Com nome de Temer tatuado, Wladimir Costa é um deputado simbólico
Costa quer salvar Temer de uma posição na qual ele próprio se encontra: é réu no Supremo Tribunal Federal
Gian Kojikovski
Publicado em 1 de agosto de 2017 às 21h10.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 21h11.
Brasília – No primeiro dia da volta aos trabalhos dos deputados e senadores depois do recesso, dois temas eram os mais debatidos no Congresso. Um, em tom de seriedade, sobre como será a votação da denúncia contra o presidente Michel Temer , nesta quarta-feira. O outro, de brincadeira, sobre a veracidade da tatuagem em homenagem ao presidente que o deputado Wladimir Costa (SD-PA) fez em seu ombro durante o final de semana.
“Não vai sair nunca mais”, repetia toda vez que era perguntado sobre a possibilidade de ter feito um desenho temporário, chamado de tatuagem de henna. “É uma homenagem ao melhor presidente da história do Brasil”. Durante a manhã, em um programa da Rádio Gaúcha, foi questionado a respeito de uma resposta do próprio tatuador, que afirmou que a tatuagem é falsa, e disse que acha “que o tatuador estava mais bêbado que eu”.
Diversos outros tatuadores consultados por veículos de imprensa garantiram que a tatuagem é falsa, mesmo que Costa diga o contrário. A aposta da maioria dos deputados, como não poderia deixar de ser, era de que essa é mais uma brincadeira do paraense.
“O Wladimir é folclórico. Ele faz essas coisas para chamar atenção e faz isso muito bem”, diz Paulinho da Força (SD-SP), presidente do partido de Costa. “Pode ver que o jeito dele dá votos, tanto que está aí faz tempo”. De fato, Costa está em seu quarto mandato como deputado federal. Em 2014, foi o sexto mais votado do estado, com 141.213 votos.
Além de folclórico, o deputado paraense é polêmico. Em meados de julho, falou abertamente sobre como faz para conseguir verbas do governo federal. Em um momento em que Temer está fragilizado pela denúncia que será votada nesta quarta-feira, Costa disse que “faz cara de coitadinho” para atender às demandas de seu estado. Virou símbolo de um momento de vale-tudo pela sobrevivência do governo.
“Somente alguns parlamentares hipócritas não vão assumir, mas é óbvio que, após a reunião com o presidente, a gente vem com aquela história: ‘mas, presidente, eu gostaria de trazer demandas do estado, do município, do governo do estado’. A gente aproveita o barco e pede”, disse em entrevista ao jornal O Globo. O vídeo com a entrevista fez sucesso nas redes sociais e foi chamado pelo jornal como “Manual do Fisiologismo”. A tática tem dado resultado: a ONG Contas Abertas revelou que Costa recebeu, desde janeiro, 7 milhões em emendas do governo.
Réu no Supremo
Costa quer salvar Temer de uma posição na qual ele próprio se encontra: é réu no Supremo Tribunal Federal. No seu caso, a acusação é de peculato. Junto com seu irmão, Wlaudecir Antônio da Costa Rabelo, é acusado de peculato por ter ficado com dinheiro do salário de servidores fantasmas que eram lotados em seu gabinete entre 2003 e 2005.
As alegações finais da Procuradoria-Geral da República foram enviadas ao Supremo na sexta-feira passada, dias antes da bebedeira do deputado resultar em uma tatuagem com o nome do presidente. O relator é o ministro Edson Fachin, o mesmo da Lava-Jato, que dará prazo para que a defesa de Costa se manifeste antes do julgamento, que não tem data prevista. À imprensa, Costa tem dito que vai “sepultar a carreira política” se for condenado.
O deputado teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Pará por arrecadação e gastos ilícitos em sua campanha eleitoral. Ele recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral para evitar a cassação definitiva.
Em seu discurso na sessão do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, envolto em uma bandeira do Pará, o deputado explodiu um tubo de confetes no plenário. Desta vez, o medo é que Wladimir queira mostrar sua tatuagem em algum momento. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Dem-RJ), chegou a perguntar – em tom de brincadeira com fundo de verdade – para Paulinho da Força se é possível que isso aconteça.
Para Maia, Paulinho descartou a possibilidade. Para a reportagem de EXAME, disse rindo que “não dá para controlar o Wladimir”. “A gente até tenta quando está perto, mas quando está longe é impossível.” Até Temer perguntou para o presidente do Solidariedade se a história da tatuagem, que todos estavam comentando na segunda-feira, era verdadeira.
Se a postura do paraense é uma incógnita, o que ele falará durante o discurso não é. Seguirá defendendo o presidente, criticando o PT e o Ministério Público. “O Janot reuniu tudo que tinha contra o presidente e fez essa denúncia minguada. Para as outras que ele promete, terá menos fundamentos ainda”, disse a EXAME. “Isso é coisa do PT, que quebrou o país e agora está magoado porque o presidente diminuiu o desemprego, a inflação e melhorou a economia”.
Costa duvida até mesmo dos institutos de pesquisa que colocam Temer com apenas 5% de aprovação popular – o pior índice da história. Com essa rejeição, o medo da maioria dos deputados é sair queimado ao apoiar publicamente o presidente. O paraense passa ao largo disso. “O que vale, para mim, é o DataWlad, que é o que vejo quando estou nas ruas. Posso te mostrar agorinha 10 vezes que Ibope e Datafolha erraram em pesquisas para governo e prefeituras”.
O deputado garante que fará outra tatuagem, se preciso for, em caso de nova denúncia da Procuradoria contra Temer. Quem o conhece diz que tudo é possível. Tudo mesmo. Ele chocou a Câmara quando, no ano passado, votou pela cassação do ex-deputado Eduardo Cunha, de quem era fiel escudeiro, no Conselho de Ética da Câmara. O caso de amor entre Temer e Wlad será eterno, mas só enquanto dure.