Inteligência artificial ajuda prever fracasso de testes de medicamentos
Eliminar a adivinhação em novos estudos sobre medicamentos é o sonho de qualquer investidor do setor farmacêutico
Lucas Agrela
Publicado em 13 de abril de 2019 às 05h55.
Última atualização em 13 de abril de 2019 às 05h55.
Antes do medicamento experimental contra o mal de Alzheimer da Biogen ter fracassado em um ensaio no mês passado, analistas consultados pela Bloomberg estimavam vendas anuais de cerca de US$ 3,7 bilhões até 2023. Uma empresa alemã de inteligência artificial havia chegado a uma conclusão diferente.
A Innoplexus, uma empresa de capital fechado com sede nos arredores de Frankfurt, usa um algoritmo para analisar medicamentos em estudo por farmacêuticas, que inclui mais dados e contexto do que qualquer outra ferramenta. Sua avaliação do medicamento aducanumab da Biogen apontou 70% a 90% de chance de o ensaio não atingir seu objetivo.
"O sistema parece funcionar bem na previsão dos resultados de ensaios clínicos", disse Hendrik Leber, diretor-gerente da gestora de fundos Acatis Investment que avalia o programa, que ainda não foi usado para fazer negociações.
Eliminar a adivinhação em novos estudos sobre medicamentos seria o sonho de qualquer investidor do setor farmacêutico. Lançar um único produto no mercado tem um custo estimado de cerca de US$ 2,6 bilhões e, quando promissores campeões de vendas falham na fase final de testes, tanto farmacêuticas quanto acionistas sentem o impacto. Após a suspensão dos estudos com o aducanumab, a Biogen perdeu US$ 18 bilhões em valor de mercado em um dia.
Muitos analistas também tinham dúvidas sobre o medicamento, mesmo sem os insights da inteligência artificial. A queda das ações, embora significativa, indicou que investidores haviam precificado em 50% as chances de sucesso do estudo clínico, segundo Asthika Goonewardene, analista da Bloomberg Intelligence. O nível de preocupação era alto por causa de decepções anteriores com compostos semelhantes, e analistas pressionaram o comando da Biogen para divulgar novidades durante teleconferência de resultados em janeiro.
O software de aprendizagem da Innoplexus pode rastrear até 5 bilhões de sites por dia para avaliar probabilidades sobre ensaios clínicos. O sistema constrói uma rede gigante de relacionamentos entre dados, usando um algoritmo de processamento de linguagem natural treinado em pesquisas médicas para determinar se certas abordagens são promissoras.
A informação é introduzida, juntamente com outros 350 pontos de dados, em um algoritmo de inteligência artificial que tenta prever a probabilidade de sucesso de um futuro medicamento em particular. Esses outros pontos de dados incluem históricos de pacientes de hospitais na condução de testes e o nível de absorção de certos componentes do medicamento por seres humanos, segundo o fundador da Innoplexus, Gunjan Bhardwaj.
A inteligência artificial está longe de ser uma bala mágica de investimento. O índice de hedge fund Eurekahedge AI, que monitora os fundos que utilizam inteligência artificial como parte de suas principais estratégias, ofereceu retorno de pouco mais de 13% em três anos até 2018, ficando atrás do ganho de 30% do índice S&P 500 com dividendos reinvestidos.
Ainda assim, os próprios testes da Innoplexus com 20 mil estudos clínicos concluídos descobriram - embora retrospectivamente - que a previsão é correta em cerca de 85% dos casos, como um importante ensaio fracassado da Bristol-Myers Squibb sobre câncer de pulmão e um estudo bem-sucedido para tratamento do mieloma da Johnson & Johnson.