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Futebol sem torcida: a solução precisa funcionar durante e pós-pandemia

Como lidar com o buraco emocional, presencial e financeiro dos jogos sem torcida?

(FC Seoul/Reuters)
VL

Vinicius Lordello

Publicado em 25 de julho de 2020 às 12h14.

Última atualização em 25 de julho de 2020 às 14h00.

* Por Adriano Ávila

Entre os principais motivos que levam um investidor ou uma marca a investirem em pessoas, ideias, projetos ou produtos estão segurança jurídica, capacidade do empreendedor realizar o que deve ser feito e não necessariamente o que foi apresentado e escala. Essa última é o que está faltando aos projetos executados atualmente, no Brasil e no mundo, no retorno do futebol sem torcida, isto é, sem torcedores presentes nos estádios. “Muito confete para pouca serpentina”, expressão tipicamente brasileira que sintetiza bem o cenário atual.

As soluções executadas até o momento possuem um tempo de vida limitado e não sobrevivem à presença física nas arquibancadas, sequer foram pensadas para uma interação entre os dois mundos: real e digital. Alguns exemplos:

1) Torcida de papel não é torcida, é cenário

-(Divulgação/Divulgação)

Iniciativa popular no Brasil junto aos seus sócios-torcedores. Você consegue imaginar um jogador marcando um gol e correndo para essa torcida de papel?

2) Bonecas infláveis nas arquibancadas. Mil desculpas…

-(FC Seoul/Reuters)

Coreia do Sul. Sem dúvida a mais constrangedora das opções apresentadas. Sintetiza todo o machismo da sociedade, presente até hoje em pleno 2020. O FC Seoul precisou pedir desculpas à torcida. Muitas desculpas, aliás.

3) “Arquibancasa”: na trave!

-(Aarhus/Divulgação)

Dinamarca. Ótimo conceito do Aarhus, mas faltou o braço comercial: geração de receita e possibilidade de escala (limite de 25 telas/torcedores por painel/transmissão), limitados pelo serviço de videoconferência utilizado.

4) Som das torcidas

-(Dortmund/Divulgação)

Alemanha. Proposta elegante, como os alemães, entretanto, o áudio nos estádios de futebol na Bundesliga entrega um espetáculo melancólico visualmente, se expandirmos o olhar para a tela inteira e não somente focarmos a bola.

5) Torcida Virtual

-(Internet/Internet)

Espanha. Como o próprio nome diz, não está lá. Essa última, implementada na La Liga, teve grandes críticas por parte dos torcedores e sites esportivos, pois o resultado, visível apenas por algumas tomadas de câmeras, ficou igual a “confetes prensados”.

Todos os projetos listados aqui são insuficientes, mesmo possuindo grande empenho e qualificação dos envolvidos: gestores, clubes, empresas de TI etc. A questão é que o real problema ainda não foi percebido: todas as alternativas visam a transmissão da partida e não o que vai ser transmitido.

O problema a ser resolvido é trazer de volta a alma do jogo que o vírus tirou, de uma forma real e rentável, que gere valor e receita para o mercado do futebol, e mais, para que ele se torne, efetivamente, um ecossistema. Torcida virtual, transformada em cenário, confete ou som ambiente são apenas maquiagem. Os jogadores continuam jogando em estádios vazios e os jogos permanecem sem gerar receitas diretas para os seus clubes (mandantes).

O torcedor é a razão de tudo, mas internalizar essa máxima é uma armadilha. O foco precisa ser o artista e a comercialização deve priorizar sempre o espetáculo. Quanto mais o jogador se doar em campo, mais a partida será emocionante, consequentemente, mais audiência, mas motivação para compra dos ingressos, do campeonato, não somente do jogo. Para isso os gestores dos clubes, players e anunciantes precisam pensar o produto em conjunto, dessa forma será entregue algo irrecusável ao torcedor e o lucro para os envolvidos será muito maior.

A gestão de marca inteligente de um clube de futebol, campeonato, produto ou evento, acontece quando geramos valor entre torcedor e patrocinador. É o que proponho com a Metodologia dos 3Ts: Tradição, Torcida e Troféus. A sociedade evolui como um todo, o que não significa que todos os seus setores adquirem a mesma velocidade nesse processo. Importante observar que tudo mudou e as transmissões convencionais via câmeras de TV, por exemplo, não podem permanecer as mesmas, precisam registrar a partir de agora o que irá acontecer tanto nas arquibancadas (quando a torcida presencial retornar) como o que será transmitido via streaming.

Estamos em um novo momento das relações humanas e da sociedade em geral, onde entender o papel da tecnologia será fundamental para o sucesso de um empreendimento, negócio ou lançamento de um novo produto. São novas formas dos patrocinadores se relacionarem com o mercado contemporâneo, entendendo seu comportamento, hábitos e desejos, de consumo e pertencimento.

O principal objetivo da tecnologia no século XXI será humanizar o ser humano, ser um canal de relacionamento e benefícios, não uma substituição. Fazendo uma provocação, a inteligência empregada não pode ser “artificial”. A Solução precisa fazer sentido para os torcedores, emocionar os jogadores em campo, como a torcida presente nas arquibancadas, gerar receita e interagir os dois mundos, real e virtual. Só dessa forma a vida útil do produto será durante e pós-pandemia.

* Adriano Ávila é fundador do Portal FutBox e desenvolveu a Metodologia dos 3TS: Tradição, Torcida e Troféus, que trabalha a identidade visual dos clubes de futebol. Recentemente (jul/2020) divulgou a Solução Futbox Fans

* Por Adriano Ávila

Entre os principais motivos que levam um investidor ou uma marca a investirem em pessoas, ideias, projetos ou produtos estão segurança jurídica, capacidade do empreendedor realizar o que deve ser feito e não necessariamente o que foi apresentado e escala. Essa última é o que está faltando aos projetos executados atualmente, no Brasil e no mundo, no retorno do futebol sem torcida, isto é, sem torcedores presentes nos estádios. “Muito confete para pouca serpentina”, expressão tipicamente brasileira que sintetiza bem o cenário atual.

As soluções executadas até o momento possuem um tempo de vida limitado e não sobrevivem à presença física nas arquibancadas, sequer foram pensadas para uma interação entre os dois mundos: real e digital. Alguns exemplos:

1) Torcida de papel não é torcida, é cenário

-(Divulgação/Divulgação)

Iniciativa popular no Brasil junto aos seus sócios-torcedores. Você consegue imaginar um jogador marcando um gol e correndo para essa torcida de papel?

2) Bonecas infláveis nas arquibancadas. Mil desculpas…

-(FC Seoul/Reuters)

Coreia do Sul. Sem dúvida a mais constrangedora das opções apresentadas. Sintetiza todo o machismo da sociedade, presente até hoje em pleno 2020. O FC Seoul precisou pedir desculpas à torcida. Muitas desculpas, aliás.

3) “Arquibancasa”: na trave!

-(Aarhus/Divulgação)

Dinamarca. Ótimo conceito do Aarhus, mas faltou o braço comercial: geração de receita e possibilidade de escala (limite de 25 telas/torcedores por painel/transmissão), limitados pelo serviço de videoconferência utilizado.

4) Som das torcidas

-(Dortmund/Divulgação)

Alemanha. Proposta elegante, como os alemães, entretanto, o áudio nos estádios de futebol na Bundesliga entrega um espetáculo melancólico visualmente, se expandirmos o olhar para a tela inteira e não somente focarmos a bola.

5) Torcida Virtual

-(Internet/Internet)

Espanha. Como o próprio nome diz, não está lá. Essa última, implementada na La Liga, teve grandes críticas por parte dos torcedores e sites esportivos, pois o resultado, visível apenas por algumas tomadas de câmeras, ficou igual a “confetes prensados”.

Todos os projetos listados aqui são insuficientes, mesmo possuindo grande empenho e qualificação dos envolvidos: gestores, clubes, empresas de TI etc. A questão é que o real problema ainda não foi percebido: todas as alternativas visam a transmissão da partida e não o que vai ser transmitido.

O problema a ser resolvido é trazer de volta a alma do jogo que o vírus tirou, de uma forma real e rentável, que gere valor e receita para o mercado do futebol, e mais, para que ele se torne, efetivamente, um ecossistema. Torcida virtual, transformada em cenário, confete ou som ambiente são apenas maquiagem. Os jogadores continuam jogando em estádios vazios e os jogos permanecem sem gerar receitas diretas para os seus clubes (mandantes).

O torcedor é a razão de tudo, mas internalizar essa máxima é uma armadilha. O foco precisa ser o artista e a comercialização deve priorizar sempre o espetáculo. Quanto mais o jogador se doar em campo, mais a partida será emocionante, consequentemente, mais audiência, mas motivação para compra dos ingressos, do campeonato, não somente do jogo. Para isso os gestores dos clubes, players e anunciantes precisam pensar o produto em conjunto, dessa forma será entregue algo irrecusável ao torcedor e o lucro para os envolvidos será muito maior.

A gestão de marca inteligente de um clube de futebol, campeonato, produto ou evento, acontece quando geramos valor entre torcedor e patrocinador. É o que proponho com a Metodologia dos 3Ts: Tradição, Torcida e Troféus. A sociedade evolui como um todo, o que não significa que todos os seus setores adquirem a mesma velocidade nesse processo. Importante observar que tudo mudou e as transmissões convencionais via câmeras de TV, por exemplo, não podem permanecer as mesmas, precisam registrar a partir de agora o que irá acontecer tanto nas arquibancadas (quando a torcida presencial retornar) como o que será transmitido via streaming.

Estamos em um novo momento das relações humanas e da sociedade em geral, onde entender o papel da tecnologia será fundamental para o sucesso de um empreendimento, negócio ou lançamento de um novo produto. São novas formas dos patrocinadores se relacionarem com o mercado contemporâneo, entendendo seu comportamento, hábitos e desejos, de consumo e pertencimento.

O principal objetivo da tecnologia no século XXI será humanizar o ser humano, ser um canal de relacionamento e benefícios, não uma substituição. Fazendo uma provocação, a inteligência empregada não pode ser “artificial”. A Solução precisa fazer sentido para os torcedores, emocionar os jogadores em campo, como a torcida presente nas arquibancadas, gerar receita e interagir os dois mundos, real e virtual. Só dessa forma a vida útil do produto será durante e pós-pandemia.

* Adriano Ávila é fundador do Portal FutBox e desenvolveu a Metodologia dos 3TS: Tradição, Torcida e Troféus, que trabalha a identidade visual dos clubes de futebol. Recentemente (jul/2020) divulgou a Solução Futbox Fans

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