Ciência

Reino Unido aprova vacina da Pfizer contra covid-19. Quem será vacinado?

No total, o Reino Unido pediu cerca de 40 milhões de doses do imunizante de duas doses --- podendo vacinar 20 milhões de pessoas

Pfizer: companhia teve vacina aprovada no Reino Unido (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)

Pfizer: companhia teve vacina aprovada no Reino Unido (Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 08h44.

O dia começou com uma boa notícia sobre a pandemia do novo coronavírus. O Reino Unido, país mais afetado pela doença na Europa, aprovou na manhã desta quarta-feira, 2, o uso emergencial da vacina da farmacêutica americana Pfizer desenvolvida em parceria com a alemã BioNTech. No total, o Reino Unido pediu cerca de 40 milhões de doses do imunizante de duas doses --- podendo vacinar 20 milhões de pessoas em um país que tem mais de 67 milhões de habitantes. Um bom começo.

Em um comunicado, o governo do país anunciou que a vacina estará disponível em uma semana, quando 800 mil doses chegarão ao Reino Unido vindas da Bélgica --- onde a Pfizer está produzindo o estoque para os britânicos. Matt Hancock, ministro da saúde britânico, disse à emissora BBC que 400 mil pessoas serão imunizadas na semana que vem.

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Hancock não deixou claro quantas doses estarão disponíveis até o final do ano. Mas o que tudo parece indicar é que nem toda a população será vacinada em 2021 --- algo normal quando o assunto é vacinação. Isso porque é preciso pensar primeiro em grupos de risco, e então partir para a vacinação em massa.

As primeiras pessoas a serem vacinadas serão cuidadores em casas de repouso e seus pacientes, idosos acima dos 80 anos e profissionais da linha de frente da área da saúde e assistentes sociais. A priorização dos grupos depende do estoque de vacinas disponível.

Basicamente, a lista do governo britânico prevê que, depois dos grupos citados acima, serão vacinadas pessoas acima dos 75 anos, depois acima dos 70, seguidas por idosos acima dos 65 anos.

Após a vacinação focada em idosos (integrantes do grupo de risco da covid-19), serão vacinados indivíduos de 16 a 64 anos com problemas de saúde que os colocam em risco de morte. Em seguida, pessoas acima dos 60 anos, 55 anos e 50 anos.

A vacina da Pfizer, com base no RNA mensageiro, é administrada em duas doses para chegar a uma eficácia maior --- e as doses precisam ser administradas com uma distância de 21 dias entre elas.

A companhia também afirma que a vacina é capaz de produzir mais anticorpos neutralizantes da covid-19 uma semana após a segunda dose ser administrada.

A imunização pode ter até 1,3 bilhão de doses globais produzidas no ano que vem — e 100 milhões até o final deste ano. Em novembro, as farmacêuticas mostraram que a imunização é 95% eficaz na prevenção da covid-19. 

O fato de a vacina ser produzida com a tecnologia inédita do RNA mensageiro também pode afetar também, de certa forma, a distribuição da vacina.

As vacinas de RNA precisam ser armazenadas em temperaturas muito baixas, de cerca de -70ºC, enquanto vacinas de DNA podem ser guardadas em temperatura ambiente. Se a vacina da Pfizer for aprovada, transportá-la para outros países poderá ser um empecilho.

Mas existe uma vantagem em usar este metódo.

Com o RNA mensageiro, não há necessidade de cultivar um patógeno em laboratório, uma vez que é o organismo que faz todo o trabalho — o que pode permitir que a vacina seja fabricada mais rapidamente. Para produzi-la, não é necessário nenhum ingrediente como ovo de galinha, usado para a produção do imunizante contra a gripe. E elas podem ser produzidas em grandes quantidades de forma mais rápida.

Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.

A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e tenta demonstrar a eficácia da imunização.

Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população. Para chegar mais rápido ao destino, muitas opções contra a covid-19 nem passaram pela fase pré-clínica e outras estão fazendo fases combinadas, como a 1 e a 2 ao mesmo tempo.

Mesmo após passar por algumas das fases (como a 1 e a 2), uma imunização pode não ter sua eficácia comprovada, o que nos faria voltar à estaca zero.

Quem terá prioridade para tomar a vacina?

Um grupo de especialistas nos Estados Unidos, por exemplo, divulgou em setembro uma lista de recomendações que podem dar uma luz a como deve acontecer a campanha de vacinação.

Segundo o relatório dos especialistas americanos (ainda em rascunho), na primeira fase deverão ser vacinados profissionais de alto risco na área da saúde, socorristas, depois pessoas de todas as idades com problemas prévios de saúde e condições que as coloquem em alto risco e idosos que morem em locais lotados.

Na segunda fase, a vacinação deve ocorrer em trabalhadores essenciais com alto risco de exposição à doença, professores e demais profissionais da área de educação, pessoas com doenças prévias de risco médio, adultos mais velhos não inclusos na primeira fase, pessoas em situação de rua que passam as noites em abrigos, indivíduos em prisões e profissionais que atuam nas áreas.

A terceira fase deve ter como foco jovens, crianças e trabalhadores essenciais que não foram incluídos nas duas primeiras. É somente na quarta e última fase que toda a população será vacinada.

Em entrevista ao MIT Technology Review, o epidemiologista Marc Lipsitch, de Harvard, afirmou que faz mais sentido vacinar os mais velhos primeiro, a fim de evitar mais mortes, e depois seguir em frente para outros grupos mais saudáveis ou para a população geral.

Um estudo realizado em setembro deste ano, por exemplo, fez um modelo de como a covid-19 poderia se espalhar em seis países --- Estados Unidos, Índia, Espanha, Zimbábue, Brasil e Bélgica --- concluiu que, se o objetivo é reduzir as taxas de mortalidade, adultos com mais de 60 anos devem ser priorizados na hora da vacinação.

Quão eficaz uma vacina precisa ser?

Segundo uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine uma vacina precisa ter 80% de eficácia para colocar um ponto final à pandemia. Para evitar que outras aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz.

Uma vacina com uma taxa de eficácia menor, de 60% a 80% pode, inclusive, reduzir a necessidade por outras medidas para evitar a transmissão do vírus, como o distanciamento social. Mas não é tão simples assim.

Isso porque a eficácia de uma vacina é diretamente proporcional à quantidade de pessoas que a tomam, ou seja, se 75% da população for vacinada, a proteção precisa ser 70% capaz de prevenir uma infecção para evitar futuras pandemias e 80% eficaz para acabar com o surto de uma doença.

As perspectivas mudam se apenas 60% das pessoas receberem a vacinação, e a eficácia precisa ser de 100% para conseguir acabar com uma pandemia que já estiver acontecendo — como a da covid-19.

Isso indica que a vida pode não voltar ao “normal” assim que, finalmente, uma vacina passar por todas as fases de testes clínicos e for aprovada e pode demorar até que 75% da população mundial esteja vacinada.

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