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Saiba onde encontrar emprego em meio à crise

Apesar da freada econômica, empresas de call center, alimentos e bebidas, comércio e serviços vão gerar milhares de vagas neste ano

Call center da Atento: setor vai contratar 80 000 neste ano (.)
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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2009 às 17h49.

É fato que o mercado de trabalho ficará mais difícil em 2009. Seja no Brasil, seja em outros países, a crise econômica levará as empresas a suspender investimentos e a cortar custos - entre eles, funcionários. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que entre 18 milhões e 51 milhões de pessoas perderão o emprego neste ano, conforme a gravidade da deterioração econômica que está por vir. Somente na América Latina e Caribe, os sem-empregos podem incorporar mais 3 milhões de indivíduos, totalizando 23 milhões.

Números como esses deixam os brasileiros preocupados. A boa notícia é que o Brasil ainda vai gerar milhares de novos postos neste ano. A expectativa dos economistas é que não 2009 não será brilhante, mas o país vai chegar a dezembro com um saldo positivo de contratações. No cenário básico da consultoria econômica LCA, se o Brasil crescer 2,5% neste ano, criará 811.884 postos líquidos de trabalho. Não há dúvidas de que isso mostra uma freada do país, que gerou mais de 1,2 milhão de empregos por ano entre 2004 e 2008. Mas ainda estamos no time dos países que vão aumentar sua força de trabalho, ao contrário dos Estados Unidos e outras nações desenvolvidas.

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Outro segmento que vai abrir milhares de vagas é o de telesserviços, que inclui telemarketing e outras funções. Segundo a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), a força de trabalho incorporará 80.000 pessoas neste ano, chegando a dezembro em 930.000, contra os 850.000 com que iniciou 2009. As contratações são um reflexo da nova regulamentação do setor, que impôs uma série de regras para o atendimento dos clientes e forçou as companhias a ampliar as equipes. "Não é possível calcular com exatidão os impactos dessas novas regras, mas a expectativa média entre as dez maiores empresas do setor é de um crescimento imediato de 5% ou 6% no volume de empregos", afirma Jarbas Nogueira, presidente da ABT.

Mesmo áreas diretamente atingidas pela crise, como os bancos, devem abrir vagas. A LCA projeta um saldo líquido de 1.780 postos no setor de serviços e instituições financeiras. Trata-se de um tombo e tanto em relação aos 22.081 postos criados no ano passado, mas mostra que as instituições brasileiras, apesar de toda a adaptação aos dias mais difíceis, vão continuar crescendo. Além disso, a geração de empregos também deve desacelerar por outro motivo: a consolidação do setor bancário, cujos exemplos mais recentes são a fusão do Itaú com o Unibanco, e as investidas do Banco do Brasil sobre a Nossa Caixa, o Votorantim e alguns bancos estaduais. Para ganhar sinergia, os analistas esperam que os bancos enxuguem algumas áreas, como tecnologia e backoffice.

Força da baixa renda

O comércio será o segundo maior contratador deste ano, gerando um saldo líquido de 312.517 vagas - incluindo os atacadistas. Este será, também, o setor que sentirá menos o impacto da crise. Enquanto o número de postos criados em serviços cairá 41% em relação aos 648.259 empregos criados em 2008, o comércio recuará 18%. Os empregos se concentrarão nos setores de bens não-duráveis, como alimentos e bebidas, e semiduráveis, como vestuário. Já os setores dependentes de crédito, como eletroeletrônicos e automóveis, ainda enfrentarão problemas dada a pouca disposição dos bancos em emprestar dinheiro diante das incertezas do mercado.

Outro fator que impulsionará o comércio de produtos perecíveis e semiduráveis é a sua maior resistência em momentos de crise. No jargão dos economistas, a demanda desses setores é considerada menos elástica do que a de outros produtos, ou seja, cai menos na turbulência.

Além disso, o reajuste do salário mínimo, que foi antecipado pelo governo federal para fevereiro, deve injetar 21 bilhões de reais na economia, segundo o Ministério do Trabalho. Desconfiados, em vez de contrair novos carnês de prestações, os brasileiros devem aplicar a maior parte do incremento de renda em consumo de itens diários. "O reajuste do salário mínimo aumenta o poder aquisitivo das classes C e D; o momento está favorável para esses consumidores", diz Patrícia Epperlein, diretora-geral da consultoria de Recursos Humanos Mariaca. Isso deve favorecer, sobretudo, os hipermercados e supermercados, que também concorrem com varejistas de eletroeletrônicos e vestuário.

Não é por acaso, portanto, que em pleno ano de crise o Wal-Mart espera investir no Brasil um recorde de 1,8 bilhão de reais. Os recursos serão usados para abrir de 80 a 90 lojas. A empresa estima que serão criados 7.100 empregos diretos e 27.000 indiretos com os novos pontos-de-venda.

Já o economista Fábio Pina, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, é mais cauteloso. Para ele, os comerciantes só vão gerar novas vagas se o país crescer, pelo menos, 2%. "Abaixo dessa taxa, o comércio consegue avançar apenas com ganhos de produtividade", afirma.

Efeito-dominó

O impulso gerado pela demanda de produtos perecíveis e semi-duráveis também vai refletir no perfil de vagas abertas na indústria. A LCA estima que o setor gerará 140.023 vagas neste ano - uma freada de 28% em relação aos 195.311 empregos criados em 2008. O destaque será o ramo de alimentos e bebidas, pelos mesmos motivos que puxarão as vendas desses artigos no comércio. Espera-se que o ramo aumente força de trabalho em 49.487 vagas até dezembro. "O segmento de alimentos e bebidas é intensivo em mão-de-obra", afirma Fábio Romão, economista da LCA e responsável pela pesquisa.

Outra aposta é a indústria têxtil. Os analistas avaliam que ela pode gerar 22.000 postos líquidos neste ano, com foco em produtos mais baratos, destinados às classes populares.

Embora sem estimativas numéricas, a indústria farmacêutica também é apontada pelos especialistas como uma das que crescem em momentos de crise. O motivo é desconcertantemente simples: as pessoas ficam mais estressadas com as dificuldades e aumento o consumo de medicamentos como antidepressivos e analgésicos. "A maior demanda do setor é um dos reflexos da pressão sobre as pessoas", afirma Adriano Araújo, vice-presidente do Grupo Foco, uma consultoria de recrutamento e gestão de Recursos Humanos.

Vaidade sem crise

Fértil em criar referências para comparar países e setores, o mercado vem evocando há algum tempo o "Índice Batom". Seu conceito é que, em tempos de crise, o consumo de cosméticos tende a crescer por vários motivos, que vão da opção das mulheres de evitar compras mais caras, como bens duráveis, até a necessidade de manter a autoestima.

Seja qual for a razão, o "Índice Batom" tem um fundo de verdade - o setor de cosméticos, higiene pessoal e perfumaria também deve contribuir para a criação de empregos no Brasil em 2009. Atualmente, essas empresas contam com 65.000 funcionários. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfurmaria e Cosméticos (Abihpec), as vagas crescerão 4% neste ano - o equivalente a 2.600 postos. "Não há dúvidas de que o setor vai contratar mais neste ano", afirma João Carlos Basílio, presidente da Abihpec.

Um exemplo do fôlego do setor são os investimentos programados pelo O Boticário: 170 milhões de reais até 2012, anunciados nesta terça-feira (17/2). Os planos incluem a inauguração de um novo centro de distribuição no segundo semestre de 2009, que gerará a criação imediata de 200 empregos diretos e indiretos. Outros 40 posto serão abertos na fábrica, em São José dos Pinhais (Paraná). Até 2012, os investimentos gerarão outros 250 empregos. Atualmente, a companhia possui 1.400 funcionários.

Os economistas estimam que o Brasil precise gerar mais de 1 milhão de empregos por ano para absorver todas os jovens que chegam ao mercado, e atender quem já está nele e busca uma recolocação. Por isso, terminar 2009 com um pouco mais de 800.000 vagas significa ver a taxa de desemprego crescer. Para a LCA, ela deve passar dos atuais 7,9% para 8,5%, no cenário básico. Traduzindo: o mercado ficará mais competitivo, e a vantagem será de quem souber buscar as oportunidades onde elas estão.

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