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Enzimas em sabão ajudam a salvar o meio ambiente

Uma empresa dinamarquesa descobriu que enzimas de cogumelos ajudam a fabricar detergentes que utilizam menos água para lavar louças

SARA LANDVIK E MIKAKO SASA, DA NOVOZYMES: "Aqui acontece muita coisa, se você souber o que procurar" (Carsten Snejbjerg/The New York Times)
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Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 20h51.

Última atualização em 15 de janeiro de 2018 às 20h54.

Copenhagen, Dinamarca – Uma empresa de biotecnologia dinamarquesa está tentando combater as mudanças climáticas a cada lavagem de roupas. Sua arma secreta: cogumelos de uma floresta adormecida perto de Copenhagen.

Na busca por um sabão mais ecológico, dois cientistas da empresa Novozymes atravessam regulamente a lama, buscando cogumelos-ostras que aparecem em troncos caídos e fungos que se alimentam das fibras resistentes de plantas. Eles estão estudando as enzimas desses cogumelos, que aceleram reações químicas ou processos naturais como o apodrecimento.

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“Aqui acontece muita coisa, se você souber o que procurar”, explica Mikako Sasa, um dos cientistas da Novozymes.

Seu trabalho está ajudando a companhia a desenvolver enzimas para lavar roupas e detergentes de máquinas de lavar-louças que usam menos água ou que sejam efetivos também em temperaturas mais baixas. A economia de energia pode ser significativa. As máquinas de lavar, por exemplo, representam mais de seis por cento do uso de eletricidade doméstica na União Europeia.

Encontrar enzimas que combatam a sujeira não é uma estratégia nova. Por milhares de anos, os cogumelos e seus primos fungos se desenvolveram como mestres da nutrição em árvores moribundas, galhos caídos e outros. Eles digerem esses materiais difíceis secretando enzimas em seus hospedeiros. Mesmo antes que qualquer um soubesse o que eram as enzimas, elas foram usadas na fabricação de cervejas e de queijos, entre outras atividades.

Em 1833, cientistas franceses isolaram uma enzima pela primeira vez. Conhecida como diástase, transformava amido em açúcares. No início do século XX, um químico alemão comercializou a tecnologia, vendendo um sabão que incluía enzimas extraídas de tripas de vacas.

Ao longo dos anos, a Novozymes e seus rivais desenvolveram um catálogo de enzimas, fornecendo-as a produtores gigantes de bens de consumo, como a Unilever e a Procter & Gamble.

Na pequena sede estilo anos 1960 da empresa, cientistas em aventais de laboratório brancos usam máquinas de lavar em miniatura para testar novas combinações de enzimas em roupas de bonecas. Para avaliar o poder de combater as manchas de um produto, eles importam amostras de sujeira de todo o mundo, como colarinhos engordurados e escurecidos e manchas amareladas na região das axilas.

Detergentes modernos contêm até oito enzimas diferentes. Em 2016, a Novozymes gerou cerca de US$2,2 bilhões de receita e forneceu enzimas para sabões como Tide, Ariel e Seventh Generation.

A quantidade de enzimas necessárias em um sabão é relativamente pequena se comparada com as alternativas químicas, uma qualidade que atrai clientes que procuram ingredientes mais naturais. Um décimo de colher de chá de enzimas em uma carga de máquina típica na Europa corta pela metade a quantidade de sabão feito com substâncias químicas do petróleo ou de óleo de palma.

As enzimas também ajudam a diminuir o consumo de energia. Como são encontradas com frequência em ambientes relativamente frios, como florestas e oceanos, não precisam do calor e da pressão usados em geral em máquinas e outros processos para lavar roupas.

Desse modo, os consumidores podem reduzir a temperatura de suas máquinas de lavar e, ao mesmo tempo, garantir que suas camisas ficarão bem brancas. Diminuir a temperatura do ciclo de lavagem da máquina de 40 graus Celsius para água fria corta o consumo de energia pelo menos pela metade, segundo a Associação Internacional de Sabões, Detergentes e Produtos de Manutenção, um grupo da indústria.

“Acreditamos que existe uma grande variedade de processos naturais que são extremamente eficientes em recursos. Na natureza, praticamente não há desperdício. Todos os materiais são reutilizados”, afirma Gerard Bos, diretor de negócios globais e do programa de biodiversidade da União Internacional para a Conservação da Natureza da Suíça.

Em 2009, cientistas da Novozymes se juntaram aos da Procter & Gamble para desenvolver uma enzima que poderia ser usada em sabões líquidos para lavagens em água fria. Os pesquisadores começaram com uma enzima de bactérias do solo da Turquia e a modificaram por meio de engenharia genética para fazer com que se parecesse mais com uma substância encontrada em algas de mares frios. Quando descobriram a fórmula certa, deram o nome de enzima Everest, uma referência à escala da tarefa realizada.

“Sabíamos que isso seria algo que os consumidores iriam querer. Acho que é uma maneira muito tangível e prática de as pessoas fazerem a diferença em suas vidas diárias”, afirma Phil Souter, diretor associado da unidade de pesquisa e desenvolvimento da Procter & Gamble em Newcastle, na Inglaterra.

Em seguida, eles descobriram uma maneira de produzir a enzima em massa. A Novozymes implantou o DNA do novo produto desenvolvido em um lote de hospedeiros microbianos usados para cultivar volumes grandes de enzimas rapidamente e com custos baixos. As enzimas foram produzidas em grandes tanques controlados.

O resultado: um ingrediente crucial em sabões como o Tide Cold Water.

“Isso é biotecnologia em uma escala muito grande”, explica Jes Bo Tobiassen, gerente de uma fábrica da Novozymes em Kalundborg, pequena cidade na costa da Dinamarca.

Ao pesquisar novas enzimas, a Novozymes está tentando alcançar consumidores em economias que estão crescendo rapidamente, como a China.

Em boa parte do mundo desenvolvido, os hábitos de lavanderia estão bastante enraizados. Os europeus tendem a usar máquinas de carregamento frontal, muito mais eficientes no uso de água e energia do que as de carregamento superior preferidas nos Estados Unidos.

Mas na China, membros da crescente classe média, como Shen Hang, estão comprando máquinas novas e sabões mais caros e de maior qualidade. Os consumidores chineses estão entre os mais frequentes e exigentes do mundo, segundo os pesquisadores da Novozymes, mas ainda estão ajustando seus caminhos na hora de lavar roupas.

Recentemente, Shen comprou uma lavadora-secadora de carregamento frontal. Mas tem encontrado dificuldades para descobrir um sabão que possa limpar suas camisas manchadas de suor.

“Estou cansado”, diz ele sobre as afirmações exageradas dos fabricantes.

Shen usa dois tipos de alvejantes, um para roupas brancas e outro para as coloridas. Se não funcionam, esfrega as manchas com as mãos. Ele repete esse ciclo três vezes por semana.

Percebendo a oportunidade, as equipes comerciais da Novozymes pediram aos cientistas da empresa que criassem enzimas que apresentassem um desempenho melhor nas lavagens cheias de alvejantes dos chineses.

A companhia fez alguns progressos. Uma enzima recém-desenvolvida, chamada Progress Uno, está sendo adicionada aos sabões produzidos pela fabricante chinesa Liby.

Hoje, a maioria dos clientes chineses lava roupas em baixas temperaturas. Mas Peder Holk Nielsen, executivo-chefe da Novozymes, preocupa-se com o fato de que isso possa mudar à medida que a riqueza aumenta na China. Os consumidores fizeram a mesma coisa no Ocidente nas décadas posteriores à Segunda Guerra, diz ele.

Se, no entanto, graças ao desenvolvimento das enzimas, essa transição puder ser evitada, ele afirma que isso seria uma história fenomenal de sustentabilidade. “Vai economizar muita água e energia.”

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