Taxa de mortalidade vai aumentar em regiões com queimadas, diz pesquisador
Estudo aponta que quando há incêndios ocorre aumento de infecções por doenças respiratórias além de piora em casos de pneumonia, bronquite e asma
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de setembro de 2019 às 15h26.
As queimadas que se alastram na Amazônia trarão um aumento dos indicadores de morte da população da região. "Não há nenhuma dúvida de que a poluição aguda, como a provocada por esses focos de incêndio, têm um efeito nas taxas de mortalidade", afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Saldiva.
Especialista no tema, Saldiva participou de um estudo publicado na semana passada na revista The New England Journal of Medicine que analisou o impacto da poluição aguda em 652 cidades com diferentes características. "A conclusão é única: esses eventos aumentam as mortes em todo o mundo, sobretudo em pessoas que já apresentam problemas de saúde."
Pesquisadores concluem que toda a vez que se registram queimadas há um aumento de infecções por doenças respiratórias e uma piora nos quadros de pneumonia, bronquite crônica e asma. Além disso, há um aumento da mortalidade por enfarte e derrame. "Isso é um consenso", disse Saldiva. Ele ressalvou, no entanto, que os efeitos negativos não se aplicam a toda população. "Quem sente mais são idosos, crianças, pessoas com diabetes ou hipertensos".
Questionadas pela reportagem, Secretarias de Saúde do Pará, Mato Grosso e Amazonas informaram que, até a sexta-feira passada, dia 30, não houve um aumento expressivo nos serviços de atendimento relacionados a intoxicações por fumaça. Essa constatação não impressiona Saldiva. "Ainda é cedo para notar esse impacto. Isso será sentido ano que vem, quando as notificações de óbito começarem a ser contabilizadas."
Os dados da pesquisa publicada esta semana mostram que os desdobramentos negativos na saúde ocorrem independentemente da fonte da poluição. São notados, por exemplo, tanto em cidades com termoelétricas como naquelas que enfrentam queimas de biomassa — a exemplo das cidades do Norte do País.
Saldiva explica como isso ocorre: a fuligem das queimadas de floresta vem acompanhada de substâncias ativas e metais presentes no solo que, num primeiro momento irritam os olhos. Ao entrar pelo pulmão, essas partículas provocam um processo inflamatório. Mas o efeito não fica restrito ao órgão. Assim como o oxigênio, as partículas atravessam o pulmão e se alojam em outros lugares, aumentando o risco de uma reação inflamatória sistêmica. Com ela, há um aumento da pressão arterial, o risco da formação de trombos que, por sua vez, podem causar o enfarte ou o derrame cerebral.
No caso da poluição aguda, não há mecanismos eficientes de se evitar a contaminação, nem mesmo máscaras, que têm um alcance limitado. O ideal, afirma o pesquisador, é que medidas sejam adotadas para evitar as queimadas ou o seu controle. "Além disso é preciso garantir diabetes e hipertensão estejam controladas, assim como as doenças respiratórias", explica.
A constatação da influência entre poluição aguda e aumento de taxas de mortalidade levou especialistas a apresentarem às Nações Unidas, no primeiro semestre, um documento mostrando a necessidade de se evitar essa forma de poluição. Integrantes da academia de ciências da Europa, África e Américas argumentam no documento que os mais afetados pela polução são os mais pobres e que o custo para a prevenção da poluição, embora alto, é compensado pela redução dos gastos com saúde ou com a perda de produtividade.
O Ministério da Saúde tem uma série de recomendações para moradores de regiões atingidas por queimadas: evitar ficar próximo dos lugares de fogo, ficar em ambientes protegidos de poluição, distanciar-se de ambientes fechados e poluídos, hidratar-se, usar máscaras e óculos para realizar atividades externas e reduzir as atividades físicas.