Salário: diferença salarial entre gêneros tem se mantido em torno de 80 por cento (Thinkstock/Digital Vision/Thinkstock)
Maurício Grego
Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 21h50.
Última atualização em 5 de janeiro de 2018 às 21h51.
As mulheres não ganham o mesmo que os homens nos Estados Unidos, um fenômeno persistente que não pode ser explicado por disparidades em educação, oportunidades ou pelo fato de ter filhos. Mas um número cada vez maior de pesquisas destaca uma causa nova e convincente: as mulheres ganham menos devido ao assédio sexual sofrido no trabalho.
A diferença salarial entre gêneros tem se mantido em torno de 80 por cento há quase duas décadas. A maior parte da discrepância é explicada porque os homens trabalham em empregos mais bem remunerados e em setores mais lucrativos, e a maioria das políticas para remediar o problema se concentra em encorajar as mulheres a buscar essas mesmas oportunidades de altos salários.
Meses de revelações sobre assédio e abuso sexual de mulheres em vários setores jogaram nova luz na razão pela qual elas não ocupam postos com maior remuneração com mais frequência. Mesmo quando elas ganham mais porque estão em segmentos mais lucrativos ou porque ocupam postos mais elevados, os empregos com altos salários também oferecem maiores riscos de assédio sexual, diz Joni Hersch, economista da Vanderbilt University.
Além disso, mulheres que sofrem assédio sexual no trabalho têm uma chance 6,5 vezes maior de deixar o emprego em comparação com mulheres que não enfrentam o problema, segundo pesquisa de Amy Blackstone, Christopher Uggen e Heather McLaughlin.
Em um dos poucos estudos que analisam os efeitos do assédio sexual ao longo do tempo, sociólogos perguntaram a cerca de 1.000 homens e mulheres se estes haviam sido tocados sem consentimento, ouvido piadas inapropriadas e sofrido outros tipos de comportamento que pudessem ser considerados assédio no local de trabalho. Entre as mulheres que disseram terem sido tocadas sem consentimento ou pelo menos terem enfrentado duas das outras situações, comportamentos sem contato físico, 80 por cento afirmaram que deixaram o emprego em um prazo de dois anos.
Quando essas mulheres pedem demissão, disse Blackstone, não costumam ir para postos semelhantes. Elas vão para áreas ou postos menos lucrativos, um impacto econômico negativo que persiste sobre essas mulheres pelo resto de suas carreiras.
Há pouco tempo, Samantha Ainsley estava avançando rapidamente no mundo acadêmico, em busca de um diploma de doutorado em ciência da computação no MIT, imaginando um futuro em pesquisa, consultoria e, talvez, abrir a própria empresa.
Foi quando um dos principais professores em sua área a assediou em uma conferência. Quando ela o rejeitou, diz, ele continuou tentando agarrá-la e a acusou de dormir com outros alunos para subir na carreira.
Para Ainsley, foi uma situação que mudou sua vida. “Tudo o que eu conseguia pensar era: ‘Este cara vai revisar todos os meus artigos’”, diz. “Acabou comigo.”
Meses depois, ela deixou o programa do MIT para trabalhar como engenheira de software no Google, posto que ela descreve como “uma carreira mais modesta do que eu havia aspirado originalmente. De certo modo, tive de recomeçar.”
Entender como o assédio afeta exatamente o poder de remuneração não é fácil, disse Claudia Goldin, professora da Harvard que estuda a diferença salarial entre homens e mulheres. O abuso no local de trabalho frequentemente não é denunciado, especialmente nos níveis profissionais e de gerência.