Buraco negro (NASA/CXC/M.Weiss/Reprodução)
Maurício Grego
Publicado em 3 de junho de 2017 às 10h58.
Última atualização em 5 de junho de 2017 às 10h03.
São Paulo - O observatório Ligo detectou seu primeiro “lote” de ondas gravitacionais em 14 de setembro de 2015. Ondas gravitacionais são perturbações no próprio tecido do espaço-tempo, que se propagam espaço adentro na velocidade da luz após um fenômeno astronômico de violência impensável – como o choque entre dois buracos negros com massas dezenas de vezes maiores que a do Sol.
A descoberta só foi publicada em um periódico científico e anunciada ao público em fevereiro de 2016, meses após a detecção, depois de muita análise.
Todo cuidado foi pouco, afinal, o que estava em jogo era uma das maiores descobertas da astrofísica no século 21 – você pode ler aqui o texto da SUPER explicando o porquê.
Na época, os cientistas extraíram dados assustadores do choque: os buracos negros envolvidos, que estavam a 1,3 bilhões de anos-luz da Terra, tinham um 36 e o outro 29 massas solares.
O resultado da união foi um buraco maior, de 62 massas solares. Desde então, ao longo de dois anos, só outros dois choques similares alcançaram os sensores do Ligo (sigla em inglês para um nome bem comprido: Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser).
Um deles, que deu origem a um buraco negro de 21 massas solares a 1,4 bilhões de anos-luz daqui, alcançou os sensores terráqueos em dezembro de 2016 e foi anunciado em janeiro deste ano.
O outro, motivo desta notícia, chegou aqui em 4 de janeiro de 2017, e foi anunciado anteontem, 1º de junho.
Essa última pancada deu a luz (ou a escuridão) a um buraco negro de 49 massas solares, localizado a 3 bilhões de anos-luz da Terra – o mais distante até agora.
Os dois envolvidos no “acidente” tinham um 32 e o outro 19 massas solares. Quando eles se fundiram, as duas massas solares que estão faltando na soma foram liberadas na forma da energia que nos alcançou.
Segundo a assessoria do observatório, antes da união, os dois buracos negros eram equivalentes a esferas com 115 e 190 quilômetros de diâmetro, respectivamente.
O buraco negro resultante alcança uma esfera de 280 quilômetros de diâmetro. É difícil ter uma noção realista da densidade da matéria nesses corpos.
O Sol tem 1,4 milhões de quilômetros de diâmetro – um bom jeito de entender é imaginar que você pegou 49 vezes a massa de nossa estrela e tentou concentrá-la em um espaço milhares de vezes menor.
É bom lembrar que esse cálculo se baseia no comportamento da luz ao redor: não há como observar o buraco negro em si, já que sua gravidade é tão intensa que nem os fótons são capazes de escapar de sua esfera de influência.
Os valores mencionados acima, feitos com base em uma medida chamada “raio de Schwarzschild”, indicam qual é grau de densidade que a massa de um corpo deve alcançar para que a velocidade necessária para escapar de sua atração gravitacional seja maior que a velocidade da luz.
“Com a terceira detecção confirmada de ondas gravitacionais originadas da colisão de dois buracos negros, o Ligo está se estabelecendo como um observatório poderoso para revelar o lado negro do universo”, afirmou David Reitze, diretor executivo do laboratório. “Nós esperamos assistir a outros tipos de eventos astronômicos logo, como a colisão violenta de duas estrelas de nêutrons.
“Essa é só mais uma confirmação da existência de buracos negros com mais de 20 massas solares – objetos que nós não sabíamos que existiam até o Ligo detectá-los”, afirmou em um anúncio à imprensa David Shoemaker, porta-voz da colaboração internacional de cientistas que é responsável pelo observatório. “É incrível que o ser humano possa levantar uma hipótese sobre um evento tão estranho e extremo que ocorreu a bilhões de anos atrás e a bilhões de anos luz de nós – e depois colocá-la à prova.”
Este texto foi publicado originalmente no site da Superinteressante.