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Nós realmente precisamos do escritório?

Depois de mais de um ano e meio de trabalho remoto em função da pandemia, precisamos falar sobre trabalho híbrido

Escritório do Nubank antes da pandemia: "Com o tempo encontraremos um novo formato que chegue o mais perto possível do ideal", diz Cristina Junqueira, cofundadora do banco digital (Germano Luders/Exame)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de outubro de 2021 às 13h16.

Nos últimos dois anos, enfrentamos mudanças significativas na forma como trabalhamos. Com a chegada da pandemia, em março de 2020, o home office passou a ser o formato de trabalho para muitas pessoas. Vimos um cenário de incertezas, não só em relação à saúde da população, como também se as empresas conseguiriam se adaptar a esse novo formato de trabalho remoto.

Na coluna desta semana, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, aborda os principais desafios do mundo corporativo com as transições de trabalho presencial para home office e, agora, de volta ao escritório físico novamente. Ou será que não?

O primeiro grande desafio

Com exceção do grupo de trabalhadores essenciais, a maior parte da força de trabalho brasileira precisou se adaptar ao home office desde março do ano passado. Como tudo que é novidade, a transição causou muita insegurança em várias lideranças. Afinal, como saber se os funcionários continuariam focados e comprometidos, mesmo longe do escritório?

Outra grande preocupação foi com a cultura das empresas. Sem o contato do dia a dia, como manteríamos uma cultura viva? Como criar vínculos entre equipes que não se conhecem pessoalmente, como passar em frente os valores e princípios da empresa quando estamos nos vendo somente através de uma tela? Por isso, o fortalecimento constante da cultura e o incentivo da interação entre equipes foi e continua sendo essencial em momentos de trabalho remoto.

Felizmente, no Nubank, nós estávamos relativamente preparados. Já tínhamos uma cultura que incentivava a flexibilidade, então muitos Nubankers trabalhavam fora do escritório em alguns dias. Todos os funcionários já utilizavam laptops, ao invés de desktops, e as ferramentas de videoconferência também não eram novidade para nós.

Por isso, em 24 horas, todos os Nubankers já estavam alocados de casa, com toda a infraestrutura e segurança necessária. Claro que só foi possível porque temos uma estrutura muito tecnológica, mas também porque os times foram muito ágeis em aceitar o desafio, valor que faz parte da nossa cultura desde o começo.

Neste momento, contudo, estamos enfrentando mais uma grande transição: a volta aos escritórios. A vacinação ao redor do mundo vem progredindo e as empresas estão começando a considerar voltar ao trabalho presencial. Qual será a forma que vamos voltar? E será que realmente precisamos retornar aos escritórios?

A próxima fase

De acordo com um estudo realizado pela Prudential, um horário de trabalho flexível é o principal aspecto para 48% dos trabalhadores continuarem em suas respectivas empresas. Além disso, 41% dos entrevistados responderam que um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é o principal motivo das trocas de emprego. Esses dados mostram claramente que flexibilidade e equilíbrio são os pré-requisitos do mercado daqui para frente.

Realmente, é difícil abrir mão dessa flexibilidade que o trabalho remoto trouxe. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral no começo do ano, em que 58% das pessoas afirmaram serem mais produtivas em casa. O trabalho remoto poupa tempo de deslocamento até o escritório e permite que as pessoas morem onde quiserem e, inclusive, possam ser contratadas de qualquer lugar.

Mas ele também deixou mais difícil compreender os limites entre trabalho e casa, facilitando aquela espiadinha no e-mail a qualquer hora do dia ou da noite, podendo comprometer o tempo dedicado à família, amigos, lazer e descanso. Nessa mesma pesquisa da FDC, 24% das pessoas afirmaram que estão trabalhando mais e 20% citou a falta de convívio social como um receio de estar sempre em casa.

Em alguns grupos esse impacto é ainda maior. De acordo com a Deloitte, 80% das mulheres tiveram um aumento na carga de trabalho por causa da pandemia e 66% disseram que tinham mais trabalho doméstico, o que está fazendo com que muitas delas inclusive deixem o mercado de trabalho.

Além disso, o aumento da carga de trabalho e da desconexão com colegas pode ter consequências negativas na saúde mental dos funcionários. Uma pesquisa do Flexjobs mostrou que 40% dos trabalhadores sofreram burnout durante a pandemia.

E agora? O que fazer?

Pensando em um cenário ideal do pós-pandemia, empresas e funcionários se beneficiariam do melhor dos dois modelos. Apesar de toda a flexibilidade do trabalho remoto, falta algo essencial para alcançar bons resultados: o contato humano. Especialistas afirmam que a falta de contato físico causa mais estresse e que a sensação de proximidade com os outros estimula uma reação de relaxamento.

De acordo com um estudo do Instituto IPSOS sobre as percepções do impacto do coronavírus, o Brasil é o país onde as pessoas mais se sentem solitárias, com 50% da população com esse sentimento. Além de aproximar os colegas de trabalho, estar no escritório provoca uma imersão mais rápida e fácil na cultura da empresa e facilita a troca de ideias e experiências.

Por outro lado, o trabalho 100% presencial limita o acesso a talentos globais e pode restringir inclusive o aumento do quadro de funcionários da empresa, já que há uma dependência do espaço físico para acomodar todas essas pessoas. Há também a falta de flexibilidade em horários e o tempo gasto com deslocamento diário.

A verdade disso tudo é que chegamos a um ponto em que voltar ou não ao escritório não precisa ser uma decisão. O mundo corporativo está criando uma terceira opção, uma mescla entre os dois modelos que experimentamos.

Trabalho híbrido

O trabalho híbrido parece ser a grande aposta da maioria das empresas ao redor do mundo. Independentemente do setor, temos vários exemplos de grandes companhias incorporando-o à própria realidade.

A DropBox, por exemplo, estabeleceu o presencial apenas em caso de reuniões, eventos e treinamentos. Já o LinkedIn deu autonomia para os times decidirem o que preferem, tendo o trabalho presencial como opcional.

Também temos empresas adotando um sistema rotativo, com times indo em dias diferentes. Além disso, muitos deixam de lado, agora, as mesas fixas, facilitando a troca entre diferentes times. A volta ao presencial, mesmo que de forma diferente da que conhecíamos, vem para aproximar ainda mais os colegas de trabalho, que muitas vezes se conhecem apenas pela tela do computador.

No Nubank, estamos estudando o formato de trabalho que mais se conecta à nossa cultura para implementá-la nos próximos meses. Teremos uma curva de aprendizado até entendermos qual o método mais funcional e efetivo para o período pós-pandemia. Mas, assim como o mercado de trabalho evoluiu em tecnologia e processos no último ano, com o tempo encontraremos um novo formato que chegue o mais perto possível do ideal.

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Nos últimos dois anos, enfrentamos mudanças significativas na forma como trabalhamos. Com a chegada da pandemia, em março de 2020, o home office passou a ser o formato de trabalho para muitas pessoas. Vimos um cenário de incertezas, não só em relação à saúde da população, como também se as empresas conseguiriam se adaptar a esse novo formato de trabalho remoto.

Na coluna desta semana, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, aborda os principais desafios do mundo corporativo com as transições de trabalho presencial para home office e, agora, de volta ao escritório físico novamente. Ou será que não?

O primeiro grande desafio

Com exceção do grupo de trabalhadores essenciais, a maior parte da força de trabalho brasileira precisou se adaptar ao home office desde março do ano passado. Como tudo que é novidade, a transição causou muita insegurança em várias lideranças. Afinal, como saber se os funcionários continuariam focados e comprometidos, mesmo longe do escritório?

Outra grande preocupação foi com a cultura das empresas. Sem o contato do dia a dia, como manteríamos uma cultura viva? Como criar vínculos entre equipes que não se conhecem pessoalmente, como passar em frente os valores e princípios da empresa quando estamos nos vendo somente através de uma tela? Por isso, o fortalecimento constante da cultura e o incentivo da interação entre equipes foi e continua sendo essencial em momentos de trabalho remoto.

Felizmente, no Nubank, nós estávamos relativamente preparados. Já tínhamos uma cultura que incentivava a flexibilidade, então muitos Nubankers trabalhavam fora do escritório em alguns dias. Todos os funcionários já utilizavam laptops, ao invés de desktops, e as ferramentas de videoconferência também não eram novidade para nós.

Por isso, em 24 horas, todos os Nubankers já estavam alocados de casa, com toda a infraestrutura e segurança necessária. Claro que só foi possível porque temos uma estrutura muito tecnológica, mas também porque os times foram muito ágeis em aceitar o desafio, valor que faz parte da nossa cultura desde o começo.

Neste momento, contudo, estamos enfrentando mais uma grande transição: a volta aos escritórios. A vacinação ao redor do mundo vem progredindo e as empresas estão começando a considerar voltar ao trabalho presencial. Qual será a forma que vamos voltar? E será que realmente precisamos retornar aos escritórios?

A próxima fase

De acordo com um estudo realizado pela Prudential, um horário de trabalho flexível é o principal aspecto para 48% dos trabalhadores continuarem em suas respectivas empresas. Além disso, 41% dos entrevistados responderam que um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é o principal motivo das trocas de emprego. Esses dados mostram claramente que flexibilidade e equilíbrio são os pré-requisitos do mercado daqui para frente.

Realmente, é difícil abrir mão dessa flexibilidade que o trabalho remoto trouxe. É o que mostra uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral no começo do ano, em que 58% das pessoas afirmaram serem mais produtivas em casa. O trabalho remoto poupa tempo de deslocamento até o escritório e permite que as pessoas morem onde quiserem e, inclusive, possam ser contratadas de qualquer lugar.

Mas ele também deixou mais difícil compreender os limites entre trabalho e casa, facilitando aquela espiadinha no e-mail a qualquer hora do dia ou da noite, podendo comprometer o tempo dedicado à família, amigos, lazer e descanso. Nessa mesma pesquisa da FDC, 24% das pessoas afirmaram que estão trabalhando mais e 20% citou a falta de convívio social como um receio de estar sempre em casa.

Em alguns grupos esse impacto é ainda maior. De acordo com a Deloitte, 80% das mulheres tiveram um aumento na carga de trabalho por causa da pandemia e 66% disseram que tinham mais trabalho doméstico, o que está fazendo com que muitas delas inclusive deixem o mercado de trabalho.

Além disso, o aumento da carga de trabalho e da desconexão com colegas pode ter consequências negativas na saúde mental dos funcionários. Uma pesquisa do Flexjobs mostrou que 40% dos trabalhadores sofreram burnout durante a pandemia.

E agora? O que fazer?

Pensando em um cenário ideal do pós-pandemia, empresas e funcionários se beneficiariam do melhor dos dois modelos. Apesar de toda a flexibilidade do trabalho remoto, falta algo essencial para alcançar bons resultados: o contato humano. Especialistas afirmam que a falta de contato físico causa mais estresse e que a sensação de proximidade com os outros estimula uma reação de relaxamento.

De acordo com um estudo do Instituto IPSOS sobre as percepções do impacto do coronavírus, o Brasil é o país onde as pessoas mais se sentem solitárias, com 50% da população com esse sentimento. Além de aproximar os colegas de trabalho, estar no escritório provoca uma imersão mais rápida e fácil na cultura da empresa e facilita a troca de ideias e experiências.

Por outro lado, o trabalho 100% presencial limita o acesso a talentos globais e pode restringir inclusive o aumento do quadro de funcionários da empresa, já que há uma dependência do espaço físico para acomodar todas essas pessoas. Há também a falta de flexibilidade em horários e o tempo gasto com deslocamento diário.

A verdade disso tudo é que chegamos a um ponto em que voltar ou não ao escritório não precisa ser uma decisão. O mundo corporativo está criando uma terceira opção, uma mescla entre os dois modelos que experimentamos.

Trabalho híbrido

O trabalho híbrido parece ser a grande aposta da maioria das empresas ao redor do mundo. Independentemente do setor, temos vários exemplos de grandes companhias incorporando-o à própria realidade.

A DropBox, por exemplo, estabeleceu o presencial apenas em caso de reuniões, eventos e treinamentos. Já o LinkedIn deu autonomia para os times decidirem o que preferem, tendo o trabalho presencial como opcional.

Também temos empresas adotando um sistema rotativo, com times indo em dias diferentes. Além disso, muitos deixam de lado, agora, as mesas fixas, facilitando a troca entre diferentes times. A volta ao presencial, mesmo que de forma diferente da que conhecíamos, vem para aproximar ainda mais os colegas de trabalho, que muitas vezes se conhecem apenas pela tela do computador.

No Nubank, estamos estudando o formato de trabalho que mais se conecta à nossa cultura para implementá-la nos próximos meses. Teremos uma curva de aprendizado até entendermos qual o método mais funcional e efetivo para o período pós-pandemia. Mas, assim como o mercado de trabalho evoluiu em tecnologia e processos no último ano, com o tempo encontraremos um novo formato que chegue o mais perto possível do ideal.

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