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A política externa do próximo governo

Há três variáveis permanentes que orientarão a politica externa do próximo governo, independentemente de suas preferências ideológicas

JR

Janaína Ribeiro

Publicado em 20 de setembro de 2018 às 16h07.

Quando estive pela primeira vez em Brasília, em 2009, ouvi e aprendi muitas histórias sobre as diferentes simbologias arquitetônicas (e políticas) pensadas à época da construção da capital e que ainda sobrevivem por detrás das linhas desenhadas por Oscar Niemeyer. Dessas narrativas, a que mais havia me chamado atenção tratava das diferenças entre o Palácio do Itamaraty (onde está o Ministério das Relações Exteriores) e o Palácio da Justiça (onde funciona o hoje chamado Ministério da Justiça e Segurança Publica) – coincidentemente, os dois dos únicos prédios ministeriais a se destacarem entre os gigantes blocos horizontais de concreto da Esplanada.

Segundo a tradição oral transmitida pelos fundadores de Brasília, o Palácio da Justiça havia sido projetado para transparecer em sua fachada um grande salão com espelhos metálicos a reverberar no seu interior a luz externa, comunicando à população que enxerga de fora para dentro a ideia de transparência.

Por outro lado, no diâmetro oposto do Eixo Monumental, o Palácio do Itamaraty foi desenhado e construído para que, durante a noite – resguardado por seus arcos –, transmitisse de dentro para fora suas luzes, iluminando a principal missão da chancelaria brasileira: levar o brilho do Brasil para o exterior.

Quase dez anos depois de eu ter conhecido essa história, o Brasil debate-se entre sombras para tentar buscar uma saída de uma das crises políticas e econômicas mais graves do período republicano. Neste contexto, fica clara a importância de refletirmos sobre o papel do Itamaraty e da diplomacia na reconstrução pós-crise do Brasil.

Ainda que marginalmente, todos os candidatos à Presidência já esboçaram em seus planos de governo como pretendem conduzir a politica externa brasileira a partir do dia 1º de janeiro de 2019, caso eleitos.

Os programas variam no espectro ideológico entre visões mais conservadoras e protecionistas – inclusive com a tropicalização do neopopulismo trumpista – até propostas mais liberais e globalistas: um verdadeiro espelho das diferentes visões sobre mundo existentes em nossa sociedade fragmentada.

Independente das inclinações ideológicas da candidata ou candidato eleito, a política externa brasileira do próximo governo será pautada por condicionantes de natureza doméstica e externa, que já estão colocadas sobre a mesa. As principais são as seguintes:

1. A Constituição: é ela que guia o trabalho dos diplomatas brasileiros, antes mesmo das ordens do Ministro de Estado e do Presidente da República. A Constituição da República estabelece que os seguintes princípios devam reger a política internacional: a defesa dos direitos humanos, a garantia da soberania nacional, e a promoção, a cooperação e a autodeterminação dos povos. O próximo governo deverá continuar a atuar de forma multilateral e como parceiro da comunidade internacional para a resolução de conflitos e crises humanitárias.

2. O Brasil pós- Lava Jato : a reconstrução da credibilidade do Brasil no exterior será prioridade da política internacional do próximo governo, pois sem isso o país não será capaz de reconquistar a confiança de investidores e agentes externos. Os graves escândalos de corrupção dos últimos anos comprometeram a capacidade do país e suas empresas em realizar negócios, especialmente entre os demais países da América Latina. Essa tarefa deve ser resultado de um amplo esforço entre sociedade civil, setor privado e governo.

3. O Brasil pós-protecionista: o fechamento da economia brasileira potencializou os efeitos da recessão econômica nos últimos anos. A abertura econômica é inevitável para que o Brasil se insira de forma inteligente nas cadeias globais de valor e volte a crescer.

A política externa do próximo governo terá papel fundamental para a reconstrução do Brasil pós-crise, tanto no sentido de fora para dentro – buscando novos mercados e oportunidades que tragam crescimento econômico –, quanto de dentro para fora, reposicionando um novo Brasil em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.

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Quando estive pela primeira vez em Brasília, em 2009, ouvi e aprendi muitas histórias sobre as diferentes simbologias arquitetônicas (e políticas) pensadas à época da construção da capital e que ainda sobrevivem por detrás das linhas desenhadas por Oscar Niemeyer. Dessas narrativas, a que mais havia me chamado atenção tratava das diferenças entre o Palácio do Itamaraty (onde está o Ministério das Relações Exteriores) e o Palácio da Justiça (onde funciona o hoje chamado Ministério da Justiça e Segurança Publica) – coincidentemente, os dois dos únicos prédios ministeriais a se destacarem entre os gigantes blocos horizontais de concreto da Esplanada.

Segundo a tradição oral transmitida pelos fundadores de Brasília, o Palácio da Justiça havia sido projetado para transparecer em sua fachada um grande salão com espelhos metálicos a reverberar no seu interior a luz externa, comunicando à população que enxerga de fora para dentro a ideia de transparência.

Por outro lado, no diâmetro oposto do Eixo Monumental, o Palácio do Itamaraty foi desenhado e construído para que, durante a noite – resguardado por seus arcos –, transmitisse de dentro para fora suas luzes, iluminando a principal missão da chancelaria brasileira: levar o brilho do Brasil para o exterior.

Quase dez anos depois de eu ter conhecido essa história, o Brasil debate-se entre sombras para tentar buscar uma saída de uma das crises políticas e econômicas mais graves do período republicano. Neste contexto, fica clara a importância de refletirmos sobre o papel do Itamaraty e da diplomacia na reconstrução pós-crise do Brasil.

Ainda que marginalmente, todos os candidatos à Presidência já esboçaram em seus planos de governo como pretendem conduzir a politica externa brasileira a partir do dia 1º de janeiro de 2019, caso eleitos.

Os programas variam no espectro ideológico entre visões mais conservadoras e protecionistas – inclusive com a tropicalização do neopopulismo trumpista – até propostas mais liberais e globalistas: um verdadeiro espelho das diferentes visões sobre mundo existentes em nossa sociedade fragmentada.

Independente das inclinações ideológicas da candidata ou candidato eleito, a política externa brasileira do próximo governo será pautada por condicionantes de natureza doméstica e externa, que já estão colocadas sobre a mesa. As principais são as seguintes:

1. A Constituição: é ela que guia o trabalho dos diplomatas brasileiros, antes mesmo das ordens do Ministro de Estado e do Presidente da República. A Constituição da República estabelece que os seguintes princípios devam reger a política internacional: a defesa dos direitos humanos, a garantia da soberania nacional, e a promoção, a cooperação e a autodeterminação dos povos. O próximo governo deverá continuar a atuar de forma multilateral e como parceiro da comunidade internacional para a resolução de conflitos e crises humanitárias.

2. O Brasil pós- Lava Jato : a reconstrução da credibilidade do Brasil no exterior será prioridade da política internacional do próximo governo, pois sem isso o país não será capaz de reconquistar a confiança de investidores e agentes externos. Os graves escândalos de corrupção dos últimos anos comprometeram a capacidade do país e suas empresas em realizar negócios, especialmente entre os demais países da América Latina. Essa tarefa deve ser resultado de um amplo esforço entre sociedade civil, setor privado e governo.

3. O Brasil pós-protecionista: o fechamento da economia brasileira potencializou os efeitos da recessão econômica nos últimos anos. A abertura econômica é inevitável para que o Brasil se insira de forma inteligente nas cadeias globais de valor e volte a crescer.

A política externa do próximo governo terá papel fundamental para a reconstrução do Brasil pós-crise, tanto no sentido de fora para dentro – buscando novos mercados e oportunidades que tragam crescimento econômico –, quanto de dentro para fora, reposicionando um novo Brasil em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.

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