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O incerto pelo incerto

As histórias de cinco executivos que decidiram largar a empresa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.

Se a vida nas grandes corporações está tão ruim, seria de esperar que houvesse um êxodo para as pequenas e médias empresas, além de uma onda de novos empreendedores. Não é o que vem acontecendo, pelo menos não em grande escala -- provavelmente porque, se a vida já anda dura nas grandes companhias, fora delas está duríssima. É improvável que haja uma reedição do êxodo de executivos para empresas emergentes ocorrido durante a bolha da internet. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor, que analisa o empreendedorismo em 37 países, mais da metade dos empreendedores brasileiros cria a própria empresa por pura necessidade. Mas há, também, os que, mesmo bem-sucedidos numa grande organização, decidem sair. "O risco de ser executivo está cada vez mais próximo do risco de empreender", diz Marília Rocca, diretora-geral do Instituto Empreender Endeavor, organização não-governamental de apoio ao empreendedorismo. "E, em tempos de corte de custos, os que gostam de criar valor se cansam de vê-lo ser destruído nas grandes empresas." Veja, a seguir, os casos de cinco executivos que optaram pela saída, e por quê:

DE FRANQUEADOR A FRANQUEADO

  • O paulista Michel Brull tornou-se presidente da Fotoptica, a maior e mais tradicional rede de lojas de foto e óptica do país, em 2000. Após uma fase de crescimento acelerado, os resultados começaram a refletir a queda no consumo e o aumento do dólar, que balizava parte dos custos. Brull desenvolveu então diversos planos de redução de custos e, no início do ano passado, articulou uma estratégia para a abertura de lojas franqueadas. "A partir daí teríamos de cortar mais custos e manter o plano das franquias, que já estava pronto", diz. "Foi quando percebi que o projeto Michel e o projeto Fotoptica não caminhavam mais juntos." A solução estava logo ali: em junho deste ano, aos 46 anos, Brull tornou-se franqueado da rede que dirigia. "Hoje, os aspectos mais importantes para mim são autonomia e a chance de trabalhar em algo que me dê prazer, que eu possa ver crescer." Ele possui três lojas em Campinas, no interior de São Paulo, e tem planos de incorporar outras.

    FUGINDO DOS INCÊNDIOS

  • Há um ano, Jacques Wladimirski, de 42 anos, deixou uma carreira de duas décadas em grandes empresas, como Black & Decker, DirecTV e Intelig, para fundar a Golf & Gym, uma academia e escola de golfe voltada para eventos de negócios. Seu último cargo tinha sido de diretor-superintendente da Líder Táxi Aéreo. Wladimirski lembra-se de que se decepcionou com o mundo corporativo pela primeira vez ao ver um trabalho de um ano à frente da UUNet, prestadora de serviços de transmissão de dados, ir por água abaixo quando a controladora WorldCom decidiu fundi-la com a Embratel. "As companhias perderam a visão de planejamento estratégico", diz. "Em geral, a rotina diária é administrar incêndios e não entender o que e por que está pegando fogo."

    AS METAS IMUTAVEIS

  • Em abril deste ano, Vanderlei Rigatieri Jr., de 41 anos, enviou uma mensagem aos colegas informando sua saída da presidência da subsidiária brasileira da Avaya, fabricante americana de equipamentos para telecomunicações. "Saí para procurar um ambiente em que não imperassem as metas do tipo tiro de canhão, que não mudam de rota", diz Rigatieri. "Se você diz para a matriz que a realidade local é diferente, a resposta é: Estou pouco ligando. Esse tipo de postura gera insatisfação. As pessoas tendem a se tornar mais agressivas. A pressão de curto prazo contamina a estratégia." Hoje Rigatieri é sócio e diretor-geral da DGX, uma prestadora de serviços de tecnologia.

    SEM ESPAÇO PARA IDÉIAS

  • Márcio Xavier, de 37 anos, recorda que participou, há alguns anos, de um projeto pioneiro numa grande fabricante de fragrâncias européia. A idéia era enviar pesquisadores à Amazônia para trazer novas essências. Mas o projeto não saiu do papel. "As empresas estão cada vez mais condicionadas à competição por custos. As decisões são sobretudo financeiras", diz Xavier. "A ordem subliminar é arriscar o mínimo para garantir a própria sobrevivência. Em geral, não tem havido muito espaço para desenvolver rapidamente novas idéias." Em março do ano passado, ele deixou a diretoria para a América Latina da fabricante de fragrâncias para fundar, com três amigos, a Anantha, produtora de cosméticos e perfumes, baseada em São Paulo. Em apenas um ano, a Anantha já lançou uma linha de três perfumes com a marca dos cantores Zezé di Camargo e Luciano e prepara-se para lançar uma linha de cosméticos com a marca do esportista Amyr Klink.

    A DITADURA DOS TRIMESTRES

  • O clímax da carreira corporativa de Ricardo Cidale, de 41 anos, ocorreu quando foi promovido à vice-presidência comercial da matriz da empresa de tecnologia Real Networks, nos Estados Unidos. Poucos meses depois, no entanto, Cidale começou a questionar o rumo de sua vida profissional. "Vivia de trimestre em trimestre sem planos de médio e longo prazo", diz. "Percebi que, se continuasse ali, iria enferrujar o que aprendera sobre planejamento estratégico." Desde setembro, Cidale é conselheiro de empresas emergentes, como as de tecnologia Gemco e Automatos. E mora em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, com a mulher e o filho.
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    Se a vida nas grandes corporações está tão ruim, seria de esperar que houvesse um êxodo para as pequenas e médias empresas, além de uma onda de novos empreendedores. Não é o que vem acontecendo, pelo menos não em grande escala -- provavelmente porque, se a vida já anda dura nas grandes companhias, fora delas está duríssima. É improvável que haja uma reedição do êxodo de executivos para empresas emergentes ocorrido durante a bolha da internet. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor, que analisa o empreendedorismo em 37 países, mais da metade dos empreendedores brasileiros cria a própria empresa por pura necessidade. Mas há, também, os que, mesmo bem-sucedidos numa grande organização, decidem sair. "O risco de ser executivo está cada vez mais próximo do risco de empreender", diz Marília Rocca, diretora-geral do Instituto Empreender Endeavor, organização não-governamental de apoio ao empreendedorismo. "E, em tempos de corte de custos, os que gostam de criar valor se cansam de vê-lo ser destruído nas grandes empresas." Veja, a seguir, os casos de cinco executivos que optaram pela saída, e por quê:

    DE FRANQUEADOR A FRANQUEADO

  • O paulista Michel Brull tornou-se presidente da Fotoptica, a maior e mais tradicional rede de lojas de foto e óptica do país, em 2000. Após uma fase de crescimento acelerado, os resultados começaram a refletir a queda no consumo e o aumento do dólar, que balizava parte dos custos. Brull desenvolveu então diversos planos de redução de custos e, no início do ano passado, articulou uma estratégia para a abertura de lojas franqueadas. "A partir daí teríamos de cortar mais custos e manter o plano das franquias, que já estava pronto", diz. "Foi quando percebi que o projeto Michel e o projeto Fotoptica não caminhavam mais juntos." A solução estava logo ali: em junho deste ano, aos 46 anos, Brull tornou-se franqueado da rede que dirigia. "Hoje, os aspectos mais importantes para mim são autonomia e a chance de trabalhar em algo que me dê prazer, que eu possa ver crescer." Ele possui três lojas em Campinas, no interior de São Paulo, e tem planos de incorporar outras.

    FUGINDO DOS INCÊNDIOS

  • Há um ano, Jacques Wladimirski, de 42 anos, deixou uma carreira de duas décadas em grandes empresas, como Black & Decker, DirecTV e Intelig, para fundar a Golf & Gym, uma academia e escola de golfe voltada para eventos de negócios. Seu último cargo tinha sido de diretor-superintendente da Líder Táxi Aéreo. Wladimirski lembra-se de que se decepcionou com o mundo corporativo pela primeira vez ao ver um trabalho de um ano à frente da UUNet, prestadora de serviços de transmissão de dados, ir por água abaixo quando a controladora WorldCom decidiu fundi-la com a Embratel. "As companhias perderam a visão de planejamento estratégico", diz. "Em geral, a rotina diária é administrar incêndios e não entender o que e por que está pegando fogo."

    AS METAS IMUTAVEIS

  • Em abril deste ano, Vanderlei Rigatieri Jr., de 41 anos, enviou uma mensagem aos colegas informando sua saída da presidência da subsidiária brasileira da Avaya, fabricante americana de equipamentos para telecomunicações. "Saí para procurar um ambiente em que não imperassem as metas do tipo tiro de canhão, que não mudam de rota", diz Rigatieri. "Se você diz para a matriz que a realidade local é diferente, a resposta é: Estou pouco ligando. Esse tipo de postura gera insatisfação. As pessoas tendem a se tornar mais agressivas. A pressão de curto prazo contamina a estratégia." Hoje Rigatieri é sócio e diretor-geral da DGX, uma prestadora de serviços de tecnologia.

    SEM ESPAÇO PARA IDÉIAS

  • Márcio Xavier, de 37 anos, recorda que participou, há alguns anos, de um projeto pioneiro numa grande fabricante de fragrâncias européia. A idéia era enviar pesquisadores à Amazônia para trazer novas essências. Mas o projeto não saiu do papel. "As empresas estão cada vez mais condicionadas à competição por custos. As decisões são sobretudo financeiras", diz Xavier. "A ordem subliminar é arriscar o mínimo para garantir a própria sobrevivência. Em geral, não tem havido muito espaço para desenvolver rapidamente novas idéias." Em março do ano passado, ele deixou a diretoria para a América Latina da fabricante de fragrâncias para fundar, com três amigos, a Anantha, produtora de cosméticos e perfumes, baseada em São Paulo. Em apenas um ano, a Anantha já lançou uma linha de três perfumes com a marca dos cantores Zezé di Camargo e Luciano e prepara-se para lançar uma linha de cosméticos com a marca do esportista Amyr Klink.

    A DITADURA DOS TRIMESTRES

  • O clímax da carreira corporativa de Ricardo Cidale, de 41 anos, ocorreu quando foi promovido à vice-presidência comercial da matriz da empresa de tecnologia Real Networks, nos Estados Unidos. Poucos meses depois, no entanto, Cidale começou a questionar o rumo de sua vida profissional. "Vivia de trimestre em trimestre sem planos de médio e longo prazo", diz. "Percebi que, se continuasse ali, iria enferrujar o que aprendera sobre planejamento estratégico." Desde setembro, Cidale é conselheiro de empresas emergentes, como as de tecnologia Gemco e Automatos. E mora em Búzios, no litoral do Rio de Janeiro, com a mulher e o filho.
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