WARREN BUFFETT: documentário aborda vida pessoal do segundo homem mais rico do mundo / Divulgação/HBO
Letícia Toledo
Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 17h34.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h03.
Letícia Toledo
Bilionário, investidor e filantropo são as palavras mais usadas para descrever o americano Warren Buffett. Mas é com substantivos como filho, marido, pai e amigo que o documentário Becoming Warren Buffett (Tornando-se Warren Buffett, em tradução livre) narra a história do menino tímido de Nebraska fascinado por números que se tornou o segundo homem mais rico do mundo, dono de uma fortuna de 74 bilhões de dólares.
“As pessoas conhecem o Buffett bilionário, mas, enquanto crescíamos, ele era apenas um pai de família. Ele jantava conosco todas as noites – quando digo isso hoje, as pessoas acham estranho”, conta Howard Graham Buffett, filho de Warren Buffett. Produzido por Peter Kunhardt, seis vezes ganhador do prêmio Emmy, o documentário foi exibido na última segunda-feira 30 pelo canal de televisão HBO nos Estados Unidos e está previsto para chegar ao Brasil em abril. EXAME Hoje assistiu ao documentário a convite da HBO.
Narrar a história de Buffett – que já foi personagem de dezenas de livros e reportagens – não é nenhuma novidade. Todos os clichês da vida pessoal do investidor estão no documentário – como sua obsessão por Coca-Cola e a rotineira alimentação que mais parece a de um adolescente, com incontáveis sanduíches do McDonald’s. Mas o filme vai além, com a história sendo narrada pelo próprio Buffett e seus familiares, sócios e amigos. Dezenas de fotos e vídeos do acervo pessoal do investidor dão vida a épocas distantes como Buffett ainda criança brincando com seus irmãos, o jovem Buffett com terno e gravata deixando a igreja ao lado de sua primeira esposa e o Buffett pai de família brincando com seus filhos.
O filme é uma clara homenagem ao senhor de 86 anos que tornou a empresa de investimentos Berkshire Hathaway em uma companhia que vale 406 bilhões de dólares. Mas, ao mesmo tempo em que Buffett é descrito por seus filhos como um extraordinário “computador humano” em sua capacidade de absorver informações, o documentário não hesita em retratá-lo como uma pessoa solitária com quem filhos e amigos têm dificuldade em se conectar.
As cenas de suas aparições em público, onde é reconhecido, abraçado e fotografado por fãs, contrastam com o silêncio de seu escritório – onde Buffett passa ao menos seis horas por dia lendo – e as falas de seus filhos que o descrevem como uma pessoa solitária. “Ele estava sempre lá [em casa], mas ele estava sempre no porão lendo, então era como se ele não estivesse”, conta sua filha Susan Alice Buffett sobre sua infância com o pai.
A primeira esposa do Buffett e mãe de seus três filhos, Susan (que morreu em 2004), é destaque à parte em toda a narrativa. “Há dois pontos de virada na minha vida: um quando eu saí de uma mulher e um quando eu conheci Susan”, afirma Buffett.
O documentário atribui a Susan o tato social que transformou o menino com dificuldades de falar em público em uma figura que não hesita em aparecer em grandes eventos. Susan também é descrita como a responsável pela transformação de Buffett, tradicional de uma família republicana, em um democrata e feminista. “Eu lutava pelos direitos civis e ele ia comigo ver os discursos. Isso o transformou em um democrata”, afirma Susan em uma entrevista recuperada de 2004.
Até mesmo após sua morte, Susan faria Buffett mudar de opinião. Ele sempre planejou deixar que Susan distribuísse sua riqueza para beneficiar a humanidade depois que falecesse. Já ela sempre quis que ele doasse seu dinheiro ainda em vida. Pouco mais de um ano após a morte de Susan, devido a um acidente vascular cerebral, Buffett decidiu doar cerca de 85% de suas ações da Berkshire Hathaway, avaliadas em 44 bilhões de dólares na época, para a fundação de Bill e Melinda Gates e outras quatro fundações.
Convencer Buffett a participar do documentário deu certo trabalho a Kunhardt. Primeiro, o produtor – conhecido por documentários como Nixon by Nixon e Living With Lincoln – levou a proposta até um dos filhos de Buffett, Peter, que o orientou a escrever uma carta a seu pai. Impressionado pelos trabalhos anteriores de Kunhardt, o investidor aceitou marcar uma entrevista de 90 minutos. Depois, Buffett se convenceu de que seriam necessários mais encontros para construir a narrativa.
O fato de Kunhardt não ser do mercado financeiro pode decepcionar quem assiste ao filme de 90 minutos à procura de ensinamentos de Buffett sobre negócios e investimentos. Até um dos momentos mais decisivos em sua carreira – quando Buffett assumiu a presidência do conselho do banco Salomon Brothers em 1991 e evitou sua falência após um escândalo com títulos do governo – é narrado de maneira superficial.
Ao invés de retratar o homem de negócios, Kunhardt prefere perguntar a Buffett se ele teme a morte. “Eu não temo a morte, eu fiz tudo o que eu queria. E eu sou agnóstico, então não sei o que vou encontrar do outro lado”, diz, com seu bom senso de humor habitual.