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Juliana Amorina: o que é o Transtorno Específico de Aprendizagem e qual sua relação com o bullying?

Cerca de 10 milhões de brasileiros apresentam a condição e podem se beneficiar de diagnóstico precoce 

É preciso proteger as vítimas de bullying e ampliar a conscientização da  população sobre esse tipo de violência (martin-dm/Getty Images)
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Publicado em 11 de abril de 2024 às 10h00.

Por Juliana Amorina*

Com o intuito de proteger as vítimas de bullying e ampliar a conscientização da  população sobre esse tipo de violência, que ocorre de forma intencional e sistemática  por meio de agressões físicas, psicológicas e morais, seja no ambiente virtual ou real,  tivemos no início desse ano a criação da Lei nº 14.811/2024 que inclui no código penal  o Bullying e o Cyberbullying como crimes, penalizando quem comete o ato e aqueles  que são coniventes com a ação.

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Essa medida sinaliza a relevância do assunto e vem como reforço para outras  iniciativas, como a Lei Antibullying (nº 13.185/2015), que pressupõe a criação de  programa de combate à intimidação sistemática ou bullying. A medida adotada em  2015 foi incorporada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBD)  levando o assunto para dentro das escolas, a fim de promover medidas para a  conscientização, prevenção e coibição do bullying.

Movimentos como esse são importantíssimos e aproveitando que o dia 7 de abril foi  instituído o “Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola” e o “Dia  Mundial da Saúde” ,gostaria de trazer luz para um recorte muito significativo dentro  desse tema, a importância do diagnóstico dos Transtorno Específico de  Aprendizagem (TEAp).

O que é o TEAp?

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5  (APA, 2013) cerca de 5% a 10% da população mundial apresenta TEAp, condição  neurobiológica que impacta a aprendizagem e que pode refletir em déficits de  diversas funções cognitivas. A falta de diagnóstico predispõe a rotulações diversas,  podendo ocasionar situações de humilhação e discriminação, pois sem saber da  condição, as dificuldades vivenciadas por quem convive com esse transtorno podem  ser mal interpretadas por educadores e colegas.

O que enfrentam as pessoas que possuem TEAp?

Em levantamento feito no Brasil, 80% dos responsáveis entrevistados notaram impacto emocional negativo em seus filhos, diagnosticados com TEAp, entre os  relatos aparecem casos de tristeza , ansiedade e baixa autoestima. A informação foi  apresentada no relatório “Perfil do transtorno específico da aprendizagem no Brasil”,  realizado pela Cisco, Instituto iT Mídia e Instituto ABCD, que ainda trouxe um retrato  nacional dos desafios enfrentados por pessoas com TEAp e seus familiares.

Sintomas para ficar de olho

No caso dos TEAp, os principais sinais aparecem nos anos iniciais do Ensino  Fundamental, quando os estudantes começam a aprender a ler, calcular e a escrever,  habilidades relacionadas respectivamente a dislexia, discalculia e disortografia. Por  isso, a identificação dos sinais de risco para o diagnóstico nessa fase do  desenvolvimento é tão relevante. E a parceria entre escola e profissional de saúde é  essencial, pois o convívio diário permite análises que o profissional da saúde não terá  em consultas pontuais.

A identificação precoce do transtorno, o encaminhamento para o diagnóstico e o apoio educacional na rede de ensino já tem respaldo legal por meio da Lei nº14.254, que  apresenta como responsabilidade compartilhada das escolas, das famílias e dos  serviços de saúde a atuação coordenada para garantir o cuidado e a proteção dessas  crianças. Apesar de ser instituída em 2021, a aplicação real ainda anda a passos  lentos. Mas entendemos que há possibilidade de progresso, pois com a previsão legal  é esperado maior cobrança da população e das entidades sociais.

Todavia, vale reforçar que não basta apenas incluir garantindo a matrícula,  precisamos integrar os estudantes, profissionais da educação e comunidade escolar.  As instituições de ensino precisam estar preparadas para receber esse público e  capacitar seus colaboradores e educadores para apoiar a aprendizagem desses  alunos. Só com esse trabalho conjunto, conseguimos coibir que jovens com dislexia  ou discalculia sofram bullying dentro e fora da comunidade escolar.

*Juliana Amorina é diretora-presidente do Instituto ABCD.

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