Pfizer: vacina da companhia tem 90% de eficácia (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)
Tamires Vitorio
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 14h43.
A vacina da farmacêutica Pfizer, desenvolvida em parceria com a alemã BioNTech, contra o novo coronavírus é baseada em uma técnica inédita em imunizações. Baseada no RNA mensageiro, a tecnologia tem como principal objetivo a produção das proteínas necessárias para que o corpo humano lute contra a covid-19.
Com a tecnologia, as moléculas genéticas que dizem às células o que fazer, são injetadas no corpo. Cada célula é uma mini-fábrica de proteínas, de acordo com as instruções genéticas contidas em seu núcleo.
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Assim, o RNA mensageiro da vacina é inserido no corpo e assume o controle para a fabricação de um antígeno específico do coronavírus: a "espícula". A espícula que pode ser inofensiva por si só, então será detectada pelo sistema imunológico, que produzirá anticorpos --- cuja duração ainda não é conhecida, mas a farmacêutica espera que "dure muito tempo".
Assim que o material genético for injetado, "as células no local da injeção começarão a produzir de forma temporária uma das proteínas do vírus", explicou Christophe D'Enfert, diretor científico do Institut Pasteur, à agência de notícias AFP.
A vantagem é que, ao usar o metódo do RNA mensageiro, não há necessidade de cultivar um patógeno em laboratório, uma vez que é o organismo que faz todo o trabalho --- o que pode permitir que a vacina seja fabricada mais rapidamente. Para produzi-la, não é necessário nenhum ingrediente como ovo de galinha, usado para a produção da imunização contra a gripe.
Para Daniel Floret, vice-presidente do Comitê Técnico de Vacinas da Alta Autoridade Sanitária, "s vacinas de RNA têm a interessante característica de poder ser produzidas com muita facilidade em grandes quantidades".
Entretanto, deve-se notar que não é possível que o RNA se integre a um genoma humano, constituído de DNA. "O RNA, para poder se integrar ao genoma, tem que passar pelo que se chama de transcrição reversa [no DNA]. E isso não acontece espontaneamente nas células", diz D'Enfert.
O maior problema das vacinas do tipo é que elas precisam ser armazenadas em temperaturas muito baixas, enquanto vacinas de DNA podem ser guardadas em temperatura ambiente.
Nesta segunda-feira, 9, foi divulgado um estudo preliminar de última fase que mostrou que a vacina da Pfizer tem uma eficácia de mais de 90%.
A análise da farmacêutica avaliou que 94 dos 43.538 voluntários que participam dos testes foram infectados pela doença. São necessários 164 casos confirmados para caracterizar a vacina como totalmente funcional.
Das 47 em fases de testes, apenas 10 estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação. São elas a chinesa da Sinovac Biotech, a também chinesa da Sinopharm, a britânica de Oxford em parceria com a AstraZeneca, a americana da Moderna, da Pfizer e BioNTech, a russa do Instituto Gamaleya, a chinesa CanSino, a americana Janssen Pharmaceutical Companies e a também americana Novavax.
Nenhuma vacina contra a covid-19 foi aprovada ainda, mas os países estão correndo para entender melhor qual será a ordem de prioridade para a população uma vez que a proteção chegar ao mercado. Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.
Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.
Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.
A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.
Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.
Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.
Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.
As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.
Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.