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Em TI, os especialistas nos antigos mainframes estão valorizados. Mas será uma boa fazer carreira nessa área?

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2013 às 14h00.

São Paulo - Há dois meses, o analista de sistemas Márcio Silva, de 36 anos, foi contratado pela CA, uma das principais empresas de TI do mundo. Em 16 anos de carreira, ele se especializou em mainframe, o computador de grande porte, capaz de processar um enorme volume de transações.

No Brasil, 75% do faturamento da CA vem de clientes que usam essa tecnologia — bancos, operadoras de telecomunicações e instituições públicas. Encontrar profissionais como Márcio é um desafio para a CA e para outras empresas que fornecem produtos e serviços de mainframe, como IBM, HP e BMC.

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Essa é uma plataforma antiga, que há mais de 20 anos é considerada ultrapassada — e chata — por profissionais de TI, mais interessados em tecnologias web ou em sistemas Windows e Linux. O efeito dessa má imagem é a escassez de mão de obra, ruim para as empresas, mas boa para os poucos profissionais que fizeram carreira na área, como Márcio.

Há oito anos, receoso de estar trabalhando com uma tecnologia à beira da extinção, Márcio resolveu renovar seus conhecimentos. Fez cursos de Windows, redes e internet. Atualizado, descobriu que a concorrência nesses mercados era muito maior e os salários, muito menores.

Voltou para o mainframe. No cargo de consultor da CA, ele diz ganhar melhor que seus pares que trabalham com outras tecnologias — e recebe muito mais propostas de emprego. “Trabalho não falta”, garante Márcio.

Além de ser antigo e ter uma interface gráfica pobre, o mainframe atrai pouca gente porque existe uma crença no mercado de que essa tecnologia vai se extinguir. Os números, porém, não indicam que isso ocorrerá. Pelo menos não tão cedo.

No último trimestre de 2009, grandes companhias brasileiras gastaram 86 milhões de dólares na tecnologia — o que representa 36% do faturamento do mercado de computadores com preço superior a 25 000 dólares, máquinas que são vendidas para grandes empresas.


“O mainframe não morreu como se fala por aí”, afirma Ricardo Basaglia, gerente da divisão de tecnologia da empresa de recrutamento Michael Page, que registrou um aumento de 27% nas contratações de profissionais de mainframe ano passado em relação a 2008.

Segundo a consultoria IDC, o Brasil tem a quinta maior base de mainframes do mundo. Os bancos respondem por 59% do mercado, seguidos pelo segmento de telecomunicações (14%) e governo (5%). Para os próximos anos, a demanda por profissionais da área deve continuar em alta.

As fusões no setor bancário ocorridas nos últimos anos ainda devem levar a novos investimentos na consolidação de bases de dados dos clientes dessas instituições. Quando olham à frente, as empresas de TI deveriam ficar contentes com a alta demanda.

No entanto, o futuro só traz mais preocupação com a escassez de profissionais. Isso porque, até o presente, quem tem suprido a demanda são os profissionais que começaram a trabalhar com mainframes nos anos 70 e estão se aproximando da aposentadoria.

Sem eles, abre-se um grande vazio de especialistas. Atualmente, mais da metade da equipe de vendas de mainframe da CA tem acima de 60 anos e nos próximos sete anos vai se aposentar.

Procura-se jovem profissional

Para resolver o problema, a CA faz parcerias com universidades e com a Fundação Bradesco, que levará a disciplina de mainframe para seus alunos. Enquanto a oferta de profissionais é menor do que a demanda, a CA mantém sua política de ir ao mercado em busca de talentos e não hesita se precisar pagar mais para atrair os melhores.

A IBM, que tem hoje 25% de seu faturamento vindo de negócios com mainframe, também procura desenvolver novos talentos. No país, a companhia possui parceria com 40 universidades. “Não queremos assistir a um apagão de talentos”, diz Paulo Perini, gerente de mainframe da IBM Brasil.

A empresa criou o 1º Concurso de Desenvolvimento de Aplicações para Mainframes, iniciativa que tem o objetivo de contribuir com a formação profissional de interessados na tecnologia. “Conseguimos atrair gente nova, entre 30 e 40 anos”, ressalta. Tanto que há um pessoal com dois ou três anos de experiência assumindo cargos de destaque na área. “Não há dúvidas que existe muito espaço para quem quer ser um especialista em mainframe”, afirma Paulo.

Carreira na área?

Segundo Ricardo Basaglia, da Michael Page, hoje as empresas têm projetos de mainframe e não encontram mão de obra para tocá-los. Isso significa que um profissional que opte por entrar nesse mercado tem, no momento, garantia de emprego.

Mas essa informação aparentemente positiva não é suficiente para que uma pessoa tome a decisão de fazer carreira na área. Como fazem as companhias do ramo, os profissionais também devem olhar o futuro e analisar as perspectivas.


Para quem já fez metade da carreira nesse segmento, as perspectivas são boas. As possibilidades de a tecnologia ser extinta nos próximos dez anos são pequenas. Ao contrário, deve continuar havendo algum investimento, especialmente no setor público, que investiu aquém do esperado nos últimos anos.

O futuro é particularmente tranquilo para os especialistas em mainframe que estão fazendo carreira na área comercial. “É uma forma de entrar no mercado de bancos e governo, grandes compradores de tecnologia”, analisa Carlos Eduardo Altona, sócio da Exec, empresa de recrutamento de São Paulo.

Mesmo que essa tecnologia perca espaço, ter uma carteira de clientes valiosa vai ajudar o profissional da área comercial a se recolocar.

Já para quem está começando e quer fazer uma carreira mais técnica, a análise deve ser diferente. Embora as oportunidades tendam a existir, ninguém sabe ao certo até quando. Para os fornecedores, não há com o que se preocupar.

“A tecnologia continuará forte por, no mínimo, mais 30 anos”, diz Idival Júnior, gerente de vendas técnicas de mainframes da CA. Carlos Eduardo, da Exec, recomenda ao jovem pensar duas vezes antes de iniciar carreira no setor. “É arriscado apostar todas as fichas em uma plataforma tão antiga e que ninguém sabe ao certo seu futuro”, diz.

Ronaldo Oliveira Rodrigues, de 28 anos, deixou o estágio na IBM e assumiu diretamente o cargo de analista de suporte de mainframe no departamento de pré-venda da companhia.

Sua análise não levou em conta a idade da tecnologia nem a remuneração atual. “O mainframe armazena os dados mais importantes da empresa”, diz ele. “É a oportunidade de encarar um desafio com alta carga de responsabilidade.”

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