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As soluções do mercado logístico para enfrentar conflitos globais

A rota do Mar Vermelho é responsável por, pelo menos, 12% do comércio global. De acordo com pesquisa da Clarckson

Mercado de logística: No Brasil, o primeiro impacto para o setor logístico tem sido percebido pelo aumento de operações spot (Getty Images/Getty Images)
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 7 de março de 2024 às 09h33.

*Por André Romano

O mercado logístico – assim como outros setores da economia – é sensível a oscilações causadas por eventos que aconteçam dentro ou fora de nossas fronteiras. Recentemente, os efeitos da pandemia de COVID-19 e da Guerra entre Rússia e Ucrânia se espalharam e impactaram a cadeia de transporte global. O mesmo está acontecendo com o conflito na Faixa de Gaza, que se estende há quase cinco meses.

A rota do Mar Vermelho é responsável por, pelo menos, 12% do comércio global. De acordo com pesquisa da Clarckson – consultora de serviços marítimos – o fluxo de embarcações de transporte caiu 90% somente no Canal de Suez. Segundo a Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento, a rota do Mar Vermelho já registrou queda de 40% do tráfego nos últimos dois meses. Do ponto de vista prático, isso significa que a área está inacessível. Por isso, o setor logístico tem buscado alternativas para evitar o trajeto.

No Brasil, o primeiro impacto para o setor logístico tem sido percebido pelo aumento de operações spot. Isto é: as empresas têm optado por aumentar o estoque de seus produtos, sejam esses finalizados ou ainda no formato de insumo, de forma temporária. Assim, criam uma margem maior e ampliam a capacidade de ficar sem abastecimento durante um período superior ao inicialmente esperado.

Esse movimento tende a aumentar a demanda de espaços logísticos. Para acomodar essa necessidade, operadores enxergam duas saídas: a ampliação do uso dos centros de distribuições atuais ou ocupar os chamados shadow space, espaços não utilizados dos armazéns já locados para outras companhias.

E como ficam as indústrias? Quanto maiores forem, mais cautela e complexidade estão envolvidas em suas movimentações. O cenário costuma ser avaliado como provisório, fora da curva, uma vez que as oscilações globais tendem a ir e vir. É difícil, sobretudo para as grandes indústrias, se movimentarem nesse sentido, já que o tempo de uma locação tradicional é, em regra, de no mínimo três anos e com penalidade para rescisão antecipada. Esse período pode ser maior que o estimado para a normalização da situação internacional, e o operador logístico acaba sendo a saída ao fornecer contratos com prazos menores.

Algo similar foi visto durante a pandemia de COVID-19. Na época, o preço do frete marítimo chegou a US$ 11.000. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os valores em 2022 aumentaram 470%. Dentre outros fatores, isso movimentou o mercado de imóveis logísticos, em especial para as indústrias que procuravam os operadores para criação de buffers, com o objetivo de dar conta da demanda crescente e mitigar o risco de escassez. Por ser um cenário pandêmico, o entendimento era de que se tratava de uma situação provisória. Assim, poucas empresas tomaram o risco de assumir contratos de locação mais longos ou de investir em um novo imóvel. A saída mais buscada foi a dos contratos flexíveis oferecidos pelos operadores logísticos.

GLOBAL CONTAINER FREIGHT INDEX – fonte Freightos

É claro que a pandemia e a crise do Mar Vermelho não são a mesma coisa. Mas estamos falando de cenários pontuais e sensíveis que, de certa forma, exigem que as grandes indústrias olhem para a dependência do Oriente quando o assunto é abastecimento de mercados ocidentais. Esse quadro gera uma crise no supply chain mundial e faz com que alguns países recebam mais atenção das grandes empresas.

A exemplo, temos o Brasil e o México, duas nações que passaram por processos de desindustrialização nos últimos anos. O primeiro, conta com abundância de recursos e de mão de obra, e o segundo, está próximo dos Estados Unidos – maior mercado consumidor do mundo. Estrategicamente, ambos são os principais targets das grandes indústrias para a criação de buffers de produção e distribuição para, assim, limitar um pouco a dependência dos países orientais.

Nesse sentido, o que momentos de desequilíbrio nos ensinam é que: sim, devemos ter cautela e – ainda bem – conflitos são passageiros. Mas, no mundo ágil e interconectado que vivemos, as empresas não podem esperar o tempo passar para as coisas se acomodarem. É preciso agilidade, estratégia e inovação para criar soluções que atendam a demandas momentâneas, porém que tenham potencial para garantir a sustentabilidade de seus negócios enquanto os mares permanecem agitados.

* André Romano é gerente de Industrial, Logística e Data Center da JLL no Brasil.

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*Por André Romano

O mercado logístico – assim como outros setores da economia – é sensível a oscilações causadas por eventos que aconteçam dentro ou fora de nossas fronteiras. Recentemente, os efeitos da pandemia de COVID-19 e da Guerra entre Rússia e Ucrânia se espalharam e impactaram a cadeia de transporte global. O mesmo está acontecendo com o conflito na Faixa de Gaza, que se estende há quase cinco meses.

A rota do Mar Vermelho é responsável por, pelo menos, 12% do comércio global. De acordo com pesquisa da Clarckson – consultora de serviços marítimos – o fluxo de embarcações de transporte caiu 90% somente no Canal de Suez. Segundo a Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento, a rota do Mar Vermelho já registrou queda de 40% do tráfego nos últimos dois meses. Do ponto de vista prático, isso significa que a área está inacessível. Por isso, o setor logístico tem buscado alternativas para evitar o trajeto.

No Brasil, o primeiro impacto para o setor logístico tem sido percebido pelo aumento de operações spot. Isto é: as empresas têm optado por aumentar o estoque de seus produtos, sejam esses finalizados ou ainda no formato de insumo, de forma temporária. Assim, criam uma margem maior e ampliam a capacidade de ficar sem abastecimento durante um período superior ao inicialmente esperado.

Esse movimento tende a aumentar a demanda de espaços logísticos. Para acomodar essa necessidade, operadores enxergam duas saídas: a ampliação do uso dos centros de distribuições atuais ou ocupar os chamados shadow space, espaços não utilizados dos armazéns já locados para outras companhias.

E como ficam as indústrias? Quanto maiores forem, mais cautela e complexidade estão envolvidas em suas movimentações. O cenário costuma ser avaliado como provisório, fora da curva, uma vez que as oscilações globais tendem a ir e vir. É difícil, sobretudo para as grandes indústrias, se movimentarem nesse sentido, já que o tempo de uma locação tradicional é, em regra, de no mínimo três anos e com penalidade para rescisão antecipada. Esse período pode ser maior que o estimado para a normalização da situação internacional, e o operador logístico acaba sendo a saída ao fornecer contratos com prazos menores.

Algo similar foi visto durante a pandemia de COVID-19. Na época, o preço do frete marítimo chegou a US$ 11.000. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os valores em 2022 aumentaram 470%. Dentre outros fatores, isso movimentou o mercado de imóveis logísticos, em especial para as indústrias que procuravam os operadores para criação de buffers, com o objetivo de dar conta da demanda crescente e mitigar o risco de escassez. Por ser um cenário pandêmico, o entendimento era de que se tratava de uma situação provisória. Assim, poucas empresas tomaram o risco de assumir contratos de locação mais longos ou de investir em um novo imóvel. A saída mais buscada foi a dos contratos flexíveis oferecidos pelos operadores logísticos.

GLOBAL CONTAINER FREIGHT INDEX – fonte Freightos

É claro que a pandemia e a crise do Mar Vermelho não são a mesma coisa. Mas estamos falando de cenários pontuais e sensíveis que, de certa forma, exigem que as grandes indústrias olhem para a dependência do Oriente quando o assunto é abastecimento de mercados ocidentais. Esse quadro gera uma crise no supply chain mundial e faz com que alguns países recebam mais atenção das grandes empresas.

A exemplo, temos o Brasil e o México, duas nações que passaram por processos de desindustrialização nos últimos anos. O primeiro, conta com abundância de recursos e de mão de obra, e o segundo, está próximo dos Estados Unidos – maior mercado consumidor do mundo. Estrategicamente, ambos são os principais targets das grandes indústrias para a criação de buffers de produção e distribuição para, assim, limitar um pouco a dependência dos países orientais.

Nesse sentido, o que momentos de desequilíbrio nos ensinam é que: sim, devemos ter cautela e – ainda bem – conflitos são passageiros. Mas, no mundo ágil e interconectado que vivemos, as empresas não podem esperar o tempo passar para as coisas se acomodarem. É preciso agilidade, estratégia e inovação para criar soluções que atendam a demandas momentâneas, porém que tenham potencial para garantir a sustentabilidade de seus negócios enquanto os mares permanecem agitados.

* André Romano é gerente de Industrial, Logística e Data Center da JLL no Brasil.

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