Ciência

O coronavírus pode circular no ar?

Se a hipótese for confirmada, a prevenção da covid-19 pode mudar completamente de como é orientado hoje

Coronavírus: contaminação já passa de 240.000 casos no mundo todo (Carol Coelho/Getty Images)

Coronavírus: contaminação já passa de 240.000 casos no mundo todo (Carol Coelho/Getty Images)

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AFP

Publicado em 20 de março de 2020 às 15h49.

Última atualização em 20 de março de 2020 às 15h49.

O coronavírus pode circular suspenso no ar e se espalhar dessa maneira? Essa questão importante intriga os cientistas e preocupa a população, sem que haja um consenso sobre o assunto até o momento.

Se essa hipótese for confirmada, mudaria completamente a maneira como devemos nos proteger do coronavírus e recomendaria, por exemplo, o uso de máscaras, mesmo entre aqueles que não estão doentes. Mas, por enquanto, esse não é o caso.

O que os especialistas concordam até agora é o fato de o coronavírus ser transmitido essencialmente pela via respiratória e pelo contato físico.

A primeira forma de transmissão ocorre através de gotículas de saliva expelidas pelo paciente, por exemplo, ao tossir. É por isso que as autoridades de saúde recomendam manter uma distância interpessoal de pelo menos um metro.

Mas em um estudo publicado na terça-feira pela revista médica americana NEJM, um grupo de pesquisadores mostrou que o coronavírus poderia sobreviver por três horas na forma de partículas suspensas no ar, chamada aerossol. Para testá-lo, projetaram o vírus no ar com uma espécie de vaporizador.

"Nossos resultados indicam que a transmissão do SARS-CoV-2 por aerossol é plausível", concluíram os autores do estudo. Mas isso não significa que o coronavírus se espalha suspenso no ar após o paciente tossir.

E é que as condições do experimento não correspondem ao que acontece na vida real, segundo outros pesquisadores.

Quando um paciente tosse ou espirra, "as gotículas caem no chão mais rapidamente que um aerossol", uma vez que são maiores e mais pesadas do que aquelas que compõem uma nuvem vaporizada, enfatiza o professor Paul Hunter, da Universidade Britânica de East Anglia.

- Dentistas e hospital -

"Os aerossóis não constituem um modelo de transmissão particularmente válido", estima, acrescentando que o novo estudo "não muda nossa visão dos riscos da Covid-19".

"O risco existe especialmente quando estamos a menos de um metro de uma pessoa infectada ou tocamos superfícies onde as gotas caíram", continua.

Quando tocamos superfícies contaminadas, o risco é colocar as mãos no rosto e ser contaminado pela boca, nariz e olhos.

O estudo publicado pela NEJM mostra que o novo coronavírus é detectável por até dois ou três dias em superfícies de plástico e aço inoxidável e por até 24 horas em papelão. Mas a disseminação depende da "quantidade de vírus presente", enfatizam os pesquisadores.

"O conselho ainda é não se aproximar muito dos casos possíveis e lavar as mãos com frequência", afirma Hunter.

Mas, ao mesmo tempo, não se pode concluir por enquanto que uma transmissão aérea do vírus é impossível.

"Não podemos descartar completamente a ideia de que o vírus é capaz de percorrer uma certa distância no ar", disse Anthony Faucy, epidemiologista de renome mundial, na rede americana NBC.

Além da população em geral, os riscos de transmissão pelo ar podem ocorrer em categorias específicas, como dentistas, que, por exemplo, podem borrifar água na boca do paciente durante alguns procedimentos.

As conclusões do estudo da NEJM "são especialmente interessantes para o pessoal médico que realiza determinadas intervenções em pacientes com Covid-19 em hospitais e confirma a necessidade de se proteger adequadamente", disse o virologista Etienne Simon-Loriere, do Instituto Pasteur em França, ao jornal Le Figaro.

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