, pois enfrentamos constantes desafios. Para nossas equipes, por exemplo, contratamos pessoas que possuem boas notas na universidade ou que já tiveram experiências em outras empresas. No entanto, o que realmente faz a diferença no dia a dia, mais do que as competências técnicas, são as habilidades humanas.

Portanto, acredito que é extremamente importante para um profissional possuir tais características. Lembro que somos uma empresa da linha de frente e queremos proporcionar às nossas pessoas de fábrica, logística e vendas uma oportunidade de crescer. Percebi que meu propósito é ajudar as pessoas a atingirem o seu máximo potencial em uma vida integrada. Pude encontrar esta oportunidade aqui na PepsiCo, que completa 70 anos de história no Brasil.

Isso é motivo de grande orgulho, mas também é uma advertência de que temos uma responsabilidade contínua em fazer a diferença. A sustentabilidade é um pilar fundamental em nossa estratégia e temos três iniciativas importantes: agricultura positiva, cadeia de valor positiva e escolhas positivas. Buscamos ir além e tornar nossa agricultura regenerativa, e acreditamos que a cadeia de valor é crucial nesse processo. Aqui, valorizamos a diversidade em todas as áreas da empresa, desde a linha de frente até as operações, pois acreditamos que se trata de uma fonte de riqueza e inovação.

A vida é uma maratona, não um sprint

“Feito é melhor do que perfeito”. Essa é uma frase da qual gosto muito, pois sou um homem mais de ação e de realizações que de simples palavras. Arriscar, sair da zona de conforto e aprender com os erros sintetizam bem a minha trajetória. Sou uma pessoa pragmática, com uma visão estratégica, mas priorizo a execução. Não adianta esperar pela perfeição, que pode levar anos para ser alcançada, quando temos de tomar decisões no presente. Assumir riscos, errar e corrigir é mais valioso do que esperar pela perfeição, afinal, enquanto hesitamos, alguém pode já ter chegado antes de nós.

Por fim, antes de encerrar estas reflexões, lembro ainda que, ao longo da minha jornada, sempre nutri uma profunda conexão com o ambiente acadêmico, pois me considero um eterno aprendiz. E foi neste ambiente que vivenciei os momentos mais marcantes de minha existência. Assim, reitero a importância de cultivar uma mentalidade positiva, de longo prazo, alimentando um desejo insaciável por conhecimento e abraçando uma visão abrangente, uma vez que, com frequência, impomos limites a nós mesmos.

Tenho comigo que a vida é uma maratona, e não um sprint. Essa lição foi valiosa para mim e a carrego desde minha infância. Cada experiência que tive, seja nas quadras de tênis, nas salas de aula ou nas negociações empresariais, no Brasil e no mundo, me ajudou a tornar a pessoa que sou hoje. Portanto, façam suas melhores escolhas, desde sempre. Isso fará totaldiferença em todos os sentidos no decorrer da caminhada.

Meu caminho tem margens muito pragmáticas e racionais, influenciado por um pai engenheiro, mas um centro pautado por valores humanos fortíssimos, influenciado pela minha mãe, irmã e esposa, todas psicólogas. Nunca pensei que iria morar em sete países e falar quatro idiomas. Mas aprendi que gosto de aprender com pessoas e culturas diferentes. E se tem uma lição que tirei de tudo isso que vivi, é que, no fundo, o mais importante na vida é ser feliz e que vale a pena buscar a felicidade, o equilíbrio e a harmonia entre vida pessoal e profissional. Sinto-me realizado por ter finalmente atingido essa conquista, porque tenho a dádiva de trabalhar em uma empresa incrível e ter formado uma família extraordinária, com minha esposa Gisselle e meus filhos Lucas, Thais e Hugo, além dos meus enteados Esteban e Eliseu. Isso tudo é infinitamente mais do que pedi e está na raiz daquilo que me motiva diariamente e me faz feliz de verdade.

Livros recomendados por Alexandre Carreteiro

Pai rico, pai pobre, de Robert T. Kiyosaki e Sharon L. Lechter. Editora Alta Books, 2018.

O clube das 5 da manhã, de Robin Sharma. Editora BestSeller, 2019.

Equipes brilhantes, de Daniel Coyle.Editora Sextante, 2018

Discover your true north, de Bill George. Editora Wiley, 2015

Acompanhe tudo sobre:Empreendedoresdicas-de-empreendedorismoEmpreendedorismo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se