Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.
A necessidade de desenvolver o trabalho em equipe e a diminuição de níveis hierárquicos lançaram na confusão uma empresa que atendi há cerca de um ano. Nas palavras do diretor que nos procurou para pedir ajuda: "Ninguém mais quer saber de obedecer a ordens, todos se acham autônomos para tomar decisões. E, se buscamos repreender essas atitudes, ouvimos um discurso pronto sobre empreendedorismo interno, valorização da equipe, horizontalidade da empresa. Muitas vezes, isso acaba em demissão. Criamos um monstro!"
Monstro, mesmo, tive de concordar. Estava claro que havia uma grande deformação dos conceitos e das práticas de trabalho em equipe e horizontalidade na empresa. O pressuposto: no trabalho em equipe, todos devem decidir, e a própria figura do chefe deixa de fazer sentido. É um pressuposto falso mas que pode prosperar estimulado pelas próprias chefias.
O que pode ocorrer é que, após um processo de reorganização gerencial, as chefias fiquem inseguras a respeito de seu próprio papel e enfatizem tanto a necessidade de compartilhar responsabilidades que acabam negando sua própria função. Do outro lado, muitos profissionais vêem nesse novo ambiente uma chance para mostrar seus talentos e ganhar espaço. Viram -- ou tentam virar -- verdadeiros tratores. E, assim, o que era para ser um cenário de colaboração vira uma guerra de projetos pessoais e de competitividade predatória.
Nosso trabalho, no caso que mencionei, foi o de reverter essas distorções. A chave para isso foi a compreensão de que trabalhar em equipe não significa nivelar todos os profissionais: há atribuições específicas, regras e subordinações que não podem ser destruídas. É certo que ocorrem mudanças nos procedimentos e nas formas de trabalho, mas isso não quer dizer que cada um pode decidir o que bem lhe aprouver.
Essa compreensão deve partir das chefias. O trabalho em equipe não significa que o chefe deixa de existir -- na verdade, ele se torna mais importante do que nunca. Mas, diferentemente de um modelo autoritário, esse chefe não manda, ele decide. A equipe enfrenta os problemas, propõe soluções, encontra novos caminhos. O chefe atua como mediador do processo. Cabe a ele decidir entre as opções existentes, definir os melhores cronogramas, bater o martelo a respeito de uma determinada inovação. Todos têm espaço e palavra, mas ele tem a última palavra.
O trabalho com essas questões permitiu que as chefias daquela empresa deixassem de ser reféns do processo de modernização. Num primeiro momento, isso levou alguns a uma postura autoritária: por insegurança, haviam adotado um discurso democratizador no qual não acreditavam e agora queriam voltar à posição de poderosos chefões. Alguns não tinham perfil para funcionar no novo modelo e acabaram substituídos. A maioria, no entanto, evoluiu na compreensão de seu papel. Com isso, os próprios chefes passaram a difundir essa compreensão em suas equipes.
Ensinar, mediar os processos de discussão e decidir (em lugar de mandar) -- tudo isso faz parte do perfil da chefia no trabalho em equipe. Se você ocupa uma posição de comando ou se sua empresa está em fase de modernização, tenha isso em foco. Ou vai ficar enlouquecido entre a tentação de ser um ultrapassado executivo autoritário ou um tímido executivo que não consegue mais ver a utilidade da sua própria posição.
Simon Franco é CEO da Simon Franco/TMP Worldwide do Brasil e autor de Criando o Próprio Futuro e O Profissionauta