App da USP faz diagnóstico da covid-19 a partir de radiografia do pulmão
Ferramenta é capaz de fazer a leitura e a análise de várias imagens ao mesmo tempo, podendo ser utilizada na triagem de pacientes
Guilherme Dearo
Publicado em 11 de julho de 2020 às 15h57.
Em Ribeirão Preto, um grupo de pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP e do Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto criou um aplicativo capaz de identificar se um paciente está com a covid-19, a partir de uma simples radiografia de pulmão. O aplicativo também pode ser utilizado para fazer triagem de pacientes com suspeita de covid-19, pois permite a análise de várias imagens ao mesmo tempo.
Para criar a ferramenta, na primeira etapa os pesquisadores analisaram 3.500 imagens, sendo duas mil de pacientes com a covid-19 ; outras quinhentas de pacientes com tuberculose e mil de pessoas sem nenhuma doença. Elas foram obtidas de repositórios de Brasil, China, Estados Unidos e Itália.
Formada em Fonoaudiologia e Informática Biomédica e doutora pela USP, a pesquisadora Paula Cristina dos Santos, uma das responsáveis pelo desenvolvimento do aplicativo, explica que foram separadas nas 3.500 imagens somente a área do pulmão, e que “em seguida foi feita uma análise estatística, usando algoritmo capaz de distinguir os três grupos de pacientes: aqueles com a covid-19, aqueles com tuberculose e aqueles sem nenhuma doença”. Para nomear o aplicativo, a equipe decidiu homenagear Marie Curie. A cientista, nascida em Varsóvia, na Polônia, foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e única pessoa até hoje a ganhá-lo duas vezes, um de Física e outro de Química.
Paula dos Santos explica que na primeira etapa, após o agrupamentos das imagens, já foi possível detectar as diferenças entre as imagens de pulmões afetados pela covid-19 e as imagens daqueles afetados pela tuberculose – e até mesmo diferenciar alterações causadas pela malária. “Foram identificadas 144 características, sendo 42 específicas da covid-19. Percebemos que essas características também têm níveis, dependendo do estágio da doença: mais leves, moderados e graves. Agora estamos fazendo estudos mais aprofundados, usando outros algoritmos, para estudar essa evolução nas imagens.”
Outro fator que chamou a atenção dos pesquisadores foi a confirmação do aumento na densidade do pulmão, que fica com “o aspecto de branco jateado, chamado na medicina de ‘vidro fosco’ ”. Essa é uma característica muito forte dos pacientes com a covid-19, como já relatado em vários artigos científicos. “Na covid-19 o ‘vidro fosco’ tem apresentado uma forma diferente até em relação a outras patologias que apresentam essa característica, por isso o aplicativo consegue agrupar”, comenta.
Mesmo com detalhes ainda a serem ajustados, Paula afirma que o aplicativo Marie apresenta uma assertividade de 93% a 98% no diagnóstico de pacientes com a covid-19. “Percebemos que a assertividade cai quando o paciente está na fase inicial da doença, mas em pacientes com grau mais avançado, a assertividade chega a 98%. Então o que precisamos é aprofundar o estudo dos casos leves”.
Outra vantagem do aplicativo Marie, segundo a professora Geraldine Góes Bosco, do Departamento de Computação e Matemática da FFCLRP, que também participou do desenvolvimento, é o fato do médico poder enviar pelo celular várias imagens para triagem e diagnóstico, ou somente uma imagem para diagnóstico. “Isso pode auxiliar o profissional onde quer que ele esteja, pois o aplicativo consegue analisar e processar várias imagens ao mesmo tempo e dar a resposta em poucos minutos.”
Paula dos Santos e a professora Geraldine Bosco trabalham em parceria no combate à covid-19. “Eu e a Paula estamos tentando trabalhar juntas desde 2017, e a pandemia catalisou a vontade de contribuirmos com a sociedade de alguma forma, em relação ao diagnóstico e triagem de pacientes.”
O trabalho também teve a participação da pós-graduanda Jéssica Caroline Lizar, do programa de Doutorado em Física Aplicada à Medicina e Biologia (FAMB), do professor Sílvio Morato, do Departamento de Psicologia da FFCLRP, além do administrador Alexandre Hatae, formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Os pesquisadores procuram financiamento para o projeto, portanto, empresários interessados podem entrar em contato.