Ciência

"Coronavírus" feito em laboratório pode ajudar na busca por vacina

Vírus criado em laboratório está sendo distribuído para pesquisadores na Argentina, no Brasil, no Mèxico, no Canadá e nos Estados Unidos

Espículas: parte do coronavírus foi adicionada a outro vírus para criar um organismo híbrido (JUAN GAERTNER/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Espículas: parte do coronavírus foi adicionada a outro vírus para criar um organismo híbrido (JUAN GAERTNER/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 23 de julho de 2020 às 08h49.

Última atualização em 23 de julho de 2020 às 09h12.

Cientistas da Universidade de Medicina de Washington, nos Estados Unidos, desenvolveram um vírus que imita o novo coronavírus em laboratório para entender melhor como ele funciona. Para isso, os pesquisadores modificaram um vírus leve e trocaram seus genes para alguns presentes no SARS-CoV-2. O objetivo é ajudar outros profissionais da área de saúde a encontrar uma vacina ou remédio que realmente funcione contra a covid-19.

Para criar um modelo seguro do coronavírus, os pesquisadores começaram com o vírus da estomatite vesicular (VSV na sigla em inglês) por sua facilidade em ser manipulado e, então, fizeram as modificações necessárias para que ele se tornasse parecido ou quase igual à covid-19. Para que isso fosse possível, os cientistas retiraram as proteína do VSV e as substituíram por espículas do SARS-CoV-2, capaz de afetar as células como o original, mas sem alguns genes responsáveis por causar casos mais graves da doença.

Os médicos descobriram que o vírus híbrido foi reconhecido por anticorpos retirados de sobreviventes da covid-19, como se fosse a versão real. Os anticorpos também conseguiram prevenir que o vírus feito em laboratório infectasse as células. Já aqueles que não conseguiram bloquear o híbrido, também não foram efetivos contra a covid-19 real.

Segundo o co-autor da pesquisa, Sean Whelan, o vírus criado em laboratório está sendo distribuído para pesquisadores na Argentina, no Brasil, no Mèxico, no Canadá e nos Estados Unidos. A Alemanha e o Reino Unido, por enquanto, estão em fila de espera. "Os humanos com certeza desenvolvem anticorpos contra o SARS-CoV-2, mas são os que trabalham contra as espículas que parecem ser mais importantes para a proteção", diz Whelan.

O vírus híbrido pode, enfim, ajudar os cientistas a avaliar melhor como funcionam os tratamentos baseados em anticorpos e outras medicações contra a covid-19 e até mesmo ajudar na hora de testar se uma vacina é realmente capaz de criar anticorpos neutralizantes contra a doença. Além disso, o vírus de laboratório pode ajudar a entender se um sobrevivente da doença é capaz de desenvolver anticorpos neutralizantes o suficiente para doar plasma para outros doentes ou para identificar quais podem ser transformados em medicações antivirais.

Como o híbrido se parece o novo coronavírus, mas não causa a doença grave, ele pode acabar sendo usado como uma possível vacina no futuro, segundo os pesquisadores. O próximo passo é fazer o teste do vírus híbrido em animais para entender melhor se a opção pode funcionar.

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