Carreira

Não deixe a complacência descarrilhar sua carreira

Como aguçar sua agilidade de aprendizagem e assumir riscos positivos

Cultivar e manter uma rede de contatos forte e ativa pode ajudá-lo a se adaptar às tendências profissionais mais amplas em todos os setores (Thinkstock/Thinkstock)

Cultivar e manter uma rede de contatos forte e ativa pode ajudá-lo a se adaptar às tendências profissionais mais amplas em todos os setores (Thinkstock/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 22 de dezembro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 22 de dezembro de 2018 às 08h00.

Todos nós queremos chegar no trabalho, nos instalar e fazer um bom trabalho. Mas o que acontece quando esse conforto se transforma em complacência? De acordo com Carter Cast, professor clínico de inovação e empreendedorismo da Kellogg School, as pessoas que ficam muito à vontade podem não se sentir seguras e protegidas por muito tempo. Pelo contrário, podem estar prestes a se descarrilhar profissionalmente.

Carter Cast, autor de The Right (and Wrong) Stuff: How Brilliant Careers Are Made—and Unmade (As Coisas Certas (e Erradas): Como Se Faz – e Se Desfaz – Carreiras Brilhantes, na tradução livre do título) refere-se a pessoas que se tornaram complacentes e resistentes à mudança em seu papel de funcionários “Versão 1.0”, que tendem a não mais serem curiosos, evitam assumir riscos e querem que tudo fique exatamente do jeito que está.

Na verdade, no ambiente de trabalho moderno, a incapacidade de se adaptar pode ser fatal.  “É preciso encontrar formas de se manter atualizado, especialmente nos dias atuais com o intenso ritmo de mudanças em tecnologia", diz Cast. “A ruptura está por toda a parte."
Assim, quais passos você pode tomar para impedir que as tendências da Versão 1.0 interfiram na evolução da sua carreira? Carter Cast oferece cinco dicas.

Entenda o novo cargo

Muitas pessoas descobrem que têm problemas de adaptação depois de serem promovidos para um cargo mais importante.  “Elas são promovidas e o chefe pensa: 'Elas eram tão boas que foram promovidas. Vão ficar bem,'” diz Carter Cast. Na verdade, novos cargos têm exigências diferentes e
formas diversas de avaliar o sucesso. Portanto, quando ganha uma promoção, é importante lembrar sempre que o que funcionou no cargo anterior provavelmente não seja a fórmula bem-sucedida para o novo cargo.

No papel de funcionário recém-promovido, dedique-se para ficar a par das expectativas do seu supervisor. “Pergunte ao chefe: ‘Nesse novo cargo, o que eu devo fazer em dois anos para que você acredite ter sido uma boa jogada me promover? Quais as principais
métricas de sucesso que devo buscar?'” diz Cast. Ele recomenda que, após a promoção, entre também em contato com outras pessoas
que passaram por uma transição semelhante para entender as expectativas do cargo e da organização. “Pergunte a elas: 'Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao passar para esse nível? Que conselho você me daria sobre essa transição? Com quais departamentos e pessoas eu devo me alinhar?'”

Entretanto, nem sempre é fácil conseguir conselhos honestos dos colegas. À medida que se assume funções mais elevadas hierarquicamente, não apenas se recebe menos feedback, mas também recebem menos feedback “verdadeiro”, já que agora são os chefes, ou quase chefes, e alguns colegas de trabalho podem não se sentir à vontade para ser sincero com um colega a quem possam vir a se reportar no futuro.
Mesmo assim, você não deve desistir se quiser se sair bem em seu novo cargo e se quiser receber outras promoções no futuro.

Aumente sua agilidade de aprendizagem

Carter Cast relembra estar em uma reunião com um gerente de vendas que se recusou a entender as plataformas de redes sociais para encontrar novos clientes, acreditando que essas plataformas eram da alçada da equipe de marketing. “Ele disse: 'Não é preciso entender todo esse papo de marketing de rede. Vender é uma atividade cara a cara. É um esporte de contato.’ Eu respondi: 'Sério? Com todas as possibilidades de
geração de leads que o marketing digital oferece, será que você não precise entender e usá-lo?’”

Como muitas pessoas da Versão 1.0, o gerente de vendas não tinha o que Cast chama de “agilidade de aprendizagem,” ou seja, a capacidade de desenvolver e aplicar rapidamente novas habilidades. A agilidade de aprendizagem é crucial para aqueles que buscam cargos de gerência sênior. A maioria dos gerentes bem-sucedidos está constantemente experimentando novas ideias, aprendendo com os clientes e com a concorrência. São também reflexivos, pois examinam criticamente seus esforços passados e buscam feedback de outras pessoas para melhorar. No entanto, essa característica pode enfraquecer à medida que as pessoas chegam ao meio da carreira. Este é um momento em que se sentir confortável fazendo tudo do mesmo jeito que sempre fez pode significar estagnação. Assim, como é possível manter o que Cast chama de “mentalidade de principiante”?

Aqui, Cast gosta de citar a máxima do fundador do LinkedIn, Reid Hoffman: "Se considerar constantemente em estado beta ajuda muito", o que significa ser preciso se esforçar para adquirir novas habilidades que possam vir a ajudar mais tarde. Se a pessoa trabalha em vendas, por exemplo, ela poderia se dedicar a entender como a equipe de marketing potencializa seus ativos de marketing de rede. O aperfeiçoamento dessa mentalidade de descoberta não precisa se limitar apenas ao local de trabalho. Uma simples mudança de trajeto para o trabalho ou um almoço com um colega que você não conhece muito bem pode desafiá-lo a pensar de forma diferente.

Identifique suas áreas de resistência inata

Há algum tópico em particular, ou um colega específico, que parece irritar você constantemente? Caso afirmativo, então você pode ter o que Cast chama de “área de resistência inata”. “Provavelmente esta é uma área de crescimento que você precisa analisar," diz ele.
Se essas áreas forem deixadas de lado, elas podem sufocar o crescimento profissional. Por um lado, discordar frequentemente de uma pessoa ou ideia específica pode fazer você se parecer inacessível e não disposto a considerar as ideias dos colegas. Além disso, Cast adverte que ter um grande número desses gatilhos significa que você possa estar gastando muito tempo e energia com o que já sabe, e que não tem tempo suficiente para estar aberto ao que poderia aprender.

Cast sempre fala para seus alunos sobre a ideia de uma relação entre aprendizagem e alavancagem, ou o tempo que se gasta aprendendo em relação ao tempo que gasta para potencializar o que já se sabe. No início da carreira, diz Cast, a relação de aprendizagem e alavancagem deve ser de aproximadamente 70:30. Ao longo da carreira, a relação pode se aproximar de 60:40, mas não deve ficar abaixo disso, alerta
Cast.  “Eu quero constantemente descobrir novas formas de sentir estar aprendendo novas habilidades e adquirindo novos conhecimentos.”

Luta contra a aversão ao risco

As pessoas Versão 1.0 tendem a serem pessoas avessas ao risco. Embora a atenção aos detalhes e a mitigação de riscos serem conceitos importantes, a aversão ao risco pode ter um efeito paralisante em um contexto de negócios, em que experimentar coisas novas e fracassar é inerente a qualquer trabalho.

“As pessoas Versão 1.0 precisam adotar a mentalidade de 'pensamento enxuto' para atualizar seu pensamento e testar novas ideias”, diz Cast. “[O CEO da Amazon], Jeff Bezos, realiza testes pilotos e testes A/B constantemente, desenvolvendo hipóteses e protótipos e, em seguida, testando-os rapidamente com os clientes e em mercados de teste.” As pessoas Versão 1.0 devem se sentir à vontade ao compartilhar seus próprios “produtos mínimos viáveis” com os principais interessados, que podem oferecer insights sobre como atualizar e melhorar o produto no futuro. Se esperar até que um produto tenha todas as características desejadas antes de compartilhar seu trabalho com outra pessoa, Cast diz que você esperou demais.

Assim, como uma pessoa Versão 1.0 avessa ao risco sabe quando dizer “agora está bom” e obter feedback sobre seu trabalho? Cast se esforça para considerar o pior cenário se ele compartilhar seu trabalho agora em comparação ao pior cenário se ele adiar. “Muitas vezes, a prevenção do risco é a pior opção", escreve ele.

Expanda sua base de apoio

Um perigo de uma mentalidade Versão 1.0 é que, embora você possa achar que entendeu muito bem tudo ao seu redor, sua função pode estar mudando ou até mesmo desaparecendo completamente bem debaixo do seu nariz. Cultivar e manter uma rede de contatos forte e ativa pode ajudá-lo a se adaptar às tendências profissionais mais amplas em todos os setores. Um certo dia, quando Cast estava com trinta e poucos anos, ele chegou ao trabalho e ficou sabendo que o cargo que ocupava estava sendo eliminado devido a uma reorganização na sua divisão. De imediato fez uma ligação para um mentor na sede da empresa e, em questão de semanas, conseguiu um novo emprego.

Pesquisas de gestão mostram que pessoas altamente bem-sucedidas tendem a ter uma sólida base de apoio, o que Cast descreve como uma rede de conhecimento de alta velocidade de amigos e colegas em quem confiam para obter informações e ajuda.  Uma rede de contatos forte e diversificada pode ajudá-lo a se recuperar após um desafio ou uma reorganização. Para consolidar sua própria base de apoio, Cast recomenda fazer uma lista das principais tarefas exigidas pelo seu cargo. Ao lado de cada uma, anote as pessoas da sua organização que podem ajudar você a ter sucesso
nessa atividade específica. Em seguida, faça a si mesmo algumas perguntas sobre cada pessoa nessa lista: Seu relacionamento com elas é forte? Você conhece as metas e objetivos delas? Como você pode ajudá-las a alcançar esses objetivos?

Quando você ajuda outras pessoas a avançar, elas vão querer reciprocar a ajuda, diz Cast. Isso cria um círculo de reciprocidade que pode ser importante para uma carreira de sucesso.  “Muitas pessoas estão focadas nas tarefas à sua frente, e simplesmente não percebem
até que ponto as empresas são um conjunto complexo de interdependências", diz Cast. “Assim, é preciso descobrir, quando estiver mapeando seu trabalho e olhar para a conjuntura, qual o seu nível de conexão?"

Texto publicado com a permissão da Northwestern University (em representação da Kellog School of Management). Publicado originalmente no Kellogg Insight.

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